Um intelectual sensível
Tá bom. Eu confesso. Não li nem jornal no Carnaval. Só hoje fiquei sabendo que Renato Janine Ribeiro, a versão sensível de Marilena Chaui, escreveu um texto no caderno Mais!, na Folha deste domingo, em que flerta com a pena de morte, revendo, ele nos adverte, opinião que expressara antes, contrário à tese, o que […]
Propagandista de sempre das teses de esquerda, gozando da aura de ser entre nós “especialista em iluminismo”, é advogado incansável de todas as teses politicamente corretas postas no mercado. Mas vocês sabem: quando a violência é oferecida no varejo, pega bem açoitar a classe média de sempre. O caso do menino João Hélio desafiou todos os códigos do decoro dos bem pensantes. Aí Janine ficou sem tese.
E faz o quê? Na prática, no melhor estilo Lula, diz que o que pensara antes era bravata. Não está bem certo, é verdade. Racionalmente, ele ainda tem dúvidas sobre a pena de morte. Mas, emocionalmente, está convulsionado. Já citei Ivan Lessa hoje. Lembro de novo. No idos de 70, fez uma frase mais ou menos assim: “Angústia existencial no interior da Paraíba, eles comem”. A tragédia brasileira parece existir para provocar crise de consciência nos nossos intelectuais. Só que a realidade já comeu as hesitações de Janine.
O país é um manicômio. Também intelectual. Se eu ou qualquer outro dos brasileiros tachados de representantes da “nova direita” defendêssemos num artigo a pena de morte, seríamos chamados de “fascistas” e “genocidas”. Mas não Janine. Afinal, é um intelectual da esquerda, com autoridade moral que precede, pois, qualquer conteúdo para defender não importa qual tese. Eu não duvido de que, no passado, tenha empregado todo o seu estoque de humanismo para atacar a pena de morte. O mesmo estoque que ele põe, agora, em favor da aplicação da pena. Faz sentido. Um pensador de esquerda tem autoridade para tratar da pena capital.
Em Dois Córregos, diz-se que o lobo troca de pêlo, mas não de vício. O mesmo digo de Janine. Ele, com efeito, começa a achar que a pena de morte pode ser justa — em tempo: vocês sabem que sou contrário à dita-cuja, mesmo para os facínoras. Seu artigo na Folha — e poderia ser diferente? — vem ancorado numa fraude intelectual. Para justificar a sua perplexidade, para encarecer a sua “sensibilidade” tão chocada com assassinato do menino João — tanto, que sua “razão” está prestes a mudar de idéia —, ele compara o episódio ao holocausto. Como pensador, precisa apelar a um fato sobre o qual a controvérsia é mínima, pondo-se, assim, acima das dissensões.
Janine integrou o triunvirato — junto com Chaui e Wanderley Guilherme dos Santos —que denunciou um suposto complô da mídia contra o PT durante o mensalão. Não sei se um dia fará autocrítica. Sei que pode pensar banalidades e ficar perplexo a custo zero. Já atacar a máfia do mensalão como pensador desassombrado talvez não pegasse tão bem para quem era e é diretor de avaliação da Fundação Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento do Pessoal de Nível Superior). Um cargo de confiança. Da confiança de Lula.
Para ler íntegra do artigo, assinante da Folha ou do UOL clica aqui