O ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal, afirmou que a candidatura de Lula em 2018 deveria ter sido autorizada pelo Tribunal Superior Eleitoral, que ela teria “feito bem à democracia” e fortalecido o “império da lei”.
Disse também que existe um “cavalo de Troia” que ameaça a democracia brasileira, e que ele “apresenta laços com milícias e organizações envolvidas com atividades ilícitas”.
Fachin tem razão ao considerar Bolsonaro uma ameaça à democracia e enxergar uma ligação entre ele e as milícias, mas nem por isso sua declaração deixa de ser um desastre de ponta a ponta.
A declaração é deselegante, porque revela o mau perdedor e critica o voto de seus pares em um julgamento praticamente unânime (Fachin foi o único voto vencido, Lula perdeu por 6 a 1).
É estapafúrdia, porque sugere que Lula é um cidadão acima dos demais, a quem a lei não deveria se aplicar — a lei da Ficha Limpa é clara: cidadãos condenados em tribunais colegiados (caso de Lula) perdem os direitos políticos.
É fora de lugar, porque não cabe a ministros do Supremo emitir juízo de opinião e crítica vaga sobre o presidente de outro Poder.
É inaceitável do ponto de vista jurídico, pois Fachin antecipou o voto no caso, bastante provável, de o Supremo ser chamado a decidir se Lula pode se candidatar em 2022.
E é um erro absolutamente crasso do ponto de vista político, pois alimenta o discurso anti-establishment de que o Supremo é de esquerda e quer prejudicar Jair Bolsonaro.
Bolsonaro, comovido, agradece.