Bate-cabeça pode atrapalhar o entendimento entre Lula e Lira
O ministro Alexandre Padilha rebate o presidente da Câmara e cria novo mal estar
Em entrevista recente, Arthur Lira, do PP, informou que a Caixa Econômica Federal “faz parte do acordo com os partidos” para a ida do Centrão para o governo. E “de porteira fechada.” E que “indicações políticas que não serão criminalizadas por isso”.
Todo mundo sabe o que significam indicações políticas para cargos técnicos em estatais. Vem à mente Severiano Cavalcanti, também do PP, em 2005: “O que o presidente (Lula) me ofereceu foi aquela diretoria que fura poço e acha petróleo. É essa que eu quero.”
Sendo a estatal um banco, o risco é incalculável. De “porteira fechada” — entregar o banco inteiro sem sequer saber a quem —, então, nem se fala.
Alexandre Padilha, ministro das Relações Institucionais, rebateu Lira. Disse que o comando da Caixa não está vinculado às discussões que culminaram na mais recente reforma ministerial.
O desmentido de Padilha é boa notícia, mas ficou algo estranho no ar.
Sempre se soube que as nomeações de Silvio Costa e André Fufuca eram pouco para satisfazer o apetite do Centrão, e a indicação de alguém apoiado pelo bloco para a presidência da Caixa é dada como certa há muitas semanas — e ninguém nunca desmentiu.
Não parece provável que um político experiente como Lira corresse, à toa, o risco de ser desmentido pelo presidente. Por outro lado, é impossível que Padilha desmentisse Lira sem o aval de Lula.
O bate-cabeça de agora pode atrapalhar mais uma vez a relação entre Lula e Lira, que estão há muitos meses negociando o apoio do Centrão ao governo sem nunca chegar a um entendimento definitivo. Enquanto isso, o governo segue frágil no Congresso e o Centrão vai perdendo a paciência.
Lira está nos EUA (foi assistir ao discurso de Lula na ONU) e ainda não se manifestou.
Mas ninguém perde por esperar.