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Por Sérgio Rodrigues
Este blog tira dúvidas dos leitores sobre o português falado no Brasil. Atualizado de segunda a sexta, foge do ranço professoral e persegue o equilíbrio entre o tradicional e o novo.
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Chamar a atenção ou chamar à atenção?

“Qual é a expressão correta: chamar a atenção de alguém ou chamar alguém à atenção?” (Heraldo Marques) A consulta de Heraldo parece simples – e não deixa de ser simples, pois, como veremos, as duas formas estão corretas e são rigorosamente intercambiáveis. Mas é das mais interessantes também, por iluminar uma daquelas zonas escuras em […]

Por Sérgio Rodrigues
Atualizado em 31 jul 2020, 06h38 - Publicado em 21 mar 2013, 16h57

“Qual é a expressão correta: chamar a atenção de alguém ou chamar alguém à atenção?” (Heraldo Marques)

A consulta de Heraldo parece simples – e não deixa de ser simples, pois, como veremos, as duas formas estão corretas e são rigorosamente intercambiáveis. Mas é das mais interessantes também, por iluminar uma daquelas zonas escuras em que consultores gramaticais apegados demais à tradição lusitana se esforçam para condenar, sem maiores reflexões, uma opção legítima do português brasileiro.

Antes de prosseguir convém deixar claro que, entre as muitas locuções que envolvem a palavra “atenção”, estamos falando apenas das que têm o sentido de “repreender, advertir, censurar, admoestar”. Nesse caso, “chamar a atenção de (alguém)” é a expressão mais empregada no Brasil, enquanto “chamar (alguém) à atenção”, que pode ser considerada uma construção mais clássica, agrada ao paladar dos portugueses.

Curiosamente, essas preferências nacionais são tão arraigadas que até bons lexicógrafos chegam a ignorar a construção privilegiada do lado oposto do Atlântico. O Houaiss registra, para tal acepção, apenas a forma “chamar a atenção de” – a mesma que volta e meia vemos estigmatizada como “erro” por análises lusófilas. Já o dicionário da Academia das Ciências de Lisboa considera exclusiva, com o sentido de “fazer um reparo, uma crítica”, a forma “chamar (alguém) à atenção”, de construção similar à de expressões como “chamar à ordem” e “chamar à razão”.

Uma espiada nos mecanismos por trás dessas locuções ajuda a compreender tanto sua diferença quanto sua alma comum. É legítimo supor que a acepção de repreender surgiu como expansão semântica de outra, esta mais colada ao sentido original de atenção: “chamar a atenção” como sinônimo de alertar, fazer notar, lembrar, apontar.

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Ora, esta última locução é empregada de forma idêntica em Portugal e no Brasil: “Chamou a atenção do filho para os estudos” é uma frase sobre a qual não paira controvérsia e que também pode ser formulada de forma um pouco diferente, sem prejuízo semântico algum: “Chamou o filho à atenção para os estudos”.

Como ninguém ignora, a distância entre “apontar, alertar” e “repreender, admoestar, criticar” é bem pequena, questão de ênfase: para não fugir do nosso exemplo, basta que o tal filho esteja pouco disposto a encarar os estudos. Isso deixa claro por que as formas “chamar a atenção (do filho)” e “chamar (o filho) à atenção” chegaram, em seu desenvolvimento semântico, exatamente ao mesmo lugar.

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