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Discurso agora é moda

Este ano, a quase sempre tranquila semana de moda masculina de Paris levantou sobrancelhas e esquentou discussões em uma cidade gelada

Por Mario Mendes Atualizado em 2 fev 2017, 08h47 - Publicado em 30 jan 2017, 20h00
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  • Em Paris, o agito anual do circo internacional da moda começa cedo, em janeiro. Durante duas semanas  são apresentadas, em sequência, as coleções masculinas e a Alta Costura, e são bem menos concorridas que os desfiles do prêt-à-porter, em março, encerrando a temporada que já passou por Nova York, Londres e Milão. Este ano entretanto, a quase sempre tranquila semana de moda masculina levantou sobrancelhas e esquentou discussões em uma cidade gelada. Tudo obra e graça da Vetements, coletivo de moda liderado pelos irmãos georgianos Guran e Demna Gvasaglia – este último também diretor criativo da marca Balenciaga, tradicional nome da moda francesa e uma das sensações do mundo fashion desde que foi ressuscitada na década passada.

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    O local escolhido para a apresentação foi o centro e artes Georges Pompidou, o Beaubourg – que no momento abriga uma exposição de arte soviética e outra do pintor americano Cy Twombly – e cada convidado recebeu como convite a identidade de uma pessoa comum: o segurança africano, a professora norueguesa, o skatista adolescente etc. Na passarela, depois da entrada de uma senhora de meia idade vestindo um casaco de pele feito com dois pedaços de casacos antigos, seguiu-se uma sucessão de não modelos – Homens, mulheres, altos, baixos, gordos, magros, jovens e idosos de diversas nacionalidades e etnias – vestindo roupas que representam “estereótipos”, segundo o mano Demna. A senhora usando pele era a socialite, mas havia também o nerd, a policial feminina, o turista alemão (com uma sobreposição de bermudas!), o soldado camuflado, a estrela do tapete vermelho, o punk e, claro, o refugiado sem teto.

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    Falou-se em “momento disruptivo”, “subversão criativa”, “sociologia do estilo”, “identidade de reality show”, “diversidade além das estatísticas”. Imediatamente vieram também as associações com a “era Trump”, o avanço da direita no mundo e o estremecimento da União Europeia. O mano Demna negou que tenha feito uma coleção com intenções políticas, o que não impede que o público de tirar suas próprias conclusões… políticas. Outra coisa, mesmo com cara de roupa do dia a dia ou uniforme de trabalho, o estilista declarou que por ter um casting tão diverso em tamanhos e medidas, teve que trabalhar cada peça com o mesmo apuro técnico da Alta Costura. É muita falação e preciosismo para um desfile só. Mais discurso do que qualquer  outra coisa.

    Méritos a parte – se a coleção é boa ou não, se conversa ou não com o mercado – a questão é discursar primeiro e perguntar depois. A moda, conhecido território de deliciosa futilidade, mas também de crônica social de seu tempo e, em sua conotação mais radical, de revoluções estéticas e de costumes, parece ter finalmente sucumbido a síndrome do discurso. No momento, para tudo é imprescindível ter um discurso para chamar de seu. Nem precisa ser nada muito elaborado, de preferência algo previamente pronto e que seja politicamente correto, edificante.

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    Até a patetice cintilante do concurso Miss Universo, transmitido para os quatro cantos do mundo no domingo, teve desfile de discursos. Da miss africana que sofreu na infância, da apresentadora rechonchuda e da pneumática miss Canadá por estarem felizes com suas curvas, até do apresentador atrapalhado que no ano passado confundiu o resultado e apresentou a vencedora errada – ele falou de superação, seguir em frente etc e tal. Lá no seu asteróide O Pequeno Príncipe teve ter adorado a noite de folga.

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    Por aqui – falo de São Paulo – segue firme o  discurso do picho. Mas ainda não embarquei em nenhuma de suas vertentes, contra, a favor ou verde – os que apoiam plantas em vez de desenhos e garranchos. Estou me guardando para quando o Carnaval chegar.

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