“Há poucos dias a imprensa divulgou o desligamento de dezenas de cadetes da Academia Militar das Agulhas Negras por homossexualismo, consumo de drogas e uma suposta falta de vocação para carreira”, disse em 3 de setembro de 1986 o então capitão de artilharia Jair Messias Bolsonaro, com 31 anos. Era a primeira vez que o hoje pré-candidato à Presidência da República pelo PSL aparecia nas páginas de VEJA.
Em artigo assinado, o militar continuava: “Em nome da verdade, é preciso esclarecer que, embora tenham ocorrido efetivamente casos residuais envolvendo a prática de homossexualismo, consumo de drogas e mesmo indisciplina, o motivo de fundo é outro. Mais de 90% das evasões se deram devido à crise financeira que assola as massas de oficiais e sargentos do Exército brasileiro”. No texto, ele reclamava de uma “situação crítica” dos militares com relação aos salários, que segundo o então capitão, estava defasados por conta da inflação e falta de reajuste.
Um ano depois, em 28 de outubro de 1987, Bolsonaro voltou às páginas da revista. Uma reportagem apontava um plano do militar para conseguir melhores vencimentos para a categoria, batizado de Beco sem Saída: “Consistia num protesto à bomba contra o índice de aumento para os militares que o governo anunciaria nos próximos dias. Caso o reajuste ficasse abaixo de 60%, algumas bombas seriam detonadas nos banheiros da Esao (Escola Superior de Aperfeiçoamento de Oficiais), sempre com a preocupação de evitar que houvesse feridos. Simultaneamente, haveria explosões na Academia Militar das Agulhas Negras e em outras unidades do Exército“, contava a reportagem.
Na semana seguinte, a emblemática edição de número 1000 de VEJA, publicada em 4 de novembro de 1987, trazia nas páginas 56 e 57 uma reportagem para comprovar a entrevista com Bolsonaro, que passou a desmentir o seu envolvimento na história. No topo, a revista publicou croquis feitos à mão pelo próprio capitão. Um deles exibia o funcionamento de uma bomba-relógio capaz de explodir uma tubulação da adutora do Guandu, que abastece de água o Rio de Janeiro. Havia também detalhes sobre testemunhas que presenciaram entrevistas do capitão para a revista relatando o plano.
Desde então, após sair do Exército e ser eleito como deputado federal, ele foi personagem de matérias quase que anualmente. Nos últimos anos, passou a figurar com mais assiduidade por conta de várias polêmicas. Em 11 de outubro de 2017, foi capa de VEJA pela primeira vez. A chamada trazia: “Ameaça Bolsonaro – Com ideias extremistas e discurso insultuoso, o presidenciável já tem o apoio de 30 milhões de brasileiros e consolida-se em segundo lugar nas pesquisas”.
“A ilha política em que se transformou, no mundo civil ou militar, convive bem com suas posições extremadas. Em nome delas, Bolsonaro já foi classificado de quase tudo: homofóbico, racista, xenófobo, misógino, fascista”, dizia a reportagem, que relatava uma condenação sofrida pelo parlamentar, por ter ofendido quilombolas.