Num país viciado no desrespeito à lei; em que se está consolidando a tática do berro; em que o Poder Público, cada vez mais, cede a ameaças e chantagens, exalte-se a coragem do governante que decide fazer o contrário — vale dizer: que não tem receio de fazer valer o que está escrito. Sim, há algo de exótico em aplaudir uma autoridade por cumprir a sua função, mas assim são os tempos, é esse o espírito do tempo.
Por que faço essa introdução? O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), disse na manhã desta terça que não pretende rever as 42 demissões de metroviários anunciadas na segunda, depois de cinco dias de greve da categoria.
Afirmou Alckmin: “As demissões ocorridas não foram em razão de greve. Nenhum grevista foi demitido. Elas foram em razão de outros fatos, e fatos graves, como invasão de estação, de depredação, vandalismo”.
Segundo o governador, desde que os metroviários voltem ao trabalho, não haverá novas demissões. Disse ainda: “O governo não quer demitir ninguém. Agora, o governo tem o dever de garantir o Metrô às cinco milhões de pessoas que querem trabalhar”.
É assim que se faz! Lamentável, aí sim, é o comportamento da CUT, a central sindical ligada ao PT — à qual, diga-se, o sindicato dos metroviários nem é filiado. A entidade emitiu uma nota dando apoio integral à greve, como se a bomba não fosse estourar no colo da própria presidente Dilma. Mas e daí? Essa gente está obcecada pelo Palácio dos Bandeirantes e acha que, se provocar o caos em São Paulo, vai obter dividendos eleitorais. Mais: se Dilma cair fora, e Lula voltar a ser o candidato, tudo bem para a turma.
Agiu bem também o Tribunal Regional do Trabalho, que pediu o bloqueio de R$ 900 mil dos R$ 3 milhões que o sindicato dos metroviários tem no banco. O dinheiro serve para garantir o pagamento da multa imposta pela Justiça — R$ 100 mil por dia parado antes da decretação da ilegalidade da greve e R$ 500 mil depois dela.
Eis aí outro expediente que precisa ser regulamentado para ser moralizado. As multas impostas pela Justiça costumam ser derrubadas pelo TST por falta de regulamentação, o que, obviamente, estimula a irresponsabilidade dos dirigentes.