Desde a morte do empresário Henry Maksoud, em 2014, a família se dissolveu e o Maksoud Plaza, ícone de sofisticação dos anos 80 e 90 em São Paulo, entrou em declínio. O mais moderno e exclusivo hotel da capital paulista se tornou pivô de uma disputa dos herdeiros, que lutam por um patrimônio de 500 milhões de reais deixados pelo patriarca
A reportagem da edição 2.584, que chega às bancas do país nesta sexta-feira, conta como anda esse imbróglio na Justiça e relembra o glamour do passado: “O hotel foi um símbolo incontestável de luxo e sofisticação nos anos 1980 e 1990. Sua roupa de cama era de algodão egípcio, num tempo em que apenas caríssimos endereços de Nova York e Paris punham seus hóspedes para deitar com tanto conforto. No apogeu, o hotel tinha cinco restaurantes, três bares e uma boate, o mítico 150 Night Club. A programação era estreladíssima. Frank Sinatra fez uma temporada de quatro shows, pelo cachê de 1 milhão de dólares”.
O local que serviu de hospedagem para alguns dos mais ricos e importantes personagens mundiais foi recebido com destaque nas páginas de VEJA de 2 de janeiro de 1980. Nelas, a constatação de que o recém-inaugurado local talvez merecesse mais do que as cinco estrelas dadas aos melhores estabelecimentos do ramo. “Depois de atribuir as cobiçadas cinco estrelas a mais de trinta hotéis em todo o país, a Embratur talvez tenha de criar uma categoria especial para classificar as duas mais recentes e importantes novidades da hotelaria brasileira: o Maksoud Plaza, de São Paulo.”
Segundo o texto, o empresário Henry Maksoud não parecia preocupado com esses “detalhes burocráticos”. “Seu objetivo foi ‘erigir um monumento que servisse como atração turística'” em uma área nobre da cidade, bem perto da avenida Paulista.
A descrição do luxo do prédio não deixava dúvida de que o Maksoud Plaza faria sucesso. “As faces internas do edifício, de dezenove andares, circundam o hall de recepção do térreo formando o atrium lobby — o primeiro do Brasil. Da cobertura de telhas transparentes pende uma escultura da Toyota, em alumínio, com 50 metros de comprimento, que pode ser mais bem admirada dos elevadores — de acrílico — que correm por fora da estrutura do prédio. A maior obra de arte é o mural em concreto de Maria Bonomi, que circunda o hall.”
Lindo, luxuoso e moderno, tanto que em 1980 já era informatizado. “Nos 420 apartamentos do Maksoud Plaza, todas as operações são controladas por computadores. Eles também guardam na memória todos os dados pessoais e preferências dos hóspedes. Esse mesmo sistema permite que, ao atender a um chamado de qualquer apartamento, a telefonista veja surgir na tela a seu lado informações como, por exemplo, o idioma em que deve dizer ‘pois não, às suas ordens'”, explicava a reportagem.
Em 1981, VEJA voltou ao Maksoud, agora para acompanhar a estreia de um dos maiores cantores da história. Em matéria da edição de 19 de agosto daquele ano, a revista narra que a estrutura do estabelecimento ofuscou pequenos contratempos do show do astro americano. Em determinado momento, “a desconhecida Ana Estela, uma paulista de 21 anos, de macacão de seda cor de cenoura berrante, levantou-se trôpega de sua mesa — entre as 700 pessoas presentes à estreia de Sinatra, no Maksoud Plaza, em São Paulo, na quinta-feira — e postou-se de pé, a 5 metros do cantor.”
Nada que tirasse o brilho do local, que recebeu elogios do próprio Sinatra durante a apresentação (ele também fez comentários positivos sobre a cidade de São Paulo e lamentou não ter na plateia a presença do maestro brasileiro Tom Jobim).
Eis um trecho da matéria de 1981: “Servindo a comida correta, com vinhos americanos e uma garrafa de uísque Chivas Regal em cada mesa, o Maksoud Plaza conseguiu manter uma postura cosmopolita. As 150 pessoas envolvidas na visita de Sinatra não chegaram a incomodar os demais hóspedes, que circulavam pelos cinco restaurantes, três bares, lojas e o recém-inaugurado clube noturno 150”.