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Reinaldo Azevedo

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Blog do jornalista Reinaldo Azevedo: política, governo, PT, imprensa e cultura
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Se a casa de Capilé não tivesse caído, logo ele estaria exportando escravos brasileiros, a exemplo do que fazem Fidel e Raúl Castro. Ou: Transar com “mulher feia” rende “lastro” no Fora do Eixo. Ou: Dois livros para ex-Fora do Eixo se desintoxicar do “capilezismo”

Leiam trecho de um livro, que segue em azul: O apartamento comunal era um microcosmo da sociedade comunista. Forçando as pessoas a compartilhar o lugar de moradia, os bolcheviques acreditavam que poderiam torná-las mais comunistas no modo básico de pensar e até de se comportar. O espaço e a propriedade privados desapareceriam, a vida familiar […]

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 31 jul 2020, 05h32 - Publicado em 27 ago 2013, 04h21
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  • Leiam trecho de um livro, que segue em azul:

    O apartamento comunal era um microcosmo da sociedade comunista. Forçando as pessoas a compartilhar o lugar de moradia, os bolcheviques acreditavam que poderiam torná-las mais comunistas no modo básico de pensar e até de se comportar. O espaço e a propriedade privados desapareceriam, a vida familiar seria substituída pela organização e pela fraternidade comunista, e a vida privada do indivíduo estaria sujeita à vigilância e ao controle mútuos da sociedade. Em todos os apartamentos comunais, havia uma divisão de responsabilidades, feita pelos próprios moradores.
    (…)
    Os kommunalkas desempenhavam um papel crucial no sistema coletivo de controle. Os moradores sabiam praticamente tudo sobre o vizinhos: suas agendas diárias, seus hábitos pessoais, seus visitantes e amigos, o que compravam, o que comiam, o que falavam ao telefone (que costumava ficar no corredor) e até mesmo o que falavam nos próprios quartos, pois as paredes eram muito finas (em muitos quartos, as paredes não chegavam ao teto). Espreitar, espiar e informar eram atos extremamente comuns nos apartamentos comunais da década de 1930, quando as pessoas eram estimuladas a ser vigilantes. Vizinhos abriam portas para observar os visitantes que passavam pelos corredores ou para ouvir uma conversa telefônica. Entravam nos quartos para “servir de testemunha” caso houvesse uma discussão entre marido e mulher (…). A premissa era a de que nada poderia ser privado em um apartamento comunal, onde se costumava dizer que “o que uma pessoa diz pode trazer infortúnio para todos nós”.
    (…)

    Voltei
    Daqui a pouco volto ao livro. Adiante. Se a casa de Pablo Capilé, o chefão do Fora do Eixo, não tivesse caído, logo ele estaria a imitar Fidel e Raúl Castro, exportando escravos brasileiros para criar casas “Fora do Eixo” na América Latina.

    A cada vez que escrevo sobre o tema, sempre aparece um bobalhão achando que ou estou tentando atrair membros ou ex-membros da seita ou, sei lá, oferecendo a eles meu ombro amigo. Nem uma coisa nem outra. E por dois bons motivos. O primeiro é que eu não teria para onde atraí-los. Não pertenço a entidade, grupo, partido, nada disso. Convidá-los para ir à missa, creio, não seria o caso porque o local já é público. Como escolho o culto tradicional, nem dá para ficar pulando, dançando e fazendo ginástica “na casa do Senhor”… Assim, a resposta é “não”. Não quero atrair ninguém.

    Também se descarte que eu pretenda oferecer ombro amigo, dar conselho, apontar um caminho ou oferecer uma orientação a quem quer que seja. Não sou guru. Não sou terapeuta. Não sou sacerdote. Nada contra. Cada um na sua. A minha é me interessar por indivíduos. Sou um anticoletivista radical. Chamo, não obstante, a atenção para o fato de que Capilé é, à sua maneira, honesto. O que quero dizer com isso? Ele representa, sim, a essência da “vivência socialista”. Esse rapaz achava que já era hora de acabar com a exploração do homem pelo homem, que caracteriza o capitalismo. E teve uma Ideia: “Por que a gente não faz o contrário?”. Então deu nisso. Ele é, assim, essa mistura de Woodstock com Kim Jong-un.

    Os cadáveres do Fora do Eixo começaram a sair do armário. Contam-me que não ando muito popular por lá porque me acusam de ter amplificado algumas reclamações que estavam restritas ao Facebook não as tivesse publicado aqui. Em parte, é mesmo verdade. Quando reproduzi o testemunho da cineasta Beatriz Seigner, a Casa de Horrores de Capilé começou a cair. Tinha sido aberta a Caixa de Pandora. Já não era sem tempo.

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    Nesta segunda, veio a púbico mais uma denúncia (íntegra aqui). É assinada por 16 ex-membros do grupo. Reforça, agora com mais clareza, aspectos sórdidos que já haviam sido enunciados por outros ex-abduzidos. O mais chocante é mesmo o papel desempenhado pelas mulheres e as táticas, acreditem!, de cooptação sexual. Reproduzo um trecho (em vermelho, conforme o original):
    Alimentada por uma lógica preconceituosa que afirma que as mulheres são mais eficientes na sistematização, são elas que organizam os arranjos, a contabilidade e as tecnologias, enquanto os homens, considerados mais eficientes na argumentação e no discurso, são direcionados para atividades externas, articulações políticas e arranjos com outros atores sociais, ampliando suas experiências para além das casas/coletivos, o que o leva a ter mais leituras políticas pelo contato com os ambientes e no próprio aumento de bagagem vinda destas experiências sociais. Desta forma, neste modus operandi, as mulheres tendem a estar em núcleos de “enraizamento” (fixos) cujas relações se dão dentro do seu ambiente/moradia e entorno, enquanto os homens estão em núcleos de “transcendência” (móvel), possuem uma dinâmica ativa e articulam as ações e projetos que vão sustentar o coletivo, numa relação que acontece fora daquela comunidade.

    Calma, gente, que vai piorar muito. O mais chocante mesmo é ler isto aqui (em vermelho):
    “Quem pega mulher feia ganha mais lastro”
    Dentro do escopo de cooptação da rede, está o de se relacionar com mulher “feia”. Aquele que mantiver relacionamento amoroso ou sexual com mulher considerada feia, com o fim de cooptá-la, é mais respeitado pelos demais (tem mais “lastro”). É comum ouvir o jargão entre os que estão mais próximos da cúpula de “quem pega mulher ‘feia’ ganha mais lastro”.

    “Lastro”, leitor, em “capilês castiço”, a língua que se fala por lá, corresponde aos serviços prestados à causa, o que garante a ascensão na hierarquia interna. O “Padrão Diamante”, digamos assim, é o próprio Capilé. Está no topo, é o Kim Jong-un disfarçado de Maluco Beleza porque tem mais “lastro”, já trabalhou mais — daí que tenha se libertado, segundo testemunhos, de tarefas rasas como faxina e cozinha. Isso é para quem ainda tem “pouco lastro”, particularmente as mulheres.

    Muito bem! Capilé criou um sistema, segundo essa denúncia, em que transar com as feias passa a ser um esforço remunerado com… lastro! O “quem vai pegar quem” é decidido pelo coletivo. O Fora do Eixo não descuida da ordem. Os que são considerados transgressores são submetidos a uma espécie de linchamento moral coletivo, chamado por lá “choque-pesadelo”.

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    O texto detalha:
    Quando um(a) agente está em conflito sobre as dinâmicas e ideologias dentro do grupo, pode vir a passar pelo o que a rede chama de choque-pesadelo, prática preventiva sobre a mediação de conflitos e não “contaminação” do grupo. Por outra leitura, o choque pesadelo é um tipo de assedio moral onde o agente “conflitador” é exposto a uma situação constrangedora e humilhante em que é confrontado por seus gestores e demais integrantes, sob uma forte conduta de opressão que o leva a mudar de opinião diante do seu constrangimento e a agir conforme as premissas do grupo. Há, com isso, o estabelecimento de um forte sentimento de culpa por aquilo que acreditava ou pelos “conflitos” por ela ou ele processados. Assim, é estabelecida uma politica de coerção, de forte cunho moralizador onde se aprende a respeitar pelo “lastro” de quem está acima e que se perpetua através do medo de contra argumentar e ser duramente rebatido.

    Os signatários do manifesto-denúncia admitem que eles próprios viam essas práticas autoritárias como normais:
    “Essas práticas, vistas por nós como repudiáveis, eram tidas por todos e todas, inclusive por nós, como naturais. Dentro da dinâmica da rede, da empolgação com a participação num projeto coletivo em que nós acreditávamos, essas situações eram aceitas como um desconforto necessário em prol de um projeto maior.”

    Voltando ao começo e ao livro
    Capilé, claro!, não vai fazer a revolução socialista. Ele só é um, como posso dizer?, rapaz esperto que reverte a seu favor os anseios de moças e moços que acreditam que podem mudar o mundo ou que, julgando-se extremamente talentosos, consideram-se injustiçados pelo sistema, que não reconheceria esse talento. Esse cara vive de alimentar em seus abduzidos o ressentimento e o ódio contra qualquer valor consagrado — daí o nome “Fora do Eixo”. Diversos testemunhos dão conta de seu desprezo pelos livros e pelos clássicos. Também eles fariam parte desse mundo que não reconhece os verdadeiros revolucionários e mudancistas. Ele não é idiota a ponto de achar que a sua fantasia será, um dia, a regra. Ao contrário: é espertalhão o suficiente para levar outros a acreditar na sua pantomima.

    Até agora, as pessoas que romperam com o “Fora do Eixo” o fazem, digamos assim, pela esquerda. Acusam Capilé de ser hipócrita; de pregar uma coisa e fazer outra; de comandar um novo sistema que, na prática, faz o contrário do que anuncia. Sem dúvida, parte dessa crítica procede. Mas não é menos verdade que esses moços todos continuam, até onde pude perceber, adeptos do tal coletivismo — só que pretendem que se implemente “o verdadeiro”. Não é que eles não acreditem na profecia do coletivismo; eles só descobriram que Capilé é um falso profeta.

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    Pois eu digo…
    Pois é. Essa gente corre o risco de, mais adiante, cair na conversa de um novo picareta. A única vantagem de envelhecer é a experiência. Se a gente conseguir juntar a ela alguns livros, melhor.

    Proponho a membros e ex-membros do Fora do Eixo que leiam o livro “Sussurros”, de Orlando Figes, publicado pela Editora Record. Transcrevi trechos das páginas 223, 225 e 226 no alto deste post. Figes conta, com riqueza de detalhes, como era a vida privada durante o stalinismo. Eu não tenho dúvida de que os que passaram pelas Casas Fora do Eixo e conseguiram se libertar se viram, em muitos aspectos, retratados no que vai lá no alto. Se Capilé lesse alguma coisa, também não duvido de que acharia Stálin um gênio. Afinal, o tirano conseguiu fazer em toda a União Soviética o que ele, Capilé, até agora, conseguiu realizar apenas em algumas casas.

    Foi tentando criar uma sociedade em que o coletivo tivesse mais importância do que o indivíduo que se criou na União Soviética um sistema que assassinou 40 milhões de pessoas. Só o comunismo chinês matou mais — quase o dobro. E as casas de Capilé se enquadrariam perfeitamente bem no modo Mao Tsé-tung de ser. Aí, meus caros, o livro já é outro: “Mao, A História Desconhecida”, de Jon Holliday e Jung Chang. Transcrevo um trechinho da página 309 e 310:

    (…)
    Mao conseguiu fazer com que [as pessoas] dessem informações umas sobre as outras. Assim, rompeu a confiança entre elas e impediu-as, pelo medo, de trocar opiniões (…). Também não era possível manter correspondência com o mundo exterior, inclusive familiares (…) A míngua de informações provocava, aos poucos, a morte cerebral (…) Durante a campanha, as pessoas foram pressionadas a entregar seus diários (…). Dois anos desse tipo de doutrinação transformaram os jovens voluntários de defensores apaixonados da justiça e da igualdade em robôs. Em junho de 1944, quando jornalistas de fora tiveram licença (…) para entrar em Yenan, um correspondente (…) observou uma unidade estranha e sinistra: “Se você faz a mesma pergunta a 20 ou 30 pessoas, de intelectuais a operários, sobre qualquer tema, suas respostas são sempre mais ou menos as mesmas (…) Até em questões de amor, parece haver um ponto de vista que foi decidido em reuniões
    (…).

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    Entenderam, senhoras e senhores ex-Fora do Eixo? Capilé é só a expressão mais eloquente de uma má ideia. O coletivismo tem história. Na China, se fez com 70 milhões de cadáveres e uma tirania que persiste até hoje. Nota: o relato acima é de 1944. O PC chinês só chegou ao poder em 1949. O regime nem havia dominado ainda o poder central e já se impunha pelo terror.


     

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