Recebo um convite para participar de um seminário do iFHC (o Instituto Fernando Henrique Cardoso), no dia 18 de abril, uma segundona, entre 16h e 18h30. É dia e hora de trampo, mas vá lá… Poderia até ser. O tema não me deixou muito excitado: “Cultura das Transgressões no Brasil – cenários do amanhã”. Huuummm… Eu estou na turma que gosta mais de seminário sobre a cultura do cumprimento da lei, coisa em que somos ruins pra chuchu (ver post lá no alto). Mas vá lá também. Eu até poderia sair de casa para isso.
O primeiro palestrante e Aristides Junqueira, ex-procurador-geral da República. Talvez eu fosse. O segundo é o petista explícito Paul Singer, secretário nacional de Economia Solidária. Já comecei a ficar com certa preguiça ainda que não tivesse o que fazer. O terceiro é o petista enrustido (ele deve achar que a gente não percebe…) Renato Janine Ribeiro, professor de filosofia e ética da USP.
Huuummm…
Renato Janine Ribeiro? A última grande contribuição deste senhor à ética foi escrever um artigo, em setembro do ano passado, em que censurava José Serra e as oposições pela quebra do sigilo fiscal da família de… José Serra! Isto mesmo: o ético Janine culpava a vítima. E deixava claro que o fazia em nome da democracia. Eu lhe passei uma carraspana, que está aqui. Reproduzo um trecho e volto para encerrar.
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Para Janine, cinco ou seis crimes constrangeriam; já centenas deles retiram a importância daqueles cinco ou seis. No auge da delinqüência intelectual, sustenta o texto:
“O outro ponto: sem provas da ligação do detestável delito com a candidatura Dilma, o candidato que está atrás nas pesquisas quer anular na Justiça os votos dela.
Se for jogo de cena para levar ao segundo turno, não é bonito, mas vá lá. Se for uma tentativa de anular 60% dos votos válidos e empossar um presidente votado por 25% dos eleitores, será um golpe fatal na nossa democracia.”
Sem provas? A reportagem do jornal que publica o seu texto encontrou o sigilo de Eduardo Jorge, vice-presidente do PSDB, com a equipe de campanha de Dilma Rousseff. Dados do sigilo de Verônica Serra e de Alexandre Bourgeois, seu marido, estavam no papelucho do tal Amaury Ribeiro Jr., flagrado na reunião da equipe de pré-campanha da petista com arapongas para fazer o dossiê contra o candidato tucano. No texto, Janine disse que chegou a pensar em ser jornalista, mas desistiu. Ainda bem! Pode continuar a dar as suas aulas de “ética” manuseando a lógica com o interesse que uma raposa tem na preservação das galinhas.
Observem: caso uma parcela dos eleitores que votam em Dilma rejeite o expediente petista de fazer política e mude a sua opção, a culpa (ele fala, afinal, do ponto de vista de quem está alinhado com Dilma, embora omita isso do leitor) terá sido de quem? Ora, de Serra, cuja família teve o sigilo violado. O tucano, ao ser vítima do PT, se tornaria o responsável pelo eventual prejuízo causado ao PT! E Janine não acha isso bonito. De jeito nenhum! Quanto à suposta “tentativa de anular 60% dos votos válidos…”, bem, aí já estamos no terreno da burrice mesmo, abaixo até da vigarice intelectual. Caso Dilma se eleja e se comprove um crime eleitoral que resulte na cassação do registro de sua candidatura, ela será cassada, seguindo a lei. Ponto final. Aconteceu com alguns governadores de Estado. Janine não protestou.
O perigo do pensamento deste senhor sensível nem sempre é percebido de imediato porque as aberrações autoritárias que escreve são sempre vazadas numa linguagem frívola. Leiam isto: “E o povo não merece que se destrua a democracia, que a discussão política se reduza a uma crônica policial ou que os vários lados fiquem de birra um com o outro.” Para Janine, a violação da Constituição não concorre para “destruir a democracia”. Tudo não passa de mera “crônica policial”, nada mais do que “birra”. Está à altura do pensamento de seu chefe, que afirmou ontem no horário eleitoral gratuito que Serra é “candidato da turma do contra” e “torce o nariz para tudo”. Janine deve invejar essa capacidade que Lula tem de ser brutal. Ele não consegue. Precisa disfarçar seu pensamento sanguinolento com os fricotes, bordados e rendas de um “filósofo sensível”.
Para evidenciar que a reação da oposição e da imprensa – que, segundo Janine, apoiaria Serra (!?!?!?) – é exagerada, ele chega a afirmar que, nesse episódio das invasões de sigilo, “se alguém pode ser prejudicado, é Dilma Rousseff (PT).” Logo, se alguém pode ser beneficiado, é José Serra (PSDB). Logo, os tucanos se tornam os culpados pela invasão de seu sigilo praticada pelos petistas. Logo, os petistas acabaram fazendo um bem aos tucanos – só que não sabiam disso.
(…)
Voltei
Paul Singer e Renato Janine Ribeiro no iFHC? Ah, estarei ocupadíssimo nesse dia! Se quisesse assistir a seminários com eles, iria à Fundação Perseu Abramo. “Ah, o Reinaldo não gosta de ouvir o contraditório!” Como se percebe acima, o tipo de “contraditório” que Janine encarna não me interessa.
O iFHC não é um instituto tucano, mas é a entidade criada pelo ex-presidente, hoje presidente de honra do PSDB. Nem sei se ele acompanha a agenda de eventos. É provável que não. Pouco importa! Um seminário como esse parece ter sido feito para atrair petistas. E eu concordo com FHC (post acima): o público da oposição é outro. Janine gosta de dar umas filosofadas com a chamada cultura popular. Faço-lhe uma homenagem. Seminário com ELE???
“Vou não, quero não, posso não, Dona Reinalda não deixa, não…”