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Monteiro Lobato – O Voltaire da Botocúndia. Uma homenagem ao autor em tempos de barbárie intelectual

Caros, Se você clicar aqui, terá acesso à integra de um pequeno ensaio que escrevi em 1998 sobre a obra de Monteiro Lobato, que voltou a ser perseguido, numa manifestação de incrível estupidez. O texto está publicado no meu primeiro livro, Contra o Consenso, publicado em 2005, reunindo textos sobre literatura, cultura e cinema. Se […]

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 31 jul 2020, 13h47 - Publicado em 29 out 2010, 21h04

Caros,

Se você clicar aqui, terá acesso à integra de um pequeno ensaio que escrevi em 1998 sobre a obra de Monteiro Lobato, que voltou a ser perseguido, numa manifestação de incrível estupidez. O texto está publicado no meu primeiro livro, Contra o Consenso, publicado em 2005, reunindo textos sobre literatura, cultura e cinema. Se você ler a íntegra, verá que não deixo de reconhecer problemas em sua obra. Deve ser conhecida e debatida em sua notável complexidade.

Segue um trecho do texto na home. Na seção “O Avesso do Avesso“, a íntegra.
*
Uma impostura faz aniversário junto com os cinqüenta anos da morte de Monteiro Lobato (1882-1948), neste mês [julho de 1998]: a classificação de sua obra, e de outros, como pré-modernista, embora não se saiba direito – e nunca ninguém explicou – o que isso quer dizer. Esse “pré” pode ter um sentido cronológico (veio antes do modernismo), demiúrgico (antecipou o modernismo) ou o que acabou prevalecendo: Lobato é quase moderno, como se tivesse produzido uma obra tão manca quanto a classificação, na qual falta em rigor o que excede em má vontade com o escritor de Urupês (1918) e Cidades Mortas (1919), dentre tantos outros livros. Se Lobato – assim como Lima Barreto ou Graça Aranha – era um “quase”, pelo menos metade de seu corpo ou de sua obra deveria estar a olhar para o passado. Para onde? Naturalista não era. Parnasiano tampouco. Que diabo, afinal, era o Lobato? Avisos não faltaram. Alguns vindos de personagens insuspeitas.

“Você foi o Gandhi do modernismo brasileiro, jejuou e produziu, quem sabe, nesse e noutros setores, a mais eficaz resistência passiva de que se pode orgulhar uma vocação patriótica. No entanto, martirizaram você por falta de patriotismo.” Com essas palavras, em uma carta, Oswald de Andrade, o pai da propaganda modernista brasileira, referia-se aos 25 anos de Urupês.

O livro, de certo modo, selou a sorte de Lobato para a posteridade longínqua, não importa quanto tenha feito pela cultura nacional nos anos subseqüentes. Dentre os quatorze textos selecionados pelo autor para publicação, estavam “Velha Praga” e “Urupês”, que dá nome ao conjunto. Em ambos, aparece o Jeca Tatu. Escreve o autor no primeiro: “Este funesto parasita [urupê] da terra é o caboclo, espécie de homem baldio, seminômade, inadaptável à civilização (…). O caboclo é uma quantidade negativa. Tala cinqüenta alqueires de terra para extrair deles o com que passar fome e frio durante o ano (…). Quando se exau¬re a terra, o agregado muda de sítio (…) nada mais lembra a passagem por ali do Manoel Peroba, do Chico Marimbondo, do Jeca Tatu ou outros sons ignaros, de dolorosa memória para a natureza circunvizinha”.

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Na quarta edição, pediu desculpas ao caipira, ferozmente responsabilizado pela própria miséria e indolência. Reconheceu que seu estado era fruto de doenças endêmicas e da falta de educação, decorrentes da desatenção do poder público, o mesmo que o mandaria para a cadeia em 1941. O texto – originalmente uma carta enviada a O Estado de S. Paulo e publicada pelo jornal no dia 12 de novembro de 1914 – já tinha provocado, no entanto, os estragos que poderia provocar.

A figura do Jeca marcava o livro de tal modo – muito em razão da virulência do autor – que os avanços formais do texto lobatiano e a sua abrangência temática acabaram solenemente ignorados. Ficou sendo para sempre o reaça que crucificou o jeca de cócoras (até ser ele próprio contaminado pelo ruído da personagem que criou). Lobato não fez uma “revolução” formal, é certo. Tal termo empregado ao que quer que seja que não uma coletividade realmente armada para subverter o statu quo não passa de metáfora idealista. Arte não faz revolução. Há, em todo tempo, produção “de reação” tão boa ou superior à de qualquer vanguarda. Lobato só foi empilhado no armazém fantasma dos “prés” porque dois de seus livros importantes foram produzidos antes da Semana de Arte Moderna de 1922, que se quis (e foi querida) um marco revolucionário à força do muito panfletear.

O que o modernismo brasileiro teve de programático e libertário – mormente na poesia, apesar de tanto estrago… -, Lobato realizou em sua prosa discreta sem, por exemplo, o barulho de um Andrade e a vocação para “desescrever” manifestos do outro. Assim começa “Urupês”, o texto:
“Esboroou-se o balsâmico indianismo de Alencar ao advento dos Rondons que, ao invés de imaginarem índios num gabinete, com reminiscências de Chateaubriand na cabeça e a Iracema aberta sobre os joelhos, metem-se a palmilhar sertões de Winchester em punho. Morreu Peri, incomparável idealização dum homem natural como o sonhava Rousseau, protótipo de tantas perfeições humanas (…). Contrapôs-lhe a cruel etnologia dos sertanistas modernos um selvagem real, feio e brutesco, anguloso e desinteressante, tão incapaz, muscularmente, de arrancar uma palmeira, como incapaz, moralmente, de amar Ceci. A sedução do imaginoso romancista criou forte corrente. Em sonetos, contos e novelas, hoje esquecidos, consumiram-se tabas inteiras de aimorés sanhudos, com virtudes romanas por dentro e penas de tucano por fora”.

Eis aí o melhor de uma prosa desempolada, crítica, interessada em questionar as raízes brasileiras. (…)
*
Leia a íntegra em “O Avesso do Avesso”.

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