O jornalista Juremir Machado se demitiu do programa “Bom Dia”, da Rádio Guaíba, que pertence ao Grupo Record em Porto Alegre, após o presidenciável Jair Bolsonaro (PSL) conceder entrevista com a condição de que apenas o apresentador falasse. Durante vinte e cinco minutos de entrevista com Bolsonaro, Juremir precisou ficar em silêncio, apenas ouvindo. Ao longo de dez anos que participou do programa, Juremir sempre foi autorizado a fazer perguntas e comentar.
“Só para avisar nossos ouvintes que o silêncio de vocês [demais jornalistas] foi uma condição do candidato, que queria conversar com o apresentador”, disse Rogério Mendelski, o âncora. “Podemos dizer que o candidato nos censurou?”, questionou Juremir. “Não, eu não diria isso”, respondeu Mendelski. “Por que nós não podíamos fazer perguntas?”, devolveu Juremir. “Eu achei humilhante e por isso estou saindo do programa. Foi um prazer trabalhar aqui dez anos”, disse Juremir, levantando-se e deixando o estúdio. A cena pôde ser vista também em vídeo, durante a transmissão pelo Facebook.
“Não podemos dizer nada. Foi uma condição do candidato. ‘Eu falo para você, Mendelski’. Foi o que ele disse”, falou o âncora ao vivo depois que o jornalista havia saído. O apresentador também falou que havia pedido desculpa aos demais participantes antes da entrevista. Nos bastidores, o clima é de constrangimento e apoio a Juremir.
A VEJA, Juremir disse que foi a primeira vez ao longo de sua carreira que isso aconteceu. Ele é doutor em Sociologia pela Universidade de Paris V, autor de diversos livros e tradutor de autores como Michel Houellebecq, Michel Maffesoli, Jean Baudrillard e Edgar Morin, além de professor de Comunicação na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS).
“A regra do jogo é que quem está ali, pergunta, opina, foi isso que sempre aconteceu. Não envolve a rádio, nem o jornal, nem a empresa. Me senti numa situação desagradável de não poder perguntar. É o segundo turno de uma eleição, ele é o candidato favorito nas pesquisas. Tem perguntas para fazer, por que não pode fazer? A explicação foi ‘porque o candidato não quis’, me sinto censurado por ele. É um candidato que tem dificuldade de enfrentar o contraditório, de enfrentar perguntas que não possam ser do agrado dele”, falou Juremir à reportagem.
O Juremir Machado continua trabalhando na empresa, onde mantém uma coluna diária no jornal Correio do Povo e participa de outros programas na Rádio Guaíba, como o “Esfera Pública”, conhecido pela pluralidade e entrevistas com políticos de todos partidos.
Na noite da última segunda-feira, 22, Jair Bolsonaro não aceitou dar entrevista ao tradicional programa “Roda Viva”, da TV Cultura, cuja bancada é formada por diversos jornalistas. Apenas o candidato Fernando Haddad (PT) concedeu entrevista. Bolsonaro também decidiu não participar de nenhum debate no segundo turno.