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Vale a pena ler de novo o que saiu nas páginas de VEJA em quase cinco décadas de história
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Há 25 anos, uma radiografia sem esperanças da saúde no Brasil

Em 1993, eram os médicos quem pediam socorro; em 2016, mundo olhava com receio à sede olímpica, com belas arenas e hospitais destruídos

Por Da redação
Atualizado em 30 jul 2020, 20h29 - Publicado em 26 abr 2018, 20h18

Não é notícia velha, os problemas na saúde do país só aumentam e isso justifica a reportagem de VEJA que vai às bancas a partir desta sexta-feira. Tampouco é exclusividade deste ou daquele governo, partido ou época.

Na edição 1391 da revista, de agosto de 1993, há quase 25 anos, portanto, o caos no sistema era nítido e ficou evidenciado de forma assustadora nas palavras de uma pediatra da Grande São Paulo.

“Na manhã de domingo 1º de agosto, a pediatra Marcia Pereira Monteiro, 33 anos, dez de profissão e dois filhos, chegou ao Hospital Regional de Osasco para o seu plantão. Destinado a atender a uma área onde vive 300 000 pessoas, há dois anos tinha 360 leitos e trinta médicos por plantão. Hoje metade dos serviços está parada e o plantão mal juntam dez médicos. Naquela manhã Marcia e uma psiquiatra viram-se sozinhas. Tentou achar o diretor, os cirurgiões, os anestesias. Nada. às 5 da tarde ela entrou na delegacia do bairro e pediu que se registrasse o fechamento do hospital por falta de condições que lhe permitissem atender novos doentes. Meia hora depois afixou na portaria o papel assinado pelo delegado: “O que eu poderia fazer se aparecesse uma emergência, um sujeito com um tiro no peito? Eu sou pediatra. Ia enfiar o dedo no buraco e correr com o doente para o Hospital das Clínicas. Não fui formada para lidar com casos desse tipo.

Capa de VEJA de 1993, sobre a crise que deixa os médicos desesperados (Reprodução/VEJA)

Mais à frente, a reportagem explicava que em clínicas e hospitais particulares, a situação estava melhor, o problema mesmo estava na rede pública. E se estava ruim para quem não podia pagar, acabava piorando para todo mundo.

“Um país doente no qual a norma é o portão fechado. ‘Se você abre o pronto-socorro num hospital universitário, ele acaba tomando conta de tudo e acaba com o hospital. Quanto melhor o atendimento, mais gente vem. No Recife, o hospital universitário virou centro de emergência. Acaba numa situação em que você tem um paciente com um tumor no pulmão e a cirurgia é adiada porque um atropelado tomou a vaga no centro cirúrgico’, ensina o professor Sérgio Aguinaga, (na época) presidente da Academia Nacional de Medicina. ‘Meu hospital tem sessenta leitos. Se abrir para os casos de vítimas de traumatismo, não dura dois dias’, argumenta Guilherme Eurico Bastos da Cunha, 58 anos, 35 de bisturi, ex-presidente do Colégio Brasileiro de Cirurgiões, do Hospital Gorencio de Freitas, em Niterói.”

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Sem uma rede nacional que atendesse a todos, os empresário do setor preferiam lucrar cobrando muito de poucos. Alguns números da matéria comprovavam essa privatização da saúde, que deveria ser pública. “Apesar de a Constituição atribuir ao Estado o dever de garantir o direitos dos brasileiros à saúde, a medicina brasileira não é estatal, mas predominantemente privada. Dos 7 000 hospitais exigentes no país, 5 000 são propriedade particular. Particular e orientada pelas leis do mercado: entre 1976 e 1990 as instituições filantrópicas e beneficentes fecharam 200 leitos, enquanto as entidades com fins lucrativos abriram 800.”

O Rio de Janeiro, Estado que aparece como destaque na saúde em praticamete todas as matérias sobre o assunto, também foi bastante citado nessa edição de 1993. Sem a intenção de amenizar o problema, claro. “Em 1991 havia no Rio de Janeiro 3 500 pessoas submetendo-se a hemodiálise para compensar insuficiências renais. No ano passado elas foram 2 800. “O número diminuiu porque os doentes estão morrendo por falta de assistência”, registra Marcos Hoette, 52 anos, 25 de medicina, chefe do serviço de nefrologia do Hospital dos Servidores.”

Vinte e três anos depois, a saúde continuou à míngua e o Rio de Janeiro voltou a ser destaque na edição 2.459 da revista, no início daquele que seria o ano da Olimpíada carioca, em 6 de janeiro de 2016.

A abertura do texto já explicava bem do que se tratava a reportagem: “Um sistema de saúde robusto e eficiente foi uma das principais promessas de campanha do governador do Rio, Luiz Fernando Pezão. Antes mesmo de completar um ano de mandato, a vitrine se estilhaçou, com cenas de desespero em hospitais fechados por falta de dinheiro para funcionar”.

No fim de 2015, meses antes da abertura dos Jogos Olímpicos, o Rio envergonhou o Brasil para o mundo. Leia um trecho da matéria:

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“Na véspera do Natal, e com os olhos do mundo já virados para a sede da Olimpíada, a crise financeira que se desenhava desde 2012 explodiu com drama, na capital e em outras cidades. Pelo menos quinze UPAs e doze hospitais tiveram suas portas fechadas. Faltavam remédios, ataduras, luvas e soro. Sobraram indignação, pessoas sofrendo debaixo do sol e calor sem atendimento, mulheres parindo na rua. Prateleiras vazias eram a prova de que não havia mais o que fazer. No Getúlio Vargas, a maior emergência da Zona Norte carioca, tapumes foram vergonhosamente erguidos na entrada do pronto-socorro para evitar que o lugar fosse invadido por pacientes desesperados. A saída, num infeliz jogo de palavras com o desastre provocado pela inépcia administrativa, foi a decretação do estado de emergência por 180 dias.

Capa de 2016 sobre o caos na saúde do Rio pouco antes da Olimpíada (Reprodução/VEJA)

Mas, afinal de contas, como foi possível chegar a esse ponto? As UPAs são gerenciadas por Organizações Sociais (OS) sem fins lucrativos, que se revelaram um modelo caríssimo de gestão. Em 2014, 72% das despesas do setor de saúde do estado foram empenhadas por meio das OS. Agora, como o governo estadual deixou acumular uma dívida de 700 milhões de reais com os fornecedores contratados por essas OS, houve atraso na entrega de insumos e no pagamento dos salários dos funcionários terceirizados. O festival de siglas – UPA, OS e UPP – parece ter sido criado para confundir, mas o roteiro do desastre construído é simples, o mesmo de sempre.”

Situação sem esperanças, explicação e muito menos iniciativas para resolver a crise. Mas no mundo político, como quase sempre ocorre, a saída escolhida foi colocar a culpa em governos anteriores, como se isso amenizasse minimamente o dia a dia de milhares do doentes. “O movimento mais ruidoso de Pezão foi pôr a culpa nos outros. Argumentou que “o estado não fabrica recursos” e responsabilizou a queda da arrecadação com os royalties do petróleo (de 8,7 bilhões de 2014 para 4,1 bilhões de 2015) e de ICMS (queda de 7%) pelo colapso financeiro. O governador não disse nada a respeito de uma tradição aberta por Sérgio Cabral e mantida por ele próprio, a de entregar, ano após ano, as contas públicas com déficit primário (a diferença entre receitas e despesas). O de 2014 chegou aos 7,3 bilhões de reais.”

Nos discursos frios e sem vida de gabinetes e coletivas de imprensa o mal parece menor do que é. Mas VEJA foi além das bravatas e reclamações que tentam encobrir a incompetência do governo do Estado do Rio.

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“Sabe-se, portanto, como o estado mergulhou na crise de caixa que fechou hospitais. Sair dela será mais complicado, e a pressão da chegada dos Jogos Olímpicos assusta, por evidenciar o paradoxo que existe entre a cidade maravilhosa, palco da grande festa, e a cidade horrorosa. A prefeitura de Eduardo Paes, em gesto simultaneamente correto e de interesse político, emprestou 100 milhões de reais. O governo federal ofereceu 45 milhões de reais, com o anúncio de outros 90 milhões em janeiro. Não por acaso, União e município também sofrem com o caixa descontrolado e problemas na Justiça. Os hospitais universitários federais, como o do Fundão, também enfrentam grave crise. Neles há 200 leitos a menos do que o necessário, faltam materiais e as condições de higiene em vários setores são precárias, com tetos quebrados e imundície.”

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