Após ordem de Barroso, PGR diz que ‘contribui para defesa dos ianomâmis’
Ministro do STF mandou a procuradoria investigar autoridades do governo Bolsonaro – até agora não incomodadas pelo órgão – por genocídio
O Radar mostrou nesta terça que o ministro Luís Roberto Barroso, ao mandar a PGR investigar a ação de autoridades do governo Jair Bolsonaro no genocídio ao povo ianomâmi, tomou o cuidado de desenhar — listando indícios de crimes que já poderiam ter sido investigados — para a procuradoria, mostrando o que ele deseja que seja apurado: nada sobre o drama dos indígenas, já amplamente detalhado pelo MPF em Roraima, mas sobre as responsabilidades e condutas de autoridades da gestão bolsonarista que, por razões desconhecidas, até hoje não perderam um dia de sono com ações da PGR.
A falta de ação da procuradoria contra autoridades bolsonaristas é o centro da ordem de Barroso. No Supremo, a avaliação é de que a situação dos indígenas poderia ser outra se Augusto Aras tivesse batido de frente e acionado autoridades, lançando luz sobre os atos da gestão passada e transformando o drama ianomâmi numa agenda nacional. Aras sempre pregou uma atuação discreta do órgão contra políticos. Segue ainda hoje esse entendimento, o que levou Barroso a determinar que a PGR faça o que já deveria ter feito.
Sobre a nota, a procuradoria enviou registro ao Radar para reclamar dessa avaliação. “A PGR, por meio da Câmara dos Índios e Comunidades Tradicionais, tem atuado junto ao ministro Barroso, desde 2020. Daí por que, somos nós que temos contribuído para a defesa dos Yanomamis. De outra parte, o termo DESENHAR é pejorativo para o PGR, para a coordenadora da 6ª CCR e colegas de Roraima que atuam no caso”, disse a PGR. “Se possível, mande divulgar a verdade dos fatos, ou seja, nos ajuizamos 28 anos (sic) versando Yanomamis, inclusive no STF.”
A ordem de Barroso, divulgada pelo Radar, não trata do trabalho do MPF em Roraima, feito sempre dentro de suas limitações e com competência — VEJA já mostrou que o MPF alertara Brasília meses antes sobre os crimes em curso na Terra Yanomami. Trata do papel da PGR, que deveria ter investigado responsabilidades de “autoridades” do governo federal, como destacou Barroso, mas, até agora, não vinha realizando esse trabalho.