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CARTA DE DUNGA TEM MAIS DO QUE PALAVRÓRIO DIFÍCIL E GRAMÁTICA TRONCHA. BASTA SABER LER

Eu sempre desconfiei que o técnico Dunga tivesse, naquela aparência de Dunga e naquele temperamento de ogro, aprisionada a alma de um Schopenhauer. E obtive a confirmação nesta segunda, quando ele divulgou uma carta aberta ao presidente da CBF, Ricardo Teixeira. O texto revela um ressentimento contido. Dunga conseguiu, no entanto, ser muito mais elegante […]

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 31 jul 2020, 14h53 - Publicado em 5 jul 2010, 20h43

Eu sempre desconfiei que o técnico Dunga tivesse, naquela aparência de Dunga e naquele temperamento de ogro, aprisionada a alma de um Schopenhauer. E obtive a confirmação nesta segunda, quando ele divulgou uma carta aberta ao presidente da CBF, Ricardo Teixeira. O texto revela um ressentimento contido. Dunga conseguiu, no entanto, ser muito mais elegante com Teixeira do que o dirigente foi com ele. Pouco importa quantos erros o Zangado tenha cometido, e foram muitos, a demissão pública, feita por intermédio da imprensa, é uma indignidade. Com ela, Teixeira exime-se de qualquer responsabilidade pela derrota, entrega seu ex-indicado aos leões e atua com a costumeira falta de modos.

Quem terá redigido o documento assinado por Dunga, com palavras como “desiderato” e “incontinenti”, mas com alguns erros gramaticais constrangedores? Sei lá eu! A língua portuguesa, diga-se, já oferece “incontinente” (“sem demora, imediatamente, sem hesitação) para a expressão latina “in continenti”…

Leiam este trecho:
“Evidentemente, desde o início, por ocasião da minha contratação, não estava, e nem poderia estar, assegurado (sic) a conquista do hexa-campeonato, a uma, pelo desafio, e, a duas, pela complexidade da missão. Este, se possível, era o objetivo final, por mim e por todos os membros da comissão técnica, a ser alcançado. Com dignidade, coragem, patriotismo respeito, paixão, transparência e, principalmente, obediência às suas determinações, todos, sem distinção, trabalharam para tal desiderato. Neste sentido, com certeza, os erros do passado foram corrigidos. Em relação a 2006, renovamos o elenco da Seleção Brasileira de Futebol, voltamos a ter respeito no cenário mundial e, fundamentalmente, a respeitar a Seleção Brasileira de Futebol e, por extensão, a própria Confederação Brasileira de Futebol – CBF. As recentes pesquisas de opinião pública, os resultados obtidos pelos patrocinadores e, notadamente, as conquistas alcançadas dentro do campo, indiscutivelmente, comprovam tal afirmação. No período, sob o meu comando, a Seleção Brasileira de Futebol quebrou diversos tabus, alguns deles, permita relembrar, há vários anos não-superados por ocasião da realização da primeira fase dá Copa do Mundo, isto é, das eliminatórias sul-americanas.

Comento
Há pauta aí para os próximos quatro anos, convenham. Notem que Dunga deixa claro que todos eles — e isso quer dizer ele próprio — seguiam as determinações de Ricardo Teixeira. Não que o papel se sargentão não lhe caia bem e não esteja adequado a seu caráter, mas era Teixeira quem mandava.

Notem como as coisas todas se confundem na Seleção Brasileira — e aí pode estar a origem de muitos problemas. Caberá ao jornalismo esportivo investigativo (existe?) apurar. Que o futebol seja um negócio, sabemos. E não há mal nenhum nisso. Que a Seleção movimente muito dinheiro, idem. Que um técnico junte num mesmo parágrafo as noções de “dignidade, coragem, patriotismo e respeito” com “os resultados obtidos pelos patrocinadores”, bem, aí já estamos com um problema óbvio. Os canais se misturaram; não se distinguem os alhos dos bugalhos. Dunga poderia acrescentar que o “retorno”, no período, também foi muito bom para ele próprio e para os jogadores.

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E o técnico prossegue com o português-rebolation, espancado a lei da crase mais do que Lula espanca a lei eleitoral:
“Agora, como sempre foi à postura por mim adotada, incontinenti. resta-me acatar à sua decisão, pois, certa ou não, a mim não cabe questioná-la, na medida em que essa é a prática, de longa data, adotada no futebol, de todos conhecido, considerando que a vida segue, os compromissos são muitos e os Interessei variados e complexos. Neste sentido, oferecendo ao Senhor a tranqüilidade que se faz necessária, espero e confio estar contribuindo para que Vossa Senhoria possa iniciar as suas novas estratégias visando à preparação da Seleção Brasileira de Futebol para disputar e, se possível, vencer a Copa do Mundo de 2014, que será realizada em nosso País”.

Huuummm… Mais uma vez sobra a suspeita de que Dunga considera que há negócios demais onde há futebol de menos. “Interesses variados e complexos”??? Isso me enche de curiosidade. E fico pensando, evidentemente, no “retorno dos patrocinadores”.

Como naquela música de Chico Buarque e Francis Hime, Dunga “bate o portão sem fazer alarde, leva a carteira de identidade e a leve impressão de que já vai tarde”, mas, como na outra música, é “um pote até aqui de mágoa”, recomendando a Teixeira: “E qualquer desatenção, faça não/ pode ser a gota d’água”.

Do ponto de vista jornalístico, este Dunga também leva a uma mina de diamantes.

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