“Prezado Sérgio, a expressão ‘até então’ tem embutida em si algo de vaguidão, mas isso não significa que não possa ser empregada erradamente. Frequentemente a vejo ou ouço mal usada na mídia, por profissionais que têm a obrigação terem antenas sensíveis ligadas no idioma. Geralmente o fazem em contextos em que caberia melhor ‘até agora’ ou ‘até aqui’. Às vezes o mau uso de ‘até então’ pode ser muito irritante. Exemplo (real, de repórter de rádio cobrindo a inauguração de duplicação de acesso viário): ‘Faltam cinco minutos para a cerimônia de inauguração, e está subindo ao palanque o prefeito, para inaugurar esta melhoria urbana num local em que até então eram comuns imensos engarrafamentos’. Afinal, quais são os limites temporais para uso do ‘até então’? (David Waisman)
A consulta de David é de um tipo raro: já traz a resposta. Sim, claro que a frase do repórter de rádio que ele cita é desajeitada: “até então”, expressão que junta a preposição até com o advérbio então, significa “até aquele momento”. É inadequada, portanto, para se referir a um marco temporal situado no presente, ou seja, neste momento. “Até agora”, “até aqui” ou “até hoje” seriam as formas corretas nesse caso.
Se não funciona para falar do presente, a fórmula “até então” pode ser aplicada tanto ao passado quanto ao futuro. Passado: “Lembre que estávamos nos início dos anos 40, e até então ninguém tinha ouvido falar de biquíni”. Futuro: “Venha me visitar nas próximas férias. Até então já estará habitável o quarto de hóspedes”.
Vale lembrar que a palavra então, existente em português desde o século 13, veio do latim in (preposição) + tunc, advérbio que tem entre outros o sentido de “naquele tempo”.
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