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Vocês

Caríssimos, No Natal passado, já estávamos juntos, no ano em que vivi em perigo. As cirurgias que tive de fazer se misturaram ao fim do site e da revista Primeira Leitura, e fui acumulando sustos e perdas, buscando a porta sempre estreita da esperança, agarrando-me à minha fé um tanto desajeitada — a fé do […]

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 31 jul 2020, 20h02 - Publicado em 24 dez 2007, 20h38
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  • Caríssimos,

    No Natal passado, já estávamos juntos, no ano em que vivi em perigo. As cirurgias que tive de fazer se misturaram ao fim do site e da revista Primeira Leitura, e fui acumulando sustos e perdas, buscando a porta sempre estreita da esperança, agarrando-me à minha fé um tanto desajeitada — a fé do homem —, que não cansa nunca de ser desconfiada. Vivo hoje um tanto longe de alguns amigos que prezo tanto. Mas eles se sabem abraçados e me abraçam. Temi também ter interrompida, não por gosto, o que não sei se é uma trajetória, mas é, ao menos, uma boa viagem. Cheguei ao fim daquele ano mais ou menos como o maratonista que, ao ultrapassar a linha, tem a impressão de que lhe faltariam fôlego e pernas para dar mais um passo. E havia também felicidade naquilo: o blog já estava acontecendo, havia a acolhida gentil e rigorosa dos amigos da VEJA, o apoio sempre tolerante das “minhas mulheres e mulheres de si mesmas” e, já que escrevo no blog, destaco com a mesma grandeza: eu contava com a companhia de vocês. Os leitores me ajudaram a passar pela porta estreita.

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    Ao longo deste 2007, que já vai chegando ao fim, ampliou-se enormemente o público deste blog sem que, para tanto, eu tenha sido levado a fazer qualquer concessão na análise, no gosto, no estilo, nos temas. Exercemos a convergência exultante, a divergência informada, a pluralidade na unidade: queremos um país de homens livres, de indivíduos senhores de sua vida, em que o estado ou algum outro ente de razão não imponham a sua vontade, tornando-nos a todos meros instrumentos ou meios de sua vontade supostamente redentora ou de sua sapiência sobre-humana. Alguns, é verdade, foram excluídos deste coro de diversidades porque seus princípios solapam os nossos; porque o exercício de sua liberdade pressupõe o silêncio da nossa.

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    Eu lhes sou profundamente grato pela existência deste blog. Vocês devem saber o quanto — já que me dedico a ele, como sabem, um tanto além até mesmo da prudência. Enlaço-me, com vocês, no melhor espírito do Natal, ainda que as palavras nesses dias soem alguns tons acima de nossa vida precária; ainda que as festas não possam curar as nossas dores íntimas; ainda que, muitas vezes, humanos que somos, sejamos confrontados com o inútil de nós mesmos, o “inútil de cada um”.

    Já lhes disse outras vezes. Sou um homem de hábitos, que ama a rotina, que prefere a vida sem solavancos, que trata com certo desdém as grandes ambições minhas e alheias. Os relevos do espírito me interessam muito mais, e estes são percebidos, quase sempre, no silêncio de nossa intimidade, de nossa vida privada, individual, indivisível mesmo. Prefiro os marços, os abris, os maios, os agostos, quando as esperanças são mais serenas; os votos de felicidade, mais discretos; os anseios, menos pronunciados.

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    Não sei se a pessoa se torna cristã porque quer ou porque “é querida”, se me permitem a gramática meio “gauche”. Sei que os olhares um pouco aflitos destes dias, a urgência amorosa dos abraços, a espera um tanto nervosa por tempos mais felizes, tudo isso me constrange um pouco. Há em cada homem um olhar a um só tempo bruto e profundamente humano, como quem espera uma resposta que só virá se um dia pudermos olhar a face de Deus. É o olhar do desalento e da esperança com que o próprio Cristo olhou o mundo. E isso me comove, num misto de tristeza e alegria. E então peço a Deus que tire de mim qualquer anseio. Que me ensine a não querer nada.

    Obrigado, mesmo!, por tudo o que vocês me deram até aqui. Que eu seja digno dessa confiança. Abraça-os, cristãos e não-cristãos, o Reinaldo do blog — precário, sim, mas que não quer muito mais do que ser um bom marido, um bom pai, um bom amigo, um bom homem.

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    Tenham um ótimo Natal!

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