A operação ordenada pelo STF nesta terça, a partir de mandados solicitados pela Procuradoria-Geral da República, marcou a união de duas grandes investigações contra um mesmo grupo de bolsonaristas articulados, segundo os investigadores, para atacar adversários políticos de Jair Bolsonaro e buscar a perpetuação no poder a partir da disseminação de fake news e do ataque permanente aos poderes da República.
Esse grupo, formado por parlamentares, empresários, blogueiros sujos e militantes do bolsonarismo, começou a ser investigado no questionável inquérito das fake news, aberto pelo STF sem o envolvimento da PGR.
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Clique e AssineNesta terça, porém, a investigação praticamente foi unificada a outro procedimento, esse sim, aberto como manda o figurino. A partir de pedido do procurador Augusto Aras, com fato determinado e aval do Supremo.
Se havia no bolsonarismo alguma esperança de blindagem na PGR, por ter Bolsonaro esticado a corda para nomear Aras, ela evaporou com os pedidos dos investigadores que abriram uma devassa bancária na vida dos principais parlamentares ligados ao Planalto.
O inquérito que investiga os atos antidemocráticos patrocinados, segundo os investigadores, por uma organização criminosa nascida no coração do bolsonarismo, desferiu um duro golpe contra dez deputados, um senador, além de empresários e dirigentes do partido de Jair Bolsoanaro, o Aliança Pelo Brasil. Causa estragos por seguir uma ideia básica e cristalina contra a qual o bolsonarismo não pode se insurgir: há crime? Investigue-se.
A operação de ontem, ainda nebulosa, pelo fato de o STF não ter divulgado a decisão que ordenou as buscas nem a extensão das diligências, solidificou as encrencas judicias contra o bolsonarismo. O inquérito das fake news, embora caminhe para ser amplamente referendado pelo Supremo, ganhou no inquérito dos atos um forte aliado. Ambos tentam chegar ao mesmo destino.
Provar que um grupo bolsonarista de proporções ainda indefinidas passou a usar as posições de poder na República para, valendo-se das fake news, perseguir e atacar adversários além de legitimar narrativas do poderosos de turno. Um aparelho ilegal de perpetuação de poder equiparável em gravidade de métodos e propósitos ao modelo petista, que tentou desvirtuar a democracia por outras vias, a partir da roubalheira generalizada, do financiamento clandestino de campanhas e da compra de partidos de aluguel do centrão, hoje aliados a Bolsonaro.
Ciente do avanço das investigações contra aliados em todas as direções, o presidente adotou uma postura equilibrada ao reagir às operações ordenadas pelo STF. Negando patrocinar projetos autoritários, Bolsonaro anunciou que lutará com as armas do devido processo legal para desfazer o que chamou de “abusos” cometidos pela Justiça contra aliados. Que continue assim. Todos, na democracia, ganham.