São Paulo, uma cidade ingovernável
Na véspera do aniversário de São Paulo, fui à casa dos meus pais no interior para pegar alguns livros. Fuçando as estantes, encontrei “As cidades que dão certo”, de Rubens Figueiredo e Bolívar Lamounier. Eles julgam São Paulo como um exemplo de “cidade que dá certo” com uma “administração municipal inovadora”. O prefeito que mereceu […]
Na véspera do aniversário de São Paulo, fui à casa dos meus pais no interior para pegar alguns livros. Fuçando as estantes, encontrei “As cidades que dão certo”, de Rubens Figueiredo e Bolívar Lamounier. Eles julgam São Paulo como um exemplo de “cidade que dá certo” com uma “administração municipal inovadora”. O prefeito que mereceu tantos elogios era Paulo Maluf (PP), que desviou R$ 600 milhões da prefeitura. “Desviou” é eufemismo: ele roubou. (O livro não menciona essa parte.)
Além de roubar, Maluf estabeleceu um padrão de gastos peculiar para a prefeitura. Tirou dinheiro da área social e investiu em infraestrutura. (Veja a excelente dissertação de mestrado do economista Odilon Guedes sobre isso.) Infraestrutura para carros, é claro. Nada contra carros, mas não é óbvio que uma cidade pensada para eles não vai funcionar bem?
Na pontuação do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), São Paulo não está mal em relação às outras capitais brasileiras. Mas morar aqui não é fácil. Morar perto do trabalho é privilégio para poucos. A solução mais estridente para o problema do transporte municipal é um “passe livre” que não sairia de graça para ninguém.
Como sair disso? É quase impossível, se lembrarmos que políticos antes herdam políticas públicas de seus antecessores do que propõem (e implementam) novas soluções. É este o argumento de Richard Rose, em um texto clássico de administração pública.
Ele estuda a continuidade de políticas públicas na Inglaterra durante quatro décadas. Sua principal conclusão é que há um componente inercial na definição das políticas. Uma vez implementado, é difícil eliminar um programa – e ele terá consequências imprevistas a longo prazo. Ou seja: o melhor que um novo governante pode esperar é que o tempo passe e sobre algum dinheiro para fazer coisas novas durante seu mandato.
Essa conclusão é radical e precisa de comprovação empírica em São Paulo. Mas não é à toa que estamos vendo agora, na administração de Fernando Haddad (PT), imensa dificuldade em mudar a política de transporte da cidade. É impossível, na prática, desfazer túneis e avenidas.
Parafraseando Keynes, a longo prazo estaremos todos no trânsito.
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