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Movimentos gays mundo afora mentem descaradamente sobre declaração de Turkson; inverdade chega à imprensa brasileira. Vamos ver o que o cardeal de Gana realmente disse

Peter Turkson, arcebispo de Gana, já caiu na boca do sapo, em especial dos movimentos gays, que hoje se querem os juízes supremos do mundo. E por quê? No dia 12 deste mês, ele concedeu uma entrevista a Christiane Amanpour, da CNN. É impressionante o que fizeram com as suas palavras, especialmente depois que seu […]

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 31 jul 2020, 06h43 - Publicado em 8 mar 2013, 22h44

Peter Turkson, arcebispo de Gana, já caiu na boca do sapo, em especial dos movimentos gays, que hoje se querem os juízes supremos do mundo. E por quê? No dia 12 deste mês, ele concedeu uma entrevista a Christiane Amanpour, da CNN. É impressionante o que fizeram com as suas palavras, especialmente depois que seu nome passou a ser seriamente considerado para assumir o Pontificado. Suas palavras foram miseravelmente tiradas do contexto, distorcidas, ignoradas. Caso se interessem, façam depois uma pesquisa. É assustador!

– Turkson teria dito que não há gays na África. Mentira!
– Turkson teria dito que a pedofilia é coisa de gays. Mentira!
Turkson teria dito que a pedofilia é coisa de brancos. Mentira!
Turkson teria culpado os gays pela pedofilia. Mentira também!

A distorção chegou ao Brasil, é evidente! Por aqui, se omitiu o contexto da entrevista e em que circunstância ele deu a resposta considerada “polêmica”.  Muito bem. Fui procurar a entrevista. Achei. Está aqui.

https://i.cdn.turner.com/cnn/.element/apps/cvp/3.0/swf/cnn_416x234_embed.swf?context=embed_edition&videoId=international/2013/02/12/exp-peter-turkson-amanpour.cnn

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Entre 7min18 e 7min23, Christiane pergunta se ele acredita que os casos de pedofilia dos EUA e da Europa podem chegar à África. E o que ele responde?

“Ahn… Do I believe that it can sweep through Africa? Unfortunately! Not in the same proportion as we have seen in Europe. Probably because African traditional systems kind of protect or have protected its population against this tendency. Because in several communities, in several cultures in Africa, homosexuality, or for that matter, any affair between two sexes of the same kind, are not countenanced in our society. So, that cultural, if you want, the taboo, that tradition has been there. It’s helped to keep this out.”

Ou:

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“Se eu acredito que pode chegar à África? Infelizmente, mas não na mesma proporção em que temos visto na Europa. Provavelmente porque os sistemas [culturais] tradicionais da África protegem ou têm protegido suas respectivas populações dessa tendência. Porque, em várias comunidades, em várias culturas na África, a homossexualidade, ou uma relação entre pessoas do mesmo sexo, não é tolerada. Assim, aquela cultura — se você quiser, aquele tabu — , a tradição, tem colaborado para isso”.

Na transcrição ou na versão que circula mundo afora, há duas desonestidades essenciais, além da interpretação que avança para a má-fé. A primeira desonestidade: 1) omite-se que Turkson está falando dos casos de pedofilia da Igreja Católica, não dos de fora dela; 2) omite-se o “infelizmente”, que, na sua resposta, quer dizer “sim”. Logo, Turkson acredita, sim, que as denúncias de pedofilia podem alcançar a Igreja Católica da África — e ele diz por que não seriam na mesma proporção do que na Europa. Já chego lá.

Assim, se podem alcançar a Igreja da África, Tukson não está dizendo que inexiste homossexualidade por lá ou que isso é coisa de branco. É uma safadeza fazer essa inferência. É mesmo uma canalhice intelectual. Adiante.

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Em seguida, o bispo diz o óbvio — que, aliás, os gays deveriam ser os primeiros a reconhecer. A maioria das culturas tradicionais africanas é mesmo hostil, o que evolui, com frequência, para a violência, à homossexualidade. É verdade ou mentira que a chamada “cultura ocidental” é mais tolerante nesse particular? Está claro que ele não está afirmando que isso torna os africanos imunes (ou algo parecido) à homossexualidade. O que fica claro é que os aspectos culturais dificultam a expressão desse desejo. É matéria para a sociologia e a antropologia.

A outra mentira estúpida, ainda mais séria, é a que sustenta que o bispo associa a homossexualidade à pedofilia. Mentira também! Uma ONG americana chamada Snap, que lida com vítimas de pedofilia, censurou seu comentário; disse que ele o desqualifica para ser papa e que não há distinção entre homossexuais e heterossexuais nesse particular.

Vivemos um tempo em que os movimentos militantes é que decidem o sentido das palavras. Notem bem: o bispo não disse que os homossexuais tendem mais à pedofilia do que os heterossexuais. Ignoro se há estudos sérios a respeito. Ele se referia especificamente à questão da Igreja. Está apontando, portanto, para outra questão, esta, sim, relevante.

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A esmagadora maioria dos casos de “pedofilia” na Igreja, não adianta torcer os fatos, está relacionada a jovens do sexo masculino — são mais expressões da “efebofilia”. As ocorrências envolvendo meninas são excepcionais. Vamos ignorar esse dado? Vamos fazer de conta que ele não existe só para não ferir as susceptibilidades destes ou daqueles? Lembram-se do ex-bispo de Arapiraca? Foi considerado “pedófilo”. O coroinha que ele “pegava” tinha 20 anos, se não me engano… Pedofilia? Tenham paciência!

Estou apanhando que é uma beleza de alguns católicos, furiosos porque defendo o fim do celibato sacerdotal. Defendo, sim! Não é matéria de doutrina. Ou a Igreja Católica teria passado quatro séculos vivendo “fora” dela. Ou São Pedro, o que tinha sogra, não teria sido habilitado para ser o fundador da Igreja. Ou São Paulo não teria dito que um bispo tinha de ser, necessariamente, um bom marido. E também não teria emendado que é “melhor casar do que abrasar-se”.

Turkson está tocando na questão real e fulcral no que diz respeito aos escândalos: a maioria dos ditos casos de “pedofilia” da Igreja se refere, na verdade, a casos de homossexualidade. É por isso que escrevi faz tempo que a Igreja não pode ser armário, ué. A exigência do celibato oferece uma saída socialmente aceita a muitos homossexuais. Vamos ignorar isso também? Keith O’Brien, o cardeal escocês que renunciou e que não vai participar do conclave, admitiu “atos impróprios” não com crianças, mas com seminaristas.

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Turkson está sendo demonizado pelo que não disse:
Não disse que não há gays na África;
Não disse que a cultura africana impede a existência de gays;
Não disse que a Igreja na África está livre dos escândalos;
Não disse que gay é coisa de branco;
Não disse que a pedofilia é coisa de gays.

São mentiras asquerosas, espalhadas mundo afora, façam uma pesquisa, por sites ligados à causa homossexual ou ao “catolicismo progressista”. Essas pessoas têm todo o direito de defender seus pontos de vista e de atacar os do cardeal. Mas que contestem o que ele disse, não o que não disse.

Da mesma sorte, a imprensa brasileira poderia tomar um pouco mais de cuidado.

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