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‘Se Lula for preso vira o novo Nelson Mandela’, diz Paulo Paim

VEJA publica nesta semana entrevistas com os senadores gaúchos Paulo Paim (PT), Lasier Martins (PSD) e Ana Amélia Lemos (Progressistas)

Por Paula Sperb
Atualizado em 4 jun 2024, 16h49 - Publicado em 26 dez 2017, 16h51

Para o senador Paulo Paim (PT-RS), 2017 foi o “pior ano de todos os tempos” na política. Na sua “retrospectiva”, o petista cita o decreto presidencial que ameaçou a Amazônia, o retrocesso no combate ao trabalho escravo, o teto de gastos públicos congelados por vinte anos, a reforma trabalhista e a reforma da previdência. Além da entrevista com Paim, VEJA também ouviu os senadores Lasier Martins (PSD-RS) e Ana Amélia Lemos (Progressistas-RS). A entrevista com Lasier pode ser lida aqui e a entrevista com Ana Amélia pode ser lida neste link.

Paim presidiu a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Previdência, que concluiu não haveria déficit no setor se as empresas  pagassem 450 bilhões devidos. O relatório final da CPI, de 253 páginas, precisou de 11 horas para ser lido no dia 23 de outubro. “A reforma, da maneira que está sendo feita, vai quebrar a previdência. Eles não atacam a sonegação. Vão mais uma vez passar a conta para os mais pobres, aumentando o tempo da contribuição e idade”, disse à reportagem.

Quanto a possibilidade do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ser condenado em segunda instância no julgamento do TRF4 marcado para 24 de janeiro, Paim diz que Lula “está no jogo” da eleição de “qualquer jeito”. No caso de uma eventual prisão, Lula “vira um novo Nelson Mandela”, disse em referência ao ex-presidente da África do Sul e líder popular, preso por 27 anos e foi solto após uma campanha mundial por sua libertação. Para Paim, o possível vice de uma chapa de Lula seria Roberto Requião (PMDB-PR). Requião poderia até mesmo substituir Lula, caso o ex-presidente seja impedido de concorrer, disse. “O debate ideológico está meio superado”, afirmou.

Abaixo, a entrevista com o senador:

O relatório da CPI da Previdência, presidida pelo senhor, concluiu que não há déficit no setor, ao contrário do que o governo federal alega com um rombo estimado em 200 bilhões para o ano que vem. Por que se concluiu que não há déficit na Previdência?
As empresas devem 450 bilhões para a Previdência. Esse valor atualizado chega a 700 bilhões, prontos para serem cobrados. Durante as oitivas da CPI, os que os procuradores da Fazenda mostraram é que não há funcionários e estrutura para iniciarem os processos de execução das dívidas. Há casos em que as empresas descontam do trabalhador, mas não repassam à Previdência. Isso é uma situação para cadeia, de apropriação indébita. São trinta bilhões por ano que simplesmente desaparecem. Chegamos à conclusão de que o desvio de dinheiro é o mais grave de tudo. A sonegação é dez vezes mais grave do que a corrupção.

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A reforma da Previdência solucionará os problemas?
A reforma, da maneira que está sendo feita, vai quebrar a Previdência. Eles não atacam a sonegação. Vão mais uma vez passar a conta para os mais pobres, aumentando o tempo da contribuição e idade. O problema da previdência vai continuar o mesmo. Com a reforma trabalhista, vai piorar porque vai diminuir a contribuição da previdência. O contrato intermitente e o autônomo exclusivo, esses não vai pagar a Previdência. Tudo isso vai diminuir o caixa. A reforma só interessa ao sistema financeiro. O que soluciona os problemas é uma reforma na gestão e fiscalização no combate à sonegação.

O senhor propõe criar o Estatuto do Trabalho, por quê?
Já estamos na décima quinta reunião. Com a reforma, transformaram a CLT (Consolidação das Leis do Trabalho) em CLE (Consolidação das Leis do Empregador). Por isso, buscamos um estatuto do mundo do trabalho com uma proposta mais equilibrada. Prestei uma homenagem ao Ivo Tramontina [morto aos 92 anos no último sábado] porque era um empresário que tinha uma visão humanitária da relação social de capital e trabalho. Há muitos empresários bons, mas falta ao empresariado essa visão mais humanitária. Essa reforma trabalhista vai criar um conflito enorme. Em maio, será distribuída a primeira versão do Estatuto do Trabalho para empresários, sindicatos e políticos avaliarem. Vou entregar para todos os candidatos à Presidência para que se comprometam.

Politicamente falando, como o senhor avalia o ano de 2017?
Estou há décadas no parlamento. Esse foi o pior ano de todos os tempos. Nunca vi tanta maldade, tanto equivoco, tanto atropelo, tanto desrespeito à nação. Me digam um único projeto desse governo que deu certo? Ninguém consegue lembrar um. Ameaças à Amazônia, trabalho escravo, acabaram com a CLT, com a Farmácia Popular, prejudicaram os Institutos Federais, a saúde está um caos, o desemprego continua, congelaram os investimentos, não é gasto, por vinte anos. Foi o pior ano de todos os tempos. Minha esperança está muito em 2018.

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Esse foi o pior ano de todos os tempos. Nunca vi tanta maldade, tanto equivoco, tanto atropelo, tanto desrespeito à nação. Me digam um único projeto desse governo que deu certo? Ninguém consegue lembrar um.

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva pode ser condenado em segunda instância no caso do triplex do Guarujá. Como isso pode afetar a eleição de 2018?
Ele está no jogo de qualquer jeito, não tem como tirar ele. Pelos prazos legais, poderá concorrer. Se concorrer, todo mundo sabe que ele ganha as eleições. Se concorrer, ganha no primeiro turno, tem meu voto. Se não concorrer, vai virar o cabo eleitoral de luxo daquele que vai se eleger. Se o Lula for preso ele  vira o novo Nelson Mandela, vai ter comitê em sua defesa espalhado em todo o mundo.

Se o Lula for preso ele  vira o novo Nelson Mandela, vai ter comitê em sua defesa espalhado em todo o mundo.

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Caso o ex-presidente não possa concorrer, quem o PT apoiará?
O que se discute é que não tem “plano B”. Não sabemos quem seria apoiado, muitos falam do Roberto Requião (PMDB-PR), outros do Haddad, outros do Jaques Wagner. O que eu escuto mais é que o Requião sairia do PMDB, nesse caso, e poderia ser vice.

Ao longo do processo de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff o PT chamou o PMDB do então vice-presidente Michel Temer de “golpista”. Não é contraditório eventualmente lançar Requião como candidato?
Requião lutou contra o golpe, viajou o Brasil para denunciar o golpe, lutou contra a reforma, contra o governo Temer. O Requião é como Pedro Simon [ex-senador do PMDB], até eu gostaria [do apoio]. Aí não tem contrassenso. É chegado o momento em que nos todos temos que ver que tem gente boa em muitos partidos. Não é a sigla que diz se o cara é bom ou ruim. Idealizo os melhores quadros políticos juntos escrevendo um projeto de nação. Como o Requião, o Simon, Haddad, a própria Manuela D’Ávila, são grandes nomes, que ajudam e escrevem a história. Não são ficha suja, estão imunes às crises das siglas e podem construir um projeto. O debate ideológico está meio superado, temos que pensar em um país para todos.

O Senado fica desmoralizado diante da população ao proteger parlamentares acusados de corrupção como no caso do senador Aécio Neves (PSDB-MG)?
Temos que buscar eleger os melhores candidatos dos mais variados partidos. É isso que vai marcar a eleição. Vão votar muito na pessoa [não em partido]. É o caso do Lula, ele é maior do que o PT. O desgaste do PT não pega no Lula. O desgaste do PMDB não pega no Requião, assim como o desgaste do Progressistas [antigo PP] não pega na senadora Ana Amélia Lemos e o desgaste do Aécio Neves não cola no Fernando Henrique Cardoso (PSDB).

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