Lula admite demitir número 2 da Abin, se elo com Ramagem for real
O presidente disse que "não há clima" para a permanência do diretor adjunto da agência, Alessandro Moretti, apontado como contato de bolsonaristas no órgão
O presidente Lula afirmou na manhã desta terça-feira que “não há clima” para a permanência de um “cidadão” que integra a atual cúpula da Abin caso seja provado que ele mantinha relação com o deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ), que chefiou a agência durante o governo Bolsonaro. O petista não citou o nome do “acusado”, mas se referia ao diretor adjunto do órgão, Alessandro Moretti, “número 2” do diretor-geral, Luiz Fernando Corrêa.
Lula foi questionado durante entrevista à CBN Recife, concedida no Palácio da Alvorada, em Brasília, se tem segurança na Agência Brasileira de Inteligência “de hoje”, diante da investigação da Polícia Federal sobre a chamada “Abin paralela” do governo anterior.
“Não, veja, a gente nunca está seguro. Veja, o companheiro que eu indiquei para ser o diretor-geral da Abin é o companheiro que foi o meu diretor-geral da Polícia Federal entre 2007 e 2010, é uma pessoa que eu tenho muita confiança, e por isso eu o chamei, já que eu não conhecia ninguém dentro da Abin. E esse companheiro montou a equipe dele. Dentro da equipe dele, tinha um cidadão, que é o que está sendo acusado, que mantinha relação com o Ramagem, que é o ex-chefe da Abin do governo passado, inclusive relação que permaneceu já durante o trabalho dele na Abin”, respondeu.
“Ora, se isso for verdade, e isso está sendo provado, não há clima para esse cidadão continuar, sabe, na polícia [na Abin]. Mas antes de você fazer simplesmente a condenação, a priori, é importante que a gente investigue corretamente, que a gente apure, que a gente garanta o direito de defesa… Porque se você muitas vezes se deixar levar apenas pela manchete de jornal, você muitas vezes é teoricamente contra a pena de morte, mas você está matando as pessoas sem dar chance de as pessoas se defenderem. E eu acho que todo mundo é inocente até provem o contrário”, complementou Lula.
A representação em que a Polícia Federal pediu autorização ao STF para a Operação Vigilância Aproximada, deflagrada na quinta-feira da semana passada, aponta que a alta cúpula da Abin e os funcionários investigados por usar ferramentas de inteligência para espionar adversários políticos do governo Bolsonaro se uniram para atrapalhar a apuração de ilegalidades. Segundo a PF, o possível “conluio” teve participação até da atual gestão da Abin sob Luiz Fernando Corrêa.
“O alegado temor de exposição de dados sensíveis, em verdade, se mostrou, até a presente quadra investigativa, como subterfúgio para evitar a devida apuração dos fatos. A preocupação de ‘exposição de documentos’ para segurança das operações de ‘inteligência’, em verdade, é o temor da progressão das investigações com a exposição das verdadeiras ações praticadas na estrutura paralela, anteriormente, existente na Abin”, afirmou a PF.
O relatório da PF reproduzido na decisão do ministro Alexandre de Moraes disse ainda que a direção atual da Abin “realizou ações que interferiram no bom andamento da investigação sem, contudo, ter sido possível identificar o intento das ações”.
“As declarações do então Diretor da ABIN – ALESSANDRO MORETTI – em reunião [no dia 28 de março de 2023] com os investigados no sentido de dizer que a presente investigação, em curso sob a relatoria do Exmo. Ministro Relator, teria ‘fundo político e iria passar’ não é postura esperada de Delegado de Polícia Federal que, até dezembro de 2022, ocupava a função de Diretor de Inteligência da Polícia Federal cuja essa unidade (sic) – Divisão de
Operações de Inteligência — lhe era subordinada”, apontou a PF.
Diretor-adjunto da Abin desde março do ano passado, Moretti é delegado da Polícia Federal e foi diretor de Inteligência Policial (2022 a 2023) e de Tecnologia da Informação e Inovação (2021 a 2022) da corporação durante o governo Bolsonaro. Antes, atuou na Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal como secretário, secretário-executivo e secretário-adjunto (2018 a 2020), na gestão do ex-ministro da Justiça de Bolsonaro, Anderson Torres.