Freire Gomes, Bolsonaro e um erro histórico
Tudo indica que o depoimento do ex-comandante do Exército selará o destino do "mau militar" — com 37 anos de atraso
Pelo que vazou até agora, o depoimento do general Freire Gomes compromete Jair Bolsonaro irrecuperavelmente. Fica à vista a condenação do ex-presidente à prisão. Se e quando isso acontecer, Bolsonaro será necessariamente expulso do Exército.
Em 1987, Jair Bolsonaro informou a Cássia Maria, repórter da revista, sobre a operação “Beco Sem Saída”, cujo objetivo era explodir bombas em quartéis para protestar contra os baixos salários.
Diante da ameaça terrorista, VEJA noticiou o plano e, em seguida, publicou os croquis. Levado à Corte Marcial, Bolsonaro foi condenado por unanimidade no Conselho de Justificação Militar (CJM). O então ministro endossou o resultado. A sentença seria expulsão.
Mas o Superior Tribunal Militar, conforme relata o jornalista Luiz Fernando Maklouf no livro “O Cadete e o Capitão”, julgou contra as provas técnicas e reverteu o resultado da primeira instância por 9 a 4. Venceu o espírito-de-corpo — e foi cometido um erro histórico. (Bolsonaro foi para a reserva no mesmo ano, e quem quiser enxergar que houve um acordo do tipo “nós-te-absolvemos-mas-você-sai”, tem bons motivos).
Em 1993, quando Jair Bolsonaro estava no primeiro de seus sete mandatos como deputado federal, o general Ernesto Geisel concedeu um depoimento ao CPDOC da Fundação Getúlio Vargas. Disse ele: “presentemente, o que há de militares no Congresso? Não contemos o Bolsonaro, porque é um caso completamente fora do normal, inclusive um mau militar”.
Freire Gomes, que ingressou na AMAN no mesmo ano em que Bolsonaro se formou, foi o último comandante do Exército a servir sob as ordens do Comandante-em-Chefe Jair Bolsonaro. Será irônico se for justamente seu depoimento a reparar um um erro histórico da Corporação.
E expulsar o “mau militar” da Força Terrestre.
Com 37 anos de atraso.
(Por Ricardo Rangel em 06/03/2024)