Sem agenda, Lula tenta alongar crise gerada pelo golpe bolsonarista
Petista vive dilema entre o acerto de contas com militares, defendido pela esquerda, e o foco na gestão propositiva, apoiado por aliados moderados
![Lula em encontro com trabalhadores da limpeza do Palácio do Planalto que participaram da força-tarefa após destruição promovida por bolsonaristas terroristas -](https://veja.abril.com.br/wp-content/uploads/2023/01/WhatsApp-Image-2023-01-13-at-17.56.24.jpeg?quality=90&strip=info&w=1024&h=615&crop=1)
Com dificuldades para pegar no tranco, o terceiro mandato de Lula começou entretendo o país com um festival de discursos e cerimônias de posse dos 37 ministros na Esplanada. O falatório, como se viu na primeira semana de trabalho da gestão petista, mostrou um governo contraditório e perdido na formulação de uma agenda para o país.
No mesmo discurso em que pregava uma gestão sem revanchismo, focada no futuro, Lula batia sem dó na tal destruição do país e no acerto de contas com o bolsonarismo presente na máquina, em especial contra os militares das Forças Armadas.
A onda de demissões sem critérios contribuiu para a paralisia de diferentes áreas do governo. Não fosse a ação dos aloprados bolsonaristas contra a democracia, o petista estaria na terceira semana de janeiro ainda participando de posses de burocratas e sem um plano de voo na máquina. Nesta segunda, foi ao Banco do Brasil prestigiar Tarciana Medeiros, a primeira mulher a assumir o comando da instituição bicentenária.
Com a pauta de defesa da democracia, Lula ganhou fôlego para passar a segunda semana do mês menos pressionado pelos grupos que tentaram demitir a ministra do Turismo, Daniela Carneiro, por ligação com a milícia, ou que queriam a cabeça do chefe da Defesa, José Múcio Monteiro, por estabelecer uma transição moderada com a caserna.
A ajuda dos golpistas favoreceu até Fernando Haddad, que passou dias sem precisar falar de “novo arcabouço fiscal”. Quando falou, comprou uma briga com diferentes setores que já começaram a pressionar o Congresso contra o tal pacote que fala em ampliar receitas, mas ignora cortes de gastos.
Esse, aliás, é o dilema de Lula. A agenda política gerada pela tentativa bolsonarista de golpe já dá sinais de desgaste — ainda que ele e seus ministros tentem alongá-la com entrevistas, cerimônias e encontros de toda natureza, como a agenda do presidente com trabalhadores do Planalto, na foto acima.
A distribuição de cargos no segundo escalão — a turma que carrega o piano –, no entanto, é lenta. O petista é pressionado pela esquerda a promover um acerto de contas com militares e setores identificados com a antiga gestão, ao passo que ouve conselhos de moderação dos auxiliares da frente ampla menos fanáticos.
Tudo, no entanto, é distração num governo sem dinheiro, sem tempo para lua de mel com a opinião pública, e que prometeu muito na eleição tendo poucos recursos para entregar. Os golpistas atacaram, quebraram o que puderam e foram presos. As instituições estão funcionando e a democracia segue firme. É preciso concluir a maratona de discursos de posse, acabar com discussões inúteis e começar a trabalhar, apresentando projetos ao país.