Olá, Sérgio. Sou fã do seu blog ‘Sobre Palavras’ e leio todos os seus posts. Sempre associei a palavra ‘caramba’ ao estereótipo do mexicano, com a frase ‘¡Ay, caramba!’ indicando surpresa ou exclamação. No entanto, vivi no México durante quase cinco anos, em Guadalajara, e nunca ouvi essa expressão, uma vez sequer. A palavra existe no espanhol, mas não é tão comum como eu esperava. Você usou essa palavra nos seus artigos ‘A microlinguística da memória’ e ‘Infinitivo pessoal, que complicação é essa?’. De onde vem a palavra ‘caramba’?’” (Fabiano Costa)
A interjeição “caramba” foi realmente importada do espanhol, embora talvez tenha mais circulção hoje em português do que em sua língua de origem. Fez sua estreia oficial em nosso idioma no dicionário do Frei Domingos Vieira, em 1873, segundo informa o Houaiss, que dela diz que “expressa admiração, surpresa ou ironia”. Isso parece um tanto redutor da gama de estados de espírito que caramba pode expressar, mas interjeições não costumam dar vida fácil aos dicionaristas.
O dicionário da Real Academia Espanhola nomeia dois outros sentimentos – “estranheza ou enfado” – e informa que caramba é um termo eufemístico, um palavrão disfarçado, substituto de carajo. O que o torna um membro da grande família dos tabuísmos atenuados, nomes chulos que a língua deforma para que eles possam transitar em ambientes familiares, como cacilda, caraca e o mais disfarçado de todos, o famoso puxa.
Como caramba, a interjeição puxa, às vezes empregada também na locução “puxa vida”, veio do espanhol pucha, com a troca do t pelo ch escondendo a prostituta que estava na origem da exclamação. Curiosamente, os mesmos dicionários respeitáveis que registram tudo isso são tímidos ao falar da interjeição poxa, esta um brasileirismo. Informam que poxa é uma variante de puxa, o que é verdade, mas se omitem sobre a evidente mudança de palavrão provocada pela troca da vogal.
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