Por Gabriel Castro, na VEJA.com:
Há mais de uma década, o eleitor do Distrito Federal acostumou-se a uma lamentável realidade: os políticos eleitos para representá-los acabaram envolvidos em escândalos de corrupção. A lista começa com Joaquim Roriz, passa pelo ex-senador Luiz Estevão, continua com José Roberto Arruda e atinge até o atual governador e candidato à reeleição, Agnelo Queiroz. Em 2014, a história não será diferente. Na semana passada, Roriz filiou-se ao nanico PRTB, seguindo os passos de Estevão. Arruda agora faz parte do PR.
Graças à Operação Caixa de Pandora, da Polícia Federal, que derrubou Arruda, e à Lei da Ficha Limpa, que tirou Roriz da disputa, o petista Agnelo venceu a eleição de 2010 com facilidade. Agora, ele luta contra a popularidade baixa e a perspectiva de uma disputa dura. A primeira conquista importante ele obteve: conseguiu do PMDB o compromisso de manutenção da aliança que o levou ao governo há três anos, embora uma ala do partido ainda ameace saltar do barco. Parte da dificuldade decorre da péssima gestão de Agnelo, somada ao histórico de escândalos mal – ou não – explicados. Por isso, nunca tantos nomes se animaram a disputar um lugar no Palácio do Buriti. Grupos políticos em decadência e antigos aliados do PT se entusiasmaram em entrara na briga.
José Roberto Arruda, que ainda não escolheu qual cargo disputará, precisará convencer o eleitor, pela segunda vez, que merece perdão. Em 2001 ele participou da violação do painel eletrônico do Senado e renunciou ao mandato para fugir da cassação. Voltou ao poder em 2002, como deputado federal. Em 2006, elegeu-se governador do Distrito Federal. Três anos depois, quando o esquema de corrupção montado por ele veio à tona, Arruda sucumbiu novamente diante de algumas das mais deploráveis imagens de roubalheira explícita da política brasileira – Arruda, por exemplo, aparece recebendo dinheiro de corrupção em um pacote. Ele chegou a ser preso pela Polícia Federal por cooptação de testemunha e perdeu o mandato.
Naquela época, o então governador deu sinais de que pensava em se manter na política: antes de ser expulso do DEM, deixou o partido por conta própria. Acabou enquadrado na lei de fidelidade partidária, que tirou-lhe o mandato. Ele tinha direito de recorrer à decisão do Tribunal Regional Eleitoral (TRE), mas optou por não fazê-lo. Há uma razão: com essa punição, Arruda apenas ficava sem o cargo de governador, mas estava apto a disputar as próximas eleições. Caso permanecesse no posto, ele fatalmente seria cassado pela Câmara Legislativa do DF, o que lhe renderia um período de cinco anos de inelegibilidade.
Agora, o ex-governador chega ao PR com as bênçãos de Valdemar Costa Neto, mensaleiro e maior articulador do partido. Ele não hesitou em desalojar o comando do partido no Distrito Federal para emplacar um aliado de Arruda no posto.
Roriz
Já o ex-governador Joaquim Roriz, dono de um expressivo capital eleitoral, está firmemente disposto a se candidatar ao governo. Mas tem uma situação mais delicada: aos 77 anos, ele tem grandes chances de ser barrado pela Lei da Ficha Limpa. O governador renunciou ao mandato de senador, em 2007, para fugir da cassação, depois de ser flagrado negociando a partilha de 2,2 milhões de reais de origem escusa.
No fim de setembro, Roriz – que havia deixado o PSC após as eleições de 2010 – chegou a acertar seu ingresso no DEM. Mas a Executiva Nacional do partido decidiu rejeitar o registro. O ex-governador e sua filha, a deputada distrital Liliane Roriz, migraram para o PRTB. O partido, em Brasília, é comandado por ninguém menos do que o ex-senador Luiz Estevão. Jaqueline Roriz, outra filha do político e deputada distrital flagrada embolsando dinheiro desviado, é filiada ao PMN.
Estevão enfrenta o ostracismo há mais tempo que os colegas: cassado em 2000 por envolvimento em desvio de recursos públicos na obra do Tribunal Regional do Trabalho (TRT) de São Paulo, ele só poderá voltar a disputar eleições em 2022, devido à Lei da Ficha Limpa. Por isso, dedica-se à articulação política. Neste ano, o ex-senador se filiou ao PRTB e passou a comandar o partido na capital federal. “Eu vou me dedicar mais às chapas para deputados federais e distritais”, diz ele.
Se for barrado pela Justiça Eleitoral, Roriz deve abandonar os planos eleitorais. Quem diz é Luiz Estevão: “Ele não cogita disputar outro cargo que não seja o de governador”. Nesse caso, o plano já está traçado: quem irá para a disputa majoritária é Liliane Roriz. “A disposição dele em disputar o governo é real. Mas eu sou o plano B do meu pai”, diz Liliane, que recentemente trocou o PSD pelo PRTB.
Em 2010, Roriz fez uma manobra desastrada e escolheu sua mulher, Weslian, para sucedê-lo e evitar o risco de impugnação da chapa por causa da Lei da Ficha Limpa. Inexperiente e despreparada, ela passou vexame nos debates e acabou derrotada por Agnelo.
Nova ala
Depois de apoiar Agnelo em 2010, o deputado federal José Antônio Reguffe (PDT) aceitou participar da disputa pelo governo no ano que vem. Ele foi apontado pelo diretório regional de seu partido na semana passada e aceitou a indicação. Deputado federal com maior votação proporcional em 2010 (20% dos votos do Distrito Federal), Reguffe aposta suas fichas no discurso moralizador em um momento de descrédito generalizado.
Mas a falta de apoio de outras legendas pode prejudicá-lo. A decisão do PDT – partido que Reguffe quase deixou para se filiar à Rede Sustentabilidade – surpreendeu porque foi repentina e criou um problema: Rodrigo Rollemberg, do PSB de Marina Silva e Eduardo Campos, deve disputar o governo. O PDT não pretende recuar. “Imagine que o PDT decida apoiar Eduardo Campos no Brasil inteiro. Ele vai ter que fazer alguns gestos em alguns estados. E pode apoiar o Reguffe em Brasília”, diz o senador Cristovam Buarque, comandante do PDT do DF.
Cristovam diz que Rollemberg e Reguffe podem disputar simultaneamente, mas vê problemas na possibilidade de divisão: “Se nenhum dos dois conseguir atrair o PSOL, aí fica mais difícil. Eles vão ter que se juntar”, avalia o senador, que governou o DF de 1994 a 1998. O senador Rodrigo Rollemberg (PSB) não é propriamente uma novidade: em 2002, ele foi candidato a governador e não chegou ao segundo turno. Agora, entretanto, com a crise de Agnelo e o projeto presidencial do PSB, o nome do senador parlamentar pode ganhar força.
A lista de potenciais candidatos vai além: a deputada distrital Eliana Pedrosa também deve reforçar o time de oposição. A parlamentar, que já foi do DEM e do PSD, assumiu o comando do PPS na capital federal. O PSDB, por sua vez, pode lançar como candidatos dois ex-aliados de Agnelo: os deputados federais Izalci Lucas e Luiz Pitiman. É possível que, até abril, quando as chapas serão montadas, o cenário sofra alterações. Mas alguns personagens que envergonharam a política do Distrito Federal dificilmente ficarão de fora.