Adivinhem o que está por trás de tanta gritaria. Dinheiro, muito dinheiro! O imposto rende nada menos de R$ 1,308 bilhão por ano: R$ 754 milhões dos trabalhadores, R$ 50 milhões dos autônomos e R$ 504 milhões das empresas. Apesar do discurso hipócrita, CUT e Força Sindical estavam era de olho na bufunfa. Com a legalização, também elas vão morder um naco desse formidável capilé. Hoje, 60% da arrecadação vai para os sindicatos; 15%, para as federações; 5%, para as confederações, e 20%, para o governo, num troço chamado “contra-emprego”. Segundo o projeto aprovado, metade desse valor seria transferido para as centrais: algo em torno de R$ 130 milhões.
E, por isso, os sindicalistas estão tão nervosos. Hoje, um dia de trabalho de cada trabalhador formal é expropriado pelos “companheiros” sem que precisem tirar seu traseiro gordo da cadeira. O desconto é feito em folha. A emenda de Carvalho, ao tornar facultativa essa cobrança, obriga os sindicalistas, vejam que absurdo!, a se esforçar para filiar trabalhadores. O Imposto Sindical é herança do getulismo e resquício de relações fascistóides de trabalho. Onde já se viu o o estado operar a cobrança de um imposto para financiar entidades que, por natureza, têm de ser livres?
É bom ter memória e ter vivido certas coisas de perto. Eu os conheço, lembram-se? Na origem da formação do PT e, depois, da CUT, estava a “luta” contra o Imposto Sindical. O então “novo sindicalismo” em São Paulo, liderado por Lula, enfrentava um grande inimigo: Joaquinzão. Era o “rato da ditadura”, “um pelego” terrível, um “vendido” ao capital. Só existia, dizia-se, por causa do Imposto Sindical. Mas os tempos são outros, não é? Joaquinzão, “o vendido”, morreu pobre e sozinho num asilo. Lula, o “flagelo do capital”, é presidente da República. “O mundo é duzispértu”, poderia refletir o Apedeuta.
Paulinho, o fascistóide
Informam Denise Madueño e Eugênia Lopes no Estadão desta sexta: “A Força Sindical, comandada pelo deputado Paulo Pereira da Silva (PDT-SP), vai promover uma campanha nacional contra os deputados que ajudaram a aprovar o fim da obrigatoriedade do pagamento do imposto sindical pelos trabalhadores na sessão de quarta-feira à noite da Câmara. Nos jornais dos sindicatos, já na próxima semana, e posteriormente nas cidades dos deputados, a entidade vai publicar as fotos e os nomes dos parlamentares e tachá-los de inimigos dos trabalhadores. “Eles não agüentam dez dias de campanha. Principalmente os que são candidatos a prefeito. Quero ver eles explicarem na cidade que estão contra os trabalhadores”, afirmou Paulinho da Força.”
Para o líder do PSDB na Câmara, Antonio Carlos Pannunzio (SP), partido que ajudou a aprovar o pagamento optativo do imposto, “esse tipo de postura é fascista”. E complementa: “Essa história de fotografia em outdoor pode atingir quem não tem convicção. Nós somos contra destinar recursos do trabalhador — que poderiam ser aplicados em programas de capacitação e para aumentar o seguro-desemprego — para dirigentes de centrais fazerem política”. Na mosca! Mas, aí, os burgueses do capital alheio, a nova classe social que chegou ao poder, os mandarins do peleguismo serão obrigados a ir à luta. Acaba a mamata. Acaba o sindicato cartorial.
Os tontons macoutes dos sindicatos têm uma boa desculpa: e os impostos obrigatórios dos sindicatos patronais? Ora, são igualmente vergonhosos. E também têm de acabar. Por que Paulinho não apresenta uma proposta? Ou Vicentinho? E é bom começar por rever o “Sistema S”. Também nesse caso, trata-se de herança de um país velho, de entulho autoritário.
No Senado
Infelizmente, acreditem, a medida saneadora da Câmara tende a ser rejeitada no Senado, num conúbio entre “representantes” de sindicatos trabalhistas e patronais. Ninguém quer mexer na vida boa dos barões. Mais ainda: Lula pode vetar a mudança. E é provável que o faça, atendendo à sua base, se ela for aprovada pelos senadores. O PT, à diferença de tucanos (ver abaixo), jamais vota contra os seus.