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Paulo Cezar Caju

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O papo reto do craque que joga contra o lugar-comum
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Por que os nossos ‘George Floyds’ diários não causam tanta comoção?

Negros americanos vêm clamando por liberdade e respeito. No Brasil, essas mortes sempre são usadas politicamente

Por Paulo Cezar Caju Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 3 jun 2020, 12h10 - Publicado em 3 jun 2020, 11h33
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  • Não faz muito tempo um negro morreu por asfixia dentro de um supermercado carioca. O assassino também era um segurança branco, que também não atendeu ao apelo de pessoas ao seu redor. Qual a diferença dessa morte para a de George Floyd, em Minneapolis, nos Estados Unidos, que dura sete dias e já mobilizou 25 estados americanos? A do negro brasileiro também foi filmada e viralizou nas redes sociais. De lá para cá vários outros negros morreram por motivos fúteis e ninguém foi para as ruas protestar. Os negros são discriminados e morrem diariamente no mundo todo, muitos de fome, como na África. O problema é quando se aproveitam dessas mortes por alguma motivação política e essa é uma especialidade dos brasileiros. Se elas acontecem perto das eleições presidenciais, melhor ainda para os ativistas de plantão, os oportunistas de sempre, os políticos de esquerda, de direita e do centro, movidos por pesquisas que os orientam a como se comportar.

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    Sempre odiei esse termo “raça” porque as cores não nos diferenciam. Minha mãe sofreu racismo e senti na pele, literalmente, quando em uma excursão com o Botafogo, pelo Sul do país, liderada pelo vice-presidente do clube, João Citro, vi na porta do Country Clube de Bagé, onde seríamos homenageados, um cartaz avisando que era proibida a entrada de negros. Dói na alma. Mas, nesse dia, os jogadores brancos foram os que mais reclamaram e apoiaram os negros do grupo. Ou seja, o racismo não contaminou a humanidade inteira. Em uma viagem aos Estados Unidos, também com o Botafogo, conheci os Panteras Negras, que defendiam a resistência armada contra a opressão dos negros, conheci a filósofa Angela Davis, famosa por sua militância pelos direitos das mulheres e contra a discriminação racial e social, e fiquei encantado com o trabalho de Malcolm X, um dos maiores defensores do nacionalismo negro dos Estados Unidos.

    Antes de voltar ao Brasil, entrei em um salão de cabeleireiro e pintei meu black power de caju. Também comprei calças bocas de sino. Só não aderi aos cordões grossos que os Panteras usavam. Nunca fui influenciado integralmente pelo pensamento deles, mas todos foram muito importantes na minha formação e talvez, por isso, nunca tenha sido um “nego, sim senhor”. Sempre contestei meus treinadores e até dirigentes, mesmo em plena ditadura militar. Hoje, me impressiona como os negros brasileiros ainda estão longe da politização dos americanos, principalmente os que tem o poder da comunicação nas mãos, como intelectuais, empresários e esportistas. Não lembro de ter visto algum jogador negro, principalmente os que atuam na Europa, se posicionar sobre esse tema de forma contundente.

    Há tempos os negros americanos vêm clamando por liberdade e respeito, e a morte de George Floyd foi o estopim que faltava. Vinte e cinco estados participam das manifestações e o desfecho está longe. No Brasil, essas mortes sempre são usadas politicamente e os veículos de comunicação surfam na mesma onda. Passamos por isso em plena Covid-19 com um grupo de políticos nos mandando ficar em casa e o outro sugerindo que saíssemos. Quem realmente estava preocupado conosco? No Brasil, criamos campanhas modinhas, vendemos muitas camisetas com frases de efeito, mas tudo é nuvem passageira, papo de bar. Precisamos afastar esses joelhos de nossas gargantas e nos livrar, definitivamente, dessa tentativa de asfixia, principalmente dessa desigualdade educacional, afinal quase sessenta anos depois de ser barrado em um clube por ser negro, ainda sigo, sem ar, escrevendo sobre esse tema em busca de uma solução, de um basta.

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