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Janine não sabe história. Janine não sabe fazer conta. Janine é professor de ética. Janine é ministro da Educação. Janine é petista. Ponto

O mais, digamos, encantador em Renato Janine Ribeiro, novo ministro da educação, é a pomposa solidez de suas tolices. O, a seu modo, famoso professor de “ética” da USP costuma fazer digressões muito eloquentes sobre o nada para chegar a lugar nenhum. Não foi diferente na entrevista que concedeu à Folha desta segunda. Ora, considerando […]

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 31 jul 2020, 01h42 - Publicado em 6 abr 2015, 06h26
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  • O mais, digamos, encantador em Renato Janine Ribeiro, novo ministro da educação, é a pomposa solidez de suas tolices. O, a seu modo, famoso professor de “ética” da USP costuma fazer digressões muito eloquentes sobre o nada para chegar a lugar nenhum. Não foi diferente na entrevista que concedeu à Folha desta segunda. Ora, considerando o caos em que se transformaram o Fies e o Pronatec, certamente o jornal esperava, assim, alguma resposta substanciosa do novo titular da pasta; contava ter ao menos um título forte para a primeira página. Em vão. O máximo que se conseguiu foi isto: “Universidade federal deve atuar mais no ensino básico”. O que quer dizer de prático? Lhufas!

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    Aliás, chega a ser vergonhoso que um ministro conceda uma entrevista sem ter nada a dizer e ainda dê reiteradas e eloquentes provas de ignorância — ou de má-fé. E, para ser franco, quando se é ministro da Educação, a ignorância é uma forma de má-fé, e a má-fé, uma forma de ignorância.

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    A vigarice intelectual adora criar categorias conceituais novas como se isso mudasse a realidade. Janine, por exemplo, diz que a melhoria dos serviços públicos é a quarta agenda democrática. A terceira, afirma, é a inclusão social, que ainda não está concluída e que, segundo ele, encontraria resistência nas ruas. É mesmo? Qual resistência? Os que protestam contra o governo petista marcham contra a inclusão social ou contra os ladrões? Janine dá mostras de não gostar do que chama de “classe média” na rua. Diz ele: “Em vez de ver politicamente como uma reivindicação global para melhorar, veem como uma coisa imediatista, e atribuem tudo à corrupção. Não chega a ser uma agenda política, ainda”. É? Por que o ministro não vai ao Capão Redondo dar essa explicação? Por que os petistas devotam tanto ódio à luta contra a corrupção?

    O repórter da Folha, coitado!, não consegue tirar do Rolando Lero da academia uma única resposta objetiva, nada! E olhem que não falta boa vontade na condução da entrevista. Se Janine tivesse o que dizer, poderia ter cortado todas as bolas na rede e correr para o abraço. Indagado sobre as seis mil creches prometidas no primeiro mandato e nunca construídas, deu esta resposta estupefaciente:
    “O que aconteceu no caso das creches foi uma licitação em escala nacional, que acabou tornando difícil a entrega dos produtos. É uma das prioridades que a gente quer resolver o mais rápido possível”. Nos próximos quatro anos?, quis saber a Folha. E ele: “Acredito que sim. Nosso problema hoje é a situação orçamentária deste ano. Uma vez a economia recuperando o seu ritmo de expansão, o Estado continuará capaz de gerar recursos que permitam cumprir nos outros três anos”.

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    Santo Deus! Nunca houve licitação nenhuma em escala nacional. É besteira. Mais: quer dizer que as seis mil creches serão entregues quando a economia recuperar o seu ritmo de expansão? É mesmo? Qual ritmo? Qual é a velocidade necessária do crescimento para que a promessa se cumpra? Pergunta básica: como teremos uma recessão, neste 2015, da ordem de 1,7%, não se vai, então, fazer creche nenhuma?

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    Entre bobagens e irrelevâncias, o ministro disse só uma coisa sensata, mas como autodiagnóstico: “Na saúde, você sabe se está doente e precisa de ajuda; na educação, você não sabe se é ignorante e precisa de conhecimento”… É verdade. Alguém que não fosse supinamente ignorante em economia não teria dado aquela resposta sobre as creches. Mas Janine ignora que é um ignorante.

    A Folha quis saber se o inchaço do Fies e do Pronatec era, na educação, o correlato do modelo petista de incentivo ao consumo. A ignorância falastrona de Janine produziu a seguinte pérola: “Não vejo um paralelo, porque justamente a crítica principal à inclusão social pelo consumo é que ela não seria sustentável por faltar a base da educação. Eu acho injusta, porque a expansão foi de bens de primeira necessidade, represado, não um consumo de produtos suntuários. Você não pode ter pessoas que não têm produtos da linha branca em casa”.

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    Em primeiro lugar, a crítica principal ao modelo petista ancorado no consumo era outra, sem prejuízo de apontar a educação precária: o país deixava de fazer reformas que tornassem sustentáveis aqueles ganhos. Os petistas e os acadêmicos perturbados como Janine é que inventaram que havia quem se opusesse a que pobres comprassem geladeira e fogão e frequentassem os aeroportos.

    Num outro momento da entrevista, este senhor dispara a seguinte mentira: “A gente pode dizer que o governo Lula, num primeiro momento, constituiu o Bolsa Família, um programa premiado internacionalmente e que deu grandes resultados (…). Num segundo momento, houve a valorização real do salário mínimo, em que a pessoa recebe mais pelo trabalho dela”.

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    Dispenso-me de lembrar que o Bolsa Família foi criado por FHC. Lula apenas o expandiu. Afirmar que a valorização do salário mínimo começou com o governo petista é mais do que uma mentira: é uma farsa política a que se dedica este sedizente professor de ética. Mas eu refresco a memória dele: FHC assumiu o poder em janeiro de 1995 com o salário mínimo em R$ 70 (veja o site site do Dieese); quando saiu, estava em R$ 200 — aumento nominal de 185,71% para um IPCA acumulado de 100,67% — logo, o aumento real foi de 85,71%. Nos oito anos de Lula, foi um pouco maior: 98,32%; nos primeiros quatro anos de Dilma, de 15,44%.

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