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Por Renato Meirelles
Renato Meirelles é pai da Helena, acredita que a Terra é redonda, está à frente do Instituto Locomotiva e, neste espaço, interpreta os números muito além da planilha Excel
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Os juros do rotativo: a culpa não é do consumidor

Debate sobre taxas absurdas cobradas no país precisa ser feito sem penalizar o parcelamento sem juros, que é essencial para consumidores e empreendedores

Por Renato Meirelles Atualizado em 5 set 2023, 17h36 - Publicado em 5 set 2023, 14h46

Há tempos sentidos no bolso dos brasileiros, os absurdos juros do rotativo dos cartões de crédito entraram na pauta de debates do governo federal, Banco Central e Congresso. Em um momento que o país vê o número de endividados bater a marca recorde de 70 milhões de pessoas, a necessária discussão sobre como mudar esse cenário é urgente. Pensar alternativas ao modelo do rotativo, cujas taxas chegam a mais de 430% por ano, é essencial, e também exige cuidado para se levar em conta o público que pode ser mais impactado com qualquer mudança: as classes C, D e E.

Longe de querer apresentar uma solução fácil para um problema que existe há anos no país e envolve diferentes setores, este colunista propõe uma reflexão sobre os riscos de um discurso que vem sendo apresentado por alguns representantes do setor bancário e financeiro. Ao afirmar que o fim do rotativo levaria a uma diminuição da possibilidade de parcelamento sem juros, esses setores jogam toda a responsabilidade sobre a taxa que vem sendo cobrada atualmente para os consumidores. E aí mora o perigo.

Em primeiro lugar porque 76% dos consumidores estão nas classes C, D e E. Estamos falando de um universo de pessoas que usam os cartões de crédito como instrumentos de crédito e não um meio de pagamento apenas. Em outras palavras, são pessoas que parcelam suas compras porque não têm dinheiro suficiente e precisam de uma rígida organização financeira em seu dia a dia, o que implica até na escolha do melhor dia para fazer as compras e quitar as dívidas.  E aqui não estamos falando de pessoas que fazem compras para consumo doméstico apenas, mas de pequenos empreendedores que precisam negociar seus insumos no atacado de forma parcelada para manter seus negócios andando.

Ao propor uma mudança no financiamento sem juros como parte das alternativas ao fim do rotativo, o setor financeiro simplesmente não considera a importância do parcelamento para os milhares de pequenos e médios empresários e consumidores. Mais ainda, deixa de levar em conta que a expansão do crédito (justo) é essencial para a ampliação do consumo e o consequentemente aquecimento da economia. E essa expansão não é inviável. Quando se observa no cenário internacional, o nível de endividamento dos consumidores brasileiros é menor que o de outros países.

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Ou seja, uma eventual restrição das formas de parcelamento nem de longe seria a melhor saída para combater os juros abusivos do rotativo. Mais ainda, vai na contramão da expansão de crédito, medida que é praticada em todo o mundo para aquecer a economia. No fim das contas, trata-se de uma matemática simples: o dinheiro que vai embora em parcelas de juros surreais que engordam o caixa dos bancos poderia estar sendo usado no consumo de diferentes produtos e serviços, fazendo a roda da economia girar.

Uma boa saída para o problema, na visão deste colunista, passa pela chamada portabilidade da dívida. Isto é, se os consumidores endividados pudessem escolher em qual instituição financeira vão quitar sua dívida, da mesma forma que escolhem qual supermercado fazer a compra do mês, isso geraria maior competição entre as instituições e acabaria forçando uma redução nos juros. Pode não ser a solução definitiva, mas certamente é um dos caminhos que merecem ser analisados com atenção para facilitar e não punir o consumidor.

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