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Ricardo Rangel

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Os acertos e os erros de Lula na COP-28

Os pontos problemáticos na conferência não se limitam ao discurso de Lula

Por Ricardo Rangel Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 9 Maio 2024, 18h48 - Publicado em 4 dez 2023, 17h35

Lula acertou em (quase) tudo o que disse em seu discurso na COP. Mas há problemas.

Os acertos:

  1. É preciso reduzir o volume de queima de combustível fóssil (e não apenas aumentar a produção de energia limpa, como tanta gente quer);
  2. É inexplicável — e inaceitável — que as nações não cumpram as metas a que se comprometem nos acordos políticos;
  3. Os países mais ricos precisam deixar de promessas vazias e comparecer com dinheiro de verdade para pagar pelo combate ao aquecimento feito nos países mais pobres;
  4. O Brasil tem condições de liderar pelo exemplo.

Os problemas:

  1. Os problemas não estão no que Lula disse, mas em como disse e em até que ponto ele fala pelo Brasil — e por si mesmo.
  2. Lula errou no tom, que deveria ser de perplexidade e de indignação, mas foi de raiva. Raiva atrai a hostilidade de quem está sendo criticado (no caso, as nações ricas) em vez de fazer com que caiam em si. Ou seja, não constrói.
  3. Como de hábito, Lula errou ao tratar ricos como vilões e pobres como mocinhos. Primeiro, porque a abordagem é enganosa: China, Índia e Rússia, que Lula entende fazerem parte do bloco dos pobres, são respectivamente o primeiro, o terceiro e o quinto maiores emissores de gases de efeito estufa. O Brasil vem em sexto. Os países europeus só entram na lista se forem tratados como um bloco. Segundo, porque os maiores emissores per capita são quase todos pobres; o único rico que faz parte dos 10 mais é a Austrália. E quem mais vem reduzindo emissões são justamente os ricos.
  4. O Brasil já mostrou que é capaz de eleger um negacionista ambiental, como fez em 2018 e quase fez de novo no ano passado. Lula reduziu muito o desmatamento, mas, depois da catástrofe ambiental que foi Bolsonaro, isso não era assim tão difícil. O fato é que o ano passado foi o pior desde 2005. O Congresso Nacional incluiu um jabuti no “pacote verde do Lira” (mas logo nele?) para subsidiar usinas de carvão.  E o agro vai ficando fora da regulamentação do mercado de créditos de carbono — que está muito atrasada, por sinal.
  5. Por fim, há um descompasso entre o discurso e a prática de Lula. Lula defende a redução do combustível fóssil ao mesmo tempo em que o subsidia. E pretende ampliar a fronteira petrolífera na margem equatorial do Amazonas (mas logo lá?). Seu ministro das Minas e Energia fechou acordos de petróleo em Dubai e defende a entrada do Brasil na Opep+.

É fácil acusar o discurso de Lula de contraditório e até de hipócrita, mas ele não está sozinho. Contradição e hipocrisia são marcas registradas da discussão sobre o combate ao aquecimento global. A começar pelo lugar escolhido para a COP-28: Dubai fica no centro da região mais poluidora do planeta. O presidente da COP é presidente da petroleira dos Emirados Árabes, e no mês passado defendeu que “não há ciência” que indique a necessidade de eliminar os combustíveis fósseis. Os líderes dos dois campeões mundiais da sujeira, EUA e China, nem deram as caras na conferência.

Os esforços do mundo, incluindo o Brasil, para combater o aquecimento global estão longe de ter a urgência necessária.

Em tempo: Os Emirados Árabes Unidos são o sétimo maior produtor de petróleo do mundo. Curiosamente, Dubai, sede da COP-28, é o único emirado que praticamente não produz petróleo (sua economia se baseia em construção, comércio e serviços financeiros). Deve haver uma moral em algum lugar.

(Por Ricardo Rangel em 04/12/2023)

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