O assessor especial do presidente Lula, Celso Amorim, participou, nesta terça-feira, 29, de uma audiência na Comissão de Relações Exteriores da Câmara para prestar esclarecimentos sobre o posicionamento do país nas eleições da Venezuela, realizadas em 28 de julho deste ano. De acordo com o diplomata, como o Brasil recebeu cerca de 600.000 imigrantes venezuelanos, há claro interesse nacional na questão.
Amorim afirmou que o principal interesse do Brasil é evitar que a Venezuela se torne foco de rivalidades geopolíticas que ameacem a paz na América do Sul e que importem conflitos para o “coração” da Amazônia. Além disso, disse que três diretrizes guiam o posicionamento do governo brasileiro sobre a situação política, social e econômica daquele país.
“A posição em relação à Venezuela tem obedecido a três princípios: a defesa dos princípios democráticos consagrados em acordos internacionais, como a Carta da OEA, o Protocolo de Georgetown, sobre o compromisso democrático da Unasul, e o protocolo de Ushuaia, sobre o compromisso democrático do Mercosul. Esse é um princípio. A não ingerência em assuntos internos e a resolução pacífico de controvérsias”, destacou.
Ponderou, também, sobre o reconhecimento internacional de Juan Guaidó como presidente da Venezuela, em 2019.
“Hoje existe um consenso praticamente generalizado, porque é o que eu tenho escutado de vários interlocutores com quem tenho conversado, de que o reconhecimento de Guaidó criou uma situação de bicefalia, que acabou prejudicando a população venezuelana, e ele não pode ser repetido. O Brasil está aberto a contribuir, caso exista disposição dos dois lados. Por isso temos procurado preservar a capacidade de diálogo com as duas partes”, declarou.
Em agosto deste ano, o presidente Lula conversou por telefone com o primeiro-ministro canadense Justin Trudeau. Na ocasião, o brasileiro já apontava o reconhecimento de Guaidó como um “erro histórico” da comunidade internacional contra a política venezuelana.
O passado
Amorim analisou como eram as relações entre Brasil e Venezuela nas décadas passadas. Segundo ele, entre 2002 e 2015, os países da região tinham divergências políticas, mas sabiam que a união entre ambos traria benefícios concretos. E citou como exemplo a relação entre Hugo Chávez, à época presidente da Venezuela, e Alvaro Uribe, da Colômbia, que “podiam sentar à mesma mesa para discutir projetos de interesse comum”.
“Eu devo dizer que havia efetivamente um bom relacionamento com Chávez, e eu preciso fazer o reconhecimento de que com todas as críticas que se possa fazer, e nós fazíamos, a certos aspectos do governo Chávez, ele era um governo voltado à melhoria das condições do povo. O fluxo comercial com a Venezuela chegou a 6 bilhões de dólares em 2012.”