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Roda Viva: Haddad acena ao centro e diz que Bolsonaro ameaça democracia

Petista contesta compromisso democrático de adversário e chega a compará-lo a Adolf Hitler; ex-prefeito desconversa sobre Lula e Dilma e acena a Ciro

Por Guilherme Venaglia Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jun 2024, 16h40 - Publicado em 22 out 2018, 22h34

O candidato do PT à Presidência da República, Fernando Haddad, participou na noite desta segunda-feira 22 do programa Roda Viva, na TV Cultura. Em tom que parecia de lamento diante dos últimos resultados das pesquisas, Haddad reiterou diversas vezes que a sua campanha estava se dedicando principalmente a fazer um “alerta” sobre o adversário, Jair Bolsonaro (PSL), que julga ser uma ameaça concreta à democracia brasileira, acenando a ex-adversários e conclamando uma união contra o capitão.

Para embasar a sua argumentação, o ex-prefeito de São Paulo citou o que chamou de “credenciais” do deputado federal, controvérsias envolvendo a defesa da atuação do coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, identificado como um torturador durante a ditadura militar brasileira, o episódio da briga com a deputada federal Maria do Rosário (PT-RS) e a palestra a respeito de quilombolas e populações tradicionais, que rendeu a Bolsonaro uma denúncia por racismo – arquivada pelo Supremo Tribunal Federal (STF).

“Meu adversário é uma pessoa que cultua tortura e que tem, como seu herói, um dos mais bárbaros torturadores, que disse a uma colega de Congresso Nacional que ela não deveria ser estuprada [a petista Maria do Rosário], e que criticou quilombolas dizendo que deveriam pesados em arrobas, que não serviam nem para procriar”, além de outras situações envolvendo mulheres e minorias sociais, emendando que essas “credenciais”, na sua visão, não “habilitam [Bolsonaro] ao regime democrático”.

Questionado se considerava que a decisão das urnas, em caso de vitória de Bolsonaro, seria uma fraude, ele negou e retomou o discurso do “alerta”, comparando o candidato do PSL à líderes de regimes totalitários do último século, como o nazista Adolf Hitler e o fascista Benito Mussolini. “Os sociais-democratas que fizeram um alerta sobre o perigo de Hitler estavam errados? Os que alertaram contra Hitler e Mussolini? Bolsonaro não tem compromisso democrático”, reiterou.

Fernando Haddad, no entanto, se esquivou da resposta, quando confrontado com uma relação de declarações controversas de integrantes do PT – entre outras, as do ex-ministro José Dirceu (que falou sobre “tomar o poder”) e do deputado Wadih Damous (que já contestou o Supremo Tribunal Federal sobre a condução do caso do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva). Haddad se limitou a tratar com ênfase de um dos pontos contidos na pergunta que recebeu, a proposta de uma nova constituição, que já foi abandonada do seu programa de governo, na nova versão apresentada à Justiça Eleitoral.

Ele também foi instado a justificar as causas do aumento do “antipetismo” no Brasil e reconheceu que esse sentimento hoje é “um pouco maior”, o que relacionou com “erros e problemas”. Questionado especificamente sobre crimes eventualmente cometidos nos governos petistas, ele os admitiu de uma forma envergonhada, relacionado estes a uma questão a uma falta de “controle” sobre as estatais, em especial a Petrobras – prometendo, se eleito, estreitar esse acompanhamento.

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‘Frente democrática’

Sobre o discurso aparentemente mal sucedido, de que o PT gostaria de liderar uma “frente democrática” formada por ex-adversários, Haddad defendeu no Roda Viva os resultados das articulações petistas, citando a ex-ministra Marina Silva (Rede). Ela anunciou o voto, que chamou de “apoio crítico”, no petista justamente com base no discurso de que Bolsonaro representa uma ameaça ao sistema vigente.

O ex-prefeito ainda deu a entender que são apenas questões partidárias que impedem o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB), outro que tem feito críticas constantes e nesta mesma linha a Bolsonaro, de apoiá-lo. “Fernando Henrique, que não pode declarar apoio a mim por questões do seu próprio partido, tem demonstrado seu inconformismo”, argumentou.

Dentro dos partidos mais à esquerda, Haddad disse esperar “um alô” do ex-presidenciável Ciro Gomes (PDT) “esteja ele onde estiver”. O candidato petista afirmou que nutre esta expectativa até por ter sido um dos integrantes da legenda que, desde o começo do ano, mais tentou possibilitar uma coligação entre o PT e o PDT para as eleições de 2018.

Mesmo assim, Haddad ainda tentou contornar e evitar admitir um distanciamento mais claro, relembrando declarações de apoio em vídeo do senador eleito Cid Gomes (PDT-CE), irmão de Ciro que fez severas críticas ao partido de Haddad e a seus apoiadores durante um ato de campanha em Fortaleza.

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Lula e Dilma

Haddad, mais uma vez, desconversou também a respeito da possibilidade de um benefício, como uma graça ou indulto, que pudesse libertar o ex-presidente Lula. Condenado a doze anos e um mês de prisão, Lula cumpre pena desde abril na carceragem da Polícia Federal em Curitiba. “A única coisa que o ex-presidente quer é um julgamento justo nas Cortes Superiores, que é um direito dele, não um privilégio que o torna diferente de ninguém”, argumentou.

O candidato também falou sobre o governo da ex-presidente Dilma Rousseff (PT). Em tom mais severo, apontou erros na condução econômica durante a gestão Dilma e admitiu a responsabilidade da petista pela crise que atingiu o país principalmente a partir de 2015. Contemporizando, ele, no entanto, avaliou que esta só foi da dimensão que foi por uma crise política – conta que joga na oposição e suas “pautas-bomba”, no atual presidente Michel Temer (MDB) e no então presidente da Câmara Eduardo Cunha (MDB-RJ).

Estabelecendo uma diferença entre a política econômica que implementaria com adotada pela ex-presidente, Haddad fez questão de argumentar que uma das suas principais propostas, que chama de “reforma bancária”, seria diferente de medidas de interferência estatal no sistema financeiro. Ele diz que não se trata disso, mas de estímulos a concorrência, com bonificações diante da cobrança de juros mais baixos e apoio a novas instituições financeiras baseadas em tecnologia (as fintechs), a fim de diluir o alcance dos atuais bancos.

Haddad também deixou claro, que se eleito, não vai privatizar nenhuma das atuais 150 estatais brasileiras. Segundo ele, a Bolsa de Valores reage positivamente às propostas do guru econômico de Bolsonaro, o economista Paulo Guedes, para o tema, por interesses “especulativos” em adquirir o patrimônio público brasileiro a baixo custo. Para reduzir custos e conter déficits de algumas empresas, o petista propõe fundir algumas delas e cortar gastos administrativos.

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Campanha e fake news

O presidenciável argumentou que a estratégia do PT de diminuir a predominância do vermelho e aumentar a do verde-e-amarelo durante o segundo turno é uma prática padrão do marketing político do partido e foi utilizada nas outras quatro vezes que candidatos da legenda disputaram esta etapa. “Você tem que dar a ideia que não vai ser um governo só de um partido, se não você não conquista 50% mais um dos votos”, justificou.

Recentemente, Haddad afirmou que, caso fosse preso um empresário envolvido nas suspeitas de caixa 2 eleitoral relacionadas a disparos em massa no aplicativo WhatsApp, este entregaria todo o eventual esquema e permitiria a resolução da questão. A declaração foi contestada, uma vez que o PT sempre criticou parte das prisões adotadas na Operação Lava Jato, alegando que estas visavam apenas obter delações premiadas, que eventualmente se voltavam contra o partido por identificarem ser este o objetivo das autoridades de investigação.

Em defesa da sua fala durante o Roda Viva, o ex-prefeito negou ter defendido algum comportamento excessivo por parte desta investigação e que a sua posição era a da necessidade da execução de mandados de busca e apreensão em todas as empresas suspeitas de envolvimento, a fim de buscar o possível material fraudulento.

“Se fizéssemos busca e apreensão nas empresas que a Folha [jornal responsável por revelar o esquema] noticiou, conseguiríamos, com a ajuda do WhatsApp, descobrir quem pagou por aquilo”, diz. Para corroborar seu ponto, ele ainda citou, ironicamente, o próprio juiz Sergio Moro, da Lava Jato. “Há juízes que dizem que o caixa 2 é ainda pior que a corrupção porque corrói a democracia. E isso não sou quem está dizendo, é o Sergio Moro”.

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