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Entenda como os generais fortaleceram Moro na guerra contra Bolsonaro

Depoimentos de Augusto Heleno, Braga Netto e Luiz Eduardo Ramos tornam ainda mais urgente a divulgação do vídeo pelo STF

Por Robson Bonin Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 13 Maio 2020, 11h28 - Publicado em 13 Maio 2020, 06h00
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  • Walter Braga Netto, Augusto Heleno e Luiz Eduardo Ramos formam o núcleo duro de Jair Bolsonaro no Palácio do Planalto. Como generais experientes, eles controlam seu campo de batalha com rigor militar. Nada acontece no entorno de Bolsonaro sem o conhecimento do trio.

    Nesta terça, porém, os três generais produziram 20 páginas de depoimentos a delegados da Polícia Federal com muitos esquecimentos e seguidos episódios de desconhecimento estratégico (Braga Netto, o poderoso gerentão do governo, não sabia os motivos do presidente para querer Alexandre Ramagem no comando da PF, por exemplo).

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    Mesmo recorrendo a muletas como o popular “não me recordo” ou o “não tive conhecimento”, a fotografia ampliada da obra mostra que os generais confirmaram os lances apontados por Sergio Moro como pontos de interferência ilegítima do presidente na Polícia Federal. O trio solidificou alguns pontos importantes da narrativa de Moro contra Bolsonaro. A saber.

    O presidente citou, sim, a preocupação em proteger familiares a amigos de investigações. Heleno, em seu depoimento, quando questionado sobre o ponto, disse que precisaria ver novamente o vídeo para poder apontar quais amigos e familiares o presidente se referia, o que confirmou o essencial.

    Bolsonaro estava preocupado com relatórios de inteligência, estava descontente com a frequência com que os recebia e relacionava essa falta de informação a reclamações de que era alvo de investigações policiais no Rio de Janeiro, como o citado envolvimento do porteiro do seu condomínio no caso Marielle.

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    Pelo relato de Braga Netto e Heleno, o presidente fazia mesmo confusão entre o papel dos órgãos de inteligência de Estado e os seus interesses pessoais. Heleno admitiu que o “presidente havia se queixado sobre o envolvimento do nome dele no caso Marielle, notadamente em razão de um fato envolvendo um porteiro do condomínio onde ele reside” e que “o presidente havia se queixado sobre a demora da investigação sobre a situação envolvendo o porteiro do condomínio onde reside”.

    Não fica claro o que Bolsonaro cobrava de sua máquina federal em relação ao enrosco do seu porteiro ou ao envolvimento do seu nome em uma investigação independente, sobre a qual ele, mesmo sendo presidente da República, não possuía poderes para interferir.

    Braga Netto confirma a postura de Moro de tentar evitar que o presidente pegasse o caminho sem volta da ingerência política, ao dizer que o ex-ministro estava nervoso com a possibilidade de troca. O general reforça que Bolsonaro, como presidente, tinha poderes para trocar o comando da PF, mas mostra no depoimento que Moro não preparou armadilhas para Bolsonaro no caso, apenas atuou da forma que entendeu correta para proteger o próprio presidente dos seus instintos intervencionistas.

    Heleno ainda ofereceu um amplo retrato da amizade de Bolsonaro com Alexandre Ramagem, confirmando a avaliação de Moro, de que não seria apropriado colocar um amigo no comando da PF. Afinal, como disse o ministro do STF Alexandre de Moraes, o “agente público não só tem que ser honesto e probo, mas tem que mostrar que possui tal qualidade. Como a mulher de César”. No caso da amizade que uniria o gabinete do Planalto ao gabinete do diretor da PF, o princípio da impessoalidade seria suficiente para inviabilizar a escolha.

    Braga Netto não desmentiu Ramagem ou falou de sua amizade com Bolsonaro. Cuidadoso, preferiu lavar as mãos sobre o tema: “não sabe informar a razão pela qual o presidente teve a intenção de nomear o delegado ao cargo de diretor da PF”.

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    Dos três generais, Ramos foi o que menos ofereceu problemas a Bolsonaro, mas não teve como escapar de confirmar que o presidente cobrou, sim, na famosa reunião de 22 de abril, os tais relatórios de inteligência, a mudança de ministros e o vigor com que revelou-se preocupado com a Polícia Federal.

    É esse o ponto que pesará contra Bolsonaro. Afinal, se Bolsonaro mostrasse o mesmo interesse manifesto pelos assuntos da PF nas áreas de Meio Ambiente, na Educação e no Itamaraty, Ricardo Salles, Abraham Weintraub e Ernesto Araújo já teriam rodado há tempos.

    Os depoimentos dos generais só tornaram ainda mais emocionante o próximo capítulo da guerra entre Moro e Bolsonaro. Em 48 horas, o ministro Celso de Mello, relator do inquérito no STF, divulga ao país o vídeo da famosa reunião de 22 de abril. A novela promete.

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