Ex-diretor da Abin, Alexandre Ramagem, na avaliação de investigadores da Polícia Federal, já tem um lugar guardado na história do país. Foi sob mando dele que o serviço secreto brasileiro tornou-se uma espécie de catedral das teorias negacionistas e do universo paralelo criado no país durante a gestão de Jair Bolsonaro.
Promovido de simples segurança de campanha a chefe da Abin, Ramagem, segundo investigadores, usou o cargo para construir um “projeto pessoal” na política. Enquanto atuou como faz-tudo de Bolsonaro na agência, pressionou servidores, desvirtuou conclusões de investigações e atendeu toda sorte de demandas “ideologicamente enviesadas” do bolsonarismo, diz a investigação da PF sobre a Abin paralela.
“O direcionamento dos recursos da agência para atender demandas de interesse privado ou ideologicamente enviesadas, em desacordo com as diretrizes institucionais, produziu resistência do corpo funcional. Havia pressão para que se chegasse a conclusões em consonância com determinadas narrativas políticas. O produto final da agência chegava a ser alterado para não contrariar tais narrativas políticas”, diz a PF.
Além de atender a pedidos políticos do bolsonarismo e colocar o serviço secreto sob custódia do clã Bolsonaro, Ramagem perseguia quem tentasse se levantar contra o aparelhamento do órgão, diz a PF. “Aquelas que se opuseram às demandas (de Ramagem) gradativamente foram exonerados das funções e alguns foram perseguidos, tendo a carreira prejudicada. Para contornar a resistência, a Direção-Geral buscou afastar servidores mais experientes e nomeou diversos servidores mais novos, muitos ainda em estágio probatório, para funções importantes”, diz a PF.