AS PALAVRAS E AS COISAS – E A IRANETH DANÇOU…
Há as coisas e há o modo das coisas. E também as sua modulações. Querem um exemplo? A palavra “santinha” (ou “santinho”). Se você ouve alguém dizer “Ontem, acendi uma vela para a minha santinha”, é bem provável que se trate de um devoto, de um crente, de uma alma pia. Mas é preciso tomar […]
Há as coisas e há o modo das coisas. E também as sua modulações. Querem um exemplo? A palavra “santinha” (ou “santinho”). Se você ouve alguém dizer “Ontem, acendi uma vela para a minha santinha”, é bem provável que se trate de um devoto, de um crente, de uma alma pia. Mas é preciso tomar cuidado se uma ministra de estado superpoderosa indaga: “Santinha, o que se passa na Receita? É preciso agilizar o caso Sarney”. Mudou o contexto. Ao saltar da denotação para a conotação, pode-se estar pulando, também, o muro que separa a legalidade da ilegalidade. Muitos casais se chamam docemente por epítetos que poderiam ser ofensivos se ditos em outro tom.
Tudo isso para falar do Cartaxo do Planalto que está hoje à frente da Receita Federal, o Otacílio, que substituiu Lina Vieira. No dia em que Guido Mantega o nomeou, afirmou que ele era competente e havia se dado muito bem na CPI. Observei neste blog que estávamos diante de um novo critério de preenchimento dos cargos de primeiro escalão: saber enfrentar uma comissão de inquérito. Notável! Também escrevi que Cartaxo era a verdadeira Lina de Mantega — ele oferecia a submissão que esperava encontrar nela. Sim, Reinaldo, e os modos?
Explico. Na primeira entrevista que concedeu depois de assumir o cargo, a Folha perguntou a Cartaxo se Iraneth Weiler, que era secretária-executiva de Lina, continuaria no cargo. O valente poderia ter dito simplesmente: “Não! Quando há uma mudança de comando, é normal que haja troca nos cargos de confiança. É assim em todos os ministérios, autarquias,estatais… Cargos de confiança são escolhas dos que são nomeados etc”. Pronto! Estaria tudo resolvido. Ah, claro: se bem se lembram, Iraneth confirmou que Lina manteve o encontro secreto com Dilma.
Mas até para omitir a verdade com competência é preciso ter certa autonomia, coisa que Cartaxo não tem. Quando a Folha lhe perguntou se Iraneth continuaria, ele respondeu: “Não me faça perguntas difíceis”. Entenderam? Ele não tinha ainda conversado com o chefe a respeito. Ele não sabia nem mesmo que poderia fazer a vontade do governo disfarçando a sabujice.
Bem, Iraneth foi exonerada da secretaria-geral. O ato saiu no Diário Oficial desta segunda. Não só ela. Amadei Neto, assessor de gabinete da Secretaria da Receita, também perdeu o cargo. Henrique Jorge Freitas, subsecretário de Arrecadação, também dançou.
Cartaxo não decepciona.