Que mistério tem Rodrigo Pacheco?
A guerra do presidente do Senado contra o Supremo é boa para o bolsonarismo e ruim para a democracia

Rodrigo Pacheco não era bolsonarista, mas recebeu o apoio de Jair Bolsonaro quando era candidato a presidente do Senado. Durante o mandato, piscou o olho para Bolsonaro várias vezes. E só se manifestou claramente contra o então presidente quando isso se fez absolutamente imprescindível — e raras vezes com contundência.
Há pouco tempo, Pacheco dizia que não havia pressa para votar o marco temporal das terras indígenas. E dizia: “a Constituição não é um pedaço de papel e precisa ser respeitada. Há uma série de direitos, como o da propriedade, dos indígenas, os sociais e os fundamentais”. Na semana passada, mesmo depois de o STF declarar a inconstitucionalidade do marco temporal, Rodrigo aprovou o projeto em tempo recorde. E, na contramão de uma decisão que o Supremo está na iminência de tomar, encaminhou PEC de sua própria autoria para tornar crime todo e qualquer porte de droga.
Nesta semana, com o beneplácito de Pacheco, a CCJ aprovou, em apenas 40 segundos, PEC restringindo poderes do STF. O presidente do Senado também vai pôr em discussão propostas que limitam tempo de mandato e definem idade mínima para os ministros. (Vamos ver o que Rodrigo faz com a PEC que dá ao Congresso o poder de revogar decisões do Supremo, o que, além de inconstitucional, configura um claro golpe.)
Pacheco está em campanha para eleger seu sucessor aquele que é seu antecessor: Davi Alcolumbre, atual presidente da CCJ. E precisa ganhar as graças dos bolsonaristas, a quem interessa o confronto com o Supremo.
Existe uma mítica de que mineiros (Pacheco é natural de Rondônia, mas passou toda a vida em Minas) são discretos e têm o hábito de ficar em cima do muro. Pelo menos até decidirem para onde vão. Era o caso de Magalhães Pinto.
Em 1961, após a renúncia de Jânio Quadros, indagaram a Magalhães, então governador de Minas, como se posicionava em relação à posse do vice, João Goulart, que a direita queria impedir. “Minas está onde sempre esteve”, respondeu, mineiramente, Magalhães (as palavras são de outro mineiro, Otto Lara Resende). Pouco depois, Magalhães seria um dos chefes do golpe que derrubaria Jango.
Tancredo Neves também era mineiro, mas um pouco diferente. Quando, em 1964, Auro de Moura Andrade, que ocupava o assento que hoje é de Pacheco, declarou “vaga” a presidência, consumando o golpe, Tancredo gritou “canalha! canalha!”. E recusou-se a participar da farsa que “elegeu” o ditador Castello Branco. Tancredo falava manso e não brigava com ninguém, mas nunca deixou dúvida de que estava do lado da democracia.