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Blog do jornalista Reinaldo Azevedo: política, governo, PT, imprensa e cultura
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Por um país mais corrupto, mais burro e mais feio! O PT que protege Valdemar Costa Neto quer tirar Gisele Bündchen do ar

O Brasil assistiu ontem a uma cena explícita de pornografia política. Por 16 votos a 2, o Conselho de Ética da Câmara rejeitou a abertura de processo disciplinar contra o deputado Valdemar Costa Neto (SP), o chefão do PR e um dos réus no processo do mensalão. Ele era, como todos sabem, o grande comandante […]

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 31 jul 2020, 10h37 - Publicado em 29 set 2011, 07h59

O Brasil assistiu ontem a uma cena explícita de pornografia política. Por 16 votos a 2, o Conselho de Ética da Câmara rejeitou a abertura de processo disciplinar contra o deputado Valdemar Costa Neto (SP), o chefão do PR e um dos réus no processo do mensalão. Ele era, como todos sabem, o grande comandante do Ministério dos Transportes. Nem Dilma Rousseff agüentou. Demitiu o ministro Alfredo Nascimento e mais 25 pessoas no Dnit. Mas a esmagadora maioria do Conselho, sob o comando do PT e orientação do Planalto — a “Faxineira Mestra” não quer mais saber da vassoura para varrer coisa nenhuma —, decidiu que nada há que desabone aquele patriota. Que fique claro: o conselho estava apenas decidindo se existiam ou não INDÍCIOS para abrir o processo. Não era uma sentença de condenação.

Michel Temer (PMDB), o vice presidente, já disse anteontem uma frase e tanto: “Não se pode governar de vassoura na mão”. E com a sujeira debaixo do tapete? Ah, isso pode! Enquanto o PT, num canto, salvava Valdemar, o mesmo PT, no outro, se mobilizava para tirar do ar uma propaganda estrelada por Gisele Bündchen. VOCÊS ENTENDERAM DIREITO: O PARTIDO QUE ESTÁ NO PODER ACHA QUE GISELE FAZ MAL AO BRASIL E QUE VALDEMAR FAZ BEM. Antes que avance, vejam o sempre excelente Heraldo Pereira comentando o caso Valdemar e entrevistando os deputados Fernando Francischini (PSDB-PR) e Amauri Teixeira, do PT da Bahia, no Jornal da Globo.

https://s.videos.globo.com/p2/player.swf

Publico o vídeo para que não reste a menor dúvida de que o PT trabalhou ativamente para livrar a cara do “companheiro” Valdemar. Faz sentido. No processo do mensalão, por exemplo, José Dirceu ocupa uma posição superior à do deputado do PR na hierarquia do crime. Na prática, o tal Ademir está defendendo a sua própria turma. Mas a vida, felizmente, é mais do que essa gente com cara de recepcionista de funerária de filme B. Também nos reserva beleza e graça. E isso o PT, evidentemente, não pode suportar. A petista Iriny Lopes, titular da Secretaria de Políticas para as Mulheres, decidiu enroscar com um comercial estrelado por Gisele Bündchen. A ministra, de uma corrente do partido chamada “Articulação de Esquerda”, encaminhou um ofício ao Conselho de Auto-Regulamentação Publicitária (Conar) pedindo que uma série de comercias sobre lingerie seja retirada do ar. Nos filmes, uma Gisele com vestido ou bermuda dá uma má notícia ao marido; na tela, aparece, então, a palavra “Errado”. Em seguida, usando a lingerie, ela dá a mesma notícia, e aí surge a palavra “certo”. Uma voz em off recomenda: “Você é brasileira; use seu charme! Hope, bonita por natureza”. Iriny não gostou! Assistam a um dos filmes. Volto em seguida.

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Espírito bucéfalo do tempo
Antes que comente a interpretação petralha que fizeram da propaganda — eles a entenderam pelo avesso!—, é preciso comentar a boçalidade dessa gente articulada com o espírito do tempo. O fim do comunismo — e, no particularíssimo aspecto de que tratarei, a boa notícia teve o seu lado trágico — conseguiu fazer um mal imenso à inteligência. Enquanto aqueles tarados viviam perseguindo a “revolução social” ou se organizavam para tentar dar o golpe final na democracia, a própria democracia estava razoavelmente protegida da estupidez, do obscurantismo, da ignorância. Ficavam lá metidos em suas igrejas de pensamento, organizando as suas conspiratas, e não importunavam tanto. Quando a perspectiva da grande virada se desfez, a esquerda se fragmentou nesses intoleráveis e, acima de tudo, INTOLERANTES, “movimentos de minoria”. A pauta, no fim das contas, é a mesma — continuam empenhados em destruir a sociedade democrática —, só que, agora, falam em nome de grupos organizados. A “classe operária” saiu de cena; em seu lugar, entraram “as mulheres”, “os gays”, “os negros”, os “sem-terra”, os “ecologistas”, os “sem-isso”, os “sem-aquilo”…  E as lideranças dessas ditas minorias se empenham, então, em impor a sua vontade ao conjunto da sociedade.

Os antigos comunas, ao menos, tinham lá sua idéia de universalidade, que se revelou estúpida, brutal, homicida. As minorias de agora não são menos autoritárias, não! Apenas não dispõem dos mesmos instrumentos e não podem aderir à mesma forma de luta. Mas a sua determinação de destruir valores universais — porque, supostamente, expressões de uma sociedade burguesa, reacionária — é, no que respeita à filiação de idéias, ainda que não o saibam, caudatária do lixo leninista. A tal lei que quer punir a homofobia não vê problema nenhum em golpear junto a liberdade de expressão. A causa justificaria. A dona Iriny considera que uma forma de censura é o caminho mais curto para ela proteger o direito das mulheres. A conclusão é inescapável: para o PT, Valdemar Costa Neto é parte da democracia, mas aquela propaganda ofende gravemente.

Gente sem humor, sem inteligência, sem referência
Já escrevi aqui certa feita que, se Swift (1667-1745) reencarnasse no Brasil e escrevesse hoje, quase 300 anos depois, o seu “Uma modesta proposta para prevenir que, na Irlanda, as crianças dos pobres sejam um fardo para os pais ou para o país, e para as tornar benéficas para a República”, seria denunciado pela ministra Maria do Rosário (Direitos Humanos). Afinal, ele recomendava que os irlandeses resolvessem o problema da fome comendo as crianças dos pobres. Sim, era uma ironia. Mas não para quem Swift é só uma marca de salsicha.

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Posso estar enganado, claro! — vai que o obtuso seja eu, e Iriny, uma iluminista —, mas entendo que o filme da agência Giovanni+DraftFCB ironiza o machismo ao colocar no papel de submissa, de “loura desfrutável”, uma mulher inegavelmente bem-sucedida, que enriqueceu pelo próprio esforço (à diferença de pilantras que livram a cara de pilantras), que há muito não precisa pedir autorização para homem nenhum para fazer o que bem entende. Essa agência já fez a propaganda de uma TV por assinatura. Víamos a mesma Gisele, ajoelhada, com um balde do lado, a limpar o assoalho. Um maridão meio pançudo, feioso, assistindo a um jogo de futebol, de papo pro ar, pede que ela interrompa o serviço para pegar mais um cervejinha na geladeira… E ela cobra que ele, ao menos, peça “por favor”. Houvesse só uma “gostosa” desempenhando um papel ou outro, talvez a polêmica fizesse algum sentido — ainda que o pedido para tirar a propaganda do ar continuasse estúpido. Mas se recorre a Gisele justamente para fazer com que o machismo, um dado da realidade, passe a girar em falso.

Não é mesmo incrível que os petistas acreditem que um comercial de lingerie seja ofensivo às mulheres, mas não a proteção ao tal deputado? Quem, no fim das contas, quer tratar as mulheres como idiotas?

Como disse aquele ministro, os idiotas, definitivamente, perderam a modéstia. Se não tomarmos cuidado, em breve, teremos de sair à rua munidos com um manual de instruções para não apanhar de vara das “polícias das minorias”. A ministra Iriny deveria dedicar os seus melhores esforços para criar a calcinha e o sutiã politicamente corretos. Não que homens liguem muito para isso, como sabem todos aqueles que me lêem. Quase sempre, quando essas peças têm alguma importância, a gente está pensando em outra coisa. Alguma das moças que me lêem já ouviu o gajo a dizer coisas como: “Mas essa sua rendinha, hein?” Só se foi o melhor amigo… Mas tá. Talvez Iriny devesse reunir o Comissariado do Povo para Assuntos de Calcinha e decidir que tipo de peça íntima deve usar a mulher para que não seja tratada como mero objeto. Ceroulas talvez…

Encerro
Eles não estão apenas tornando o país mais corrupto. Eles também o deixam mais burro e o querem mais feio. À imagem e semelhança do criador.

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