Oposição que critica queda de juros pode estar com um problema achando que está com a solução
Ai, ai… Vamos ver por onde eu começo. Começo contra mim: não sou economista. Pronto! Agora os adversários já podem dizer: “Então fique de boca fechada!” Mas nem pensar! Nunca! Nem quando opino sobre furacões e, como é mesmo?, tempestades extratropicais — sou sempre contra… Também não sou funcionário do preconceito: “Se baixou juro, critico; […]
Ai, ai… Vamos ver por onde eu começo. Começo contra mim: não sou economista. Pronto! Agora os adversários já podem dizer: “Então fique de boca fechada!” Mas nem pensar! Nunca! Nem quando opino sobre furacões e, como é mesmo?, tempestades extratropicais — sou sempre contra… Também não sou funcionário do preconceito: “Se baixou juro, critico; se elevou, também.” As opiniões sobre a decisão do BC se dividem, mas uma coisa é inequívoca: oposição que vai à TV atacar queda de juros está com problema achando que tem a solução.
Olhem aqui: há avaliações para todos os gostos. O pouco que sei me indica que o governo vai economizar uns trocos; que esse meio ponto a menos, de fato, nem cheira nem fede; que a gritaria sobre a perda de autonomia do Banco Central (que, de fato, com muitos gostariam que houvesse, não existe) tem um quê de histeria; que os juros seguem sendo os mais altos do planeta — e muito mais altos, não um pouco. Antes que eu volte lá ao lead, quero chamar a atenção dos coleguinhas para uma coisa.
Se eu fosse da área de economia ou do tal “jornalismo investigativo”, já estaria tentando saber, a esta altura, quem, no mercado, ganhou com a redução dos juros. Convenham: dado o andar da carruagem, era preciso ser porra-louca ou vidente para apostar numa queda de meio ponto na taxa. Como porra-louca de mercado já virou mendigo, e como videntes não existem, seria interessante saber como foi que alguns poucos, pouquíssimos, ganharam com a aposta. “Ah, mercado é assim mesmo, é risco!” Uma ova! Nem os poucos economistas que defendiam a redução acreditavam que ela fosse acontecer. O padrão dos últimos anos é corresponder às expectativas. Sim, há boatos de vazamentos. Eu acho que é meter a enxada nesse terreno para ver pular as minhocas. Dito isso, sigamos.
Vi ontem no Jornal Nacional o senador José Agripino (RN), presidente do DEM, e o líder do PSDB na Câmara, Duarte Nogueira (SP), criticar a decisão do Banco central. Acusam a interferência política do governo federal, especialmente da presidente Dilma, na decisão. Huuummm… Vamos ver. Se o BC fosse mesmo independente, Dilma não poderia demitir o presidente se quisesse. E ela pode. Nem FHC nem Lula — e, provavelmente, Dilma não o fará — operaram a independência efetiva do banco. Eu, sinceramente, nunca achei que o tucano ou o apedeuta (e, agora, a soberana) tivessem de ser proibidos de dar uma opinião. Seria injusto não reconhecer ao presidente da República um direito que assiste a qualquer operador de corretora, não é mesmo?
“Ah, mas o que se fez foi pressão”. Há uma contradição aí — e eu sou lógico no limite da autotortura — que precisa ser considerada: se as pressões são aquelas entrevistas de Dilma e Mantega, então a “autonomia” do Banco Central vai bem, porque foram leves. Se estão falando de uma pressão que se ignora e que é só presumida, então como saber? “Pressão” feita numa entrevista púbica não chega a ser exatamente pressão.
De volta à oposição
Agripino e Duarte Nogueira são dois bons parlamentares. Ambos têm tido uma postura correta, digna e valente como representantes da oposição. Se acharam que a redução foi indevida, fazer o quê? Talvez parar para ponderar um tantinho. Virá por aí um descontrole inflacionário decorrente desse meio ponto, de tal sorte que se poderá dizer “Vejam que absurdo se fez! Olhem o que custa a interferência política no Banco Central!” Não virá — não, ao menos por causa dessa redução. As expectativas vão se deteriorar a ponto de a população começar a sofrer os efeitos da suposta “interferência”? Não também! Esse discurso, no fim das contas, mobiliza quem? As massas da Febraban? Uma coisa é criticar inconsistências da política macroeconômica, e existem. Outra é criticar queda dos juros alegando a dita pressão…
Eu estou falando sobre política, entendem? Estou comentando a avaliação de dois políticos. Sinceramente, não acho que os argumentos para manter a taxa fossem muito mais sólidos do que os argumentos — bem rarefeitos nas explicações do BC, diga-se — para baixá-la. A decisão “surpreendeu” porque, aí sim, a quase totalidade do mercado havia apostado na manutenção da taxa. Mas, que eu saiba, era uma aposta, certo? Não houvesse a possibilidade de perder, o BC seria um cartório.
E encerro reiterando meu convite: a pauta do momento é saber quem ganhou, como e por quê. Acho que dá samba.