A edição 2.578 de VEJA que está nas bancas traz entre suas reportagens a discussão nos Estados Unidos sobre o declínio do comércio em lojas físicas. Além da saturação do setor no país, que cometeu excessos nas últimas décadas que, agora, estariam sendo corrigidos, alguns analistas apontam como culpada a Amazon, a gigante do comércio eletrônico e maior ameaça mundial ao varejo tradicional. “Desde 2015, cerca de 500 grandes centros comerciais, de redes como Kmart, Macy’s e Sports Authority, fecharam as portas. Segundo uma análise do banco Credit Suisse, a redução de lojas fará com que um em cada quatro shoppings americanos feche até 2025”, diz o texto.
A avalanche Amazon, hoje líder em vários segmentos do comércio, foi acompanhada de perto pela revista em várias de suas edições. Em 22 de julho de 1998, apresentando o site como uma novidade para muitos de seus leitores, a publicação explicou como nasceu a empresa.
“Em 1994, quando muita gente ainda achava que a internet não daria dinheiro a curto prazo, o americano Jeff Bezos resolveu abrir um negócio nesse ramo. Escolheu os livros, mercadoria fácil de entregar, com muita variedade e ainda inexplorada pelos vendedores virtuais. Abandonou seu emprego como executivo financeiro em Wall Street, mudou-se com a mulher para Seatle, uma cidade mais barata que Nova York, e começou a trabalhar. De lá para cá, a Amazon.com tornou-se a maior livraria virtual do mundo. Aos 34 anos, Bezos é hoje um homem rico. Mais do que isso, sua parte nas ações da companhia estava avaliada em Wall Street na casa do bilhão de dólares.”
Um ano depois, na edição de 21 de julho de 1999, VEJA voltou a falar do avanço devastador do comércio eletrônico, e citou a Amazon como exemplo do esforço das empresas virtuais para conquistar a confiança dos clientes. “Os consumidores virtuais brasileiros não são muito diferentes de seus colegas no resto do mundo. São desconfiados em geral sobre a segurança das páginas em que compram os produtos, fazem na primeira aquisição uma espécie de teste quanto à confiabilidade da loja na internet e são exigentes em relação à qualidade do que estão trazendo para casa.” Contra a desconfiança, cita a reportagem, a Amazon “é capaz de oferecer desconto de até 20% para os clientes que não receberem suas encomendas dentro do prazo estabelecido”.
O Brasil, até 2006, pelo menos, engatinhava nas vendas digitais e as potência mundiais no e-commerce por aqui não tinham grande influência. Mas algo estava para mudar. Na edição 1.984, de 29 de novembro daquele ano, VEJA apontou a recém-anunciada fusão da Americanas com a Submarino como a criação da “Amazon brasileira”.
A contextualização dessa reportagem de 2006 é bem interessante: “No Brasil, o comércio eletrônico chegou tardiamente no fim da década de 90. Não faltaram razões – a renda achatada da classe média e pouca penetração da internet no país. Mas nos últimos dois anos a explosão do crédito e a popularização dos computadores elevaram em 145% as vendas on-line, que devem fechar o ano em 4,3 bilhões de reais. No despertar do comércio virtual, as duas maiores lojas do segmento no Brasil anunciaram a assinatura de um acordo com potencial de criar uma das cinco maiores lojas virtuais do mundo – em vendas e valor de mercado.”
O texto dizia ainda que o “comércio on-line no Brasil saiu de 550 milhões de reais em 2001 para 4,3 bilhões de reais neste ano — um aumento de 681%”, mas isso representava apenas 2% das vendas do varejo. Nos EUA, essa modalidade já representava 6% do total.
Hoje em dia, voltando à edição da revista que está hoje nas bancas, esse porcentual é maior, apesar de crescer de forma lenta. “No Brasil, atualmente, as vendas pela internet não passam de 10% do comércio tradicional. Mas existem áreas nas quais a transição ocorre mais rapidamente, entre elas a venda de eletrodomésticos e eletrônicos.”
Na edição 2.276, de 4 de julho de 2012, o e-commerce voltou a ser destaque em VEJA. Dessa vez, apresentando duas redes nacionais de sucesso, que apostavam na eficiência logística para cativar os consumidores, a Netshoes e a Dafiti. “Duas companhias brasileiras dedicadas exclusivamente à internet e sem ligação com as grandes redes de varejo entraram para o ranking das empresas de vendas on-line mais populares do país sem que a expansão de seus negócios tenha levado a uma queda na qualidade do serviço de entrega. Neste ano, a Netshoes, especializada em artigos esportivos, e a Dafiti, de roupas e acessórios, devem faturar 1 bilhão de reais cada uma, o que as posicionará atrás apenas dos gigantes B2W (que engloba a Americanas.com, o Submarino e o Shoptime) e Nova Pontocom (dos sites de Casas Bahia, Ponto Frio e Extra).”
A justificativa para o avanço das duas empresas explica o sucesso de todo o e-commerce. Leia outros trechos:
“A Netshoes e a Dafiti são os dois maiores expoentes do amadurecimento do comércio pela internet no Brasil. Além de não serem sites generalistas, nos quais se pode comprar de livros a produtos eletrônicos e pacotes de viagem, ambas as empresas nasceram com a plena convicção de ter na eficácia logística a receita para tornar fiéis seus clientes e fazer com que eles voltem. Outro ponto essencial da estratégia é facilitar a troca e a devolução dos produtos. Para elas, não é fundamental brigar pelos preços mais baixos. Os valores cobrados são similares aos das lojas de shopping.”