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Sobre Palavras Por Sérgio Rodrigues Este blog tira dúvidas dos leitores sobre o português falado no Brasil. Atualizado de segunda a sexta, foge do ranço professoral e persegue o equilíbrio entre o tradicional e o novo.
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Crônica do ano: Preconceito linguístico na balada

Estávamos no fim de maio, quando já tinha ficado claro que a polêmica sobre “o livro do MEC”, ou “o livro que ensina português errado”, tinha dividido o país em duas facções igualmente exaltadas e surdas aos argumentos contrários. Sim, é óbvio que se pode questionar legitimamente a validade pedagógica de uma abordagem “linguística” do […]

Por Sérgio Rodrigues
Atualizado em 31 jul 2020, 09h51 - Publicado em 25 dez 2011, 09h00
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  • Estávamos no fim de maio, quando já tinha ficado claro que a polêmica sobre “o livro do MEC”, ou “o livro que ensina português errado”, tinha dividido o país em duas facções igualmente exaltadas e surdas aos argumentos contrários. Sim, é óbvio que se pode questionar legitimamente a validade pedagógica de uma abordagem “linguística” do português diante de alunos carentes de domínio da norma culta – ninguém merece ser chamado de preconceituoso ou desinformado por fazer isso. Por outro lado, como logo se veria, o mundo não estava acabando. Foi em meio a esse clima de Fla x Flu que um certo casal de quase ficantes se desentendeu num bar, tarde da noite, num literal desencontro de línguas. Coisa triste, no fundo.

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    – E aí, gato, nós vai pra sua casa ou pra minha?

    – O quê?! Hahaha, ufa, você quase me pegou.

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    – Como assim, quase te peguei?

    – Falando desse jeito aí, “nós vai”. Sabe como é, a gente acaba de se conhecer… Por meio segundo eu pensei que fosse sério.

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    – E se fosse sério?

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    – Deixa pra lá, minha linda. Lá em casa tem um prosecco na geladeira esperando a gente.

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    – Não, vamos com calma que agora é sério mesmo. Você está sendo submetido a um teste, atenção: e se eu fosse o tipo de mulher que fala “nós vai”, “dez real”, “os livro”, isso ia fazer diferença?

    – Nossa, mas é lógico, né? Tremenda gata bem vestida, maior pinta de universitária… Aliás, você é universitária?

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    – Não interessa o que eu sou, estou indo pegar um táxi.

    – Ei, espera aí! O que é que eu fiz de errado?

    – Ah, nada. Só se revelou um porco chauvinista linguístico, como tantos que existem por aí. Uma pena, tão bonitinho…

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    – Você só pode estar de brincadeira! Então eu sou obrigado a dormir com uma mulher que fala “nós vai” só pra mostrar que não tenho preconceito?

    – Você não é obrigado a nada, querido. Nem eu, ainda bem. Cada um faz o que quiser com a sua língua, e eu lamento que as nossas tenham se encontrado neste bar.

    – Mas isso é uma completa maluquice! A gente estava no maior clima bom, não faça uma coisa dessas.

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    – Boa noite.

    – Escuta, espera, me dá uma chance. Você quer que eu peço desculpas?

    – “Que eu peça desculpas”, animal! Cadê o subjuntivo?

    – Hã?

    – Quer ser um elitista preconceituoso, pelo menos aprende a falar direito.

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