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Paris é uma Festa

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Histórias da cidade olímpica fora das arenas
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O próximo destino da boa gastronomia, segundo o chef campeão em estrelas

Alain Ducasse, que preparou o farto menu aos chefes de Estado recebidos por Macron no Louvre, falou a VEJA

Por Monica Weinberg, de Paris
Atualizado em 1 ago 2024, 09h16 - Publicado em 26 jul 2024, 11h00

Em meio à fervura olímpica, que o levou a refazer a logística de seus restaurantes apostando ter mais gente à porta, Alain Ducasse, 67 anos, não anda tendo lá muito tempo para flanar, um esporte nacional, nem preparar as próprias criações – uma de suas celebradas especialidades é uma junção de sete legumes da estação vagarosamente cozidos numa panela que é só dele, e ninguém mexe. Às vésperas da cerimônia de abertura, que promete um épico espetáculo nas águas do Sena, foi ele que orquestrou o banquete oferecido a chefes de estado pelo presidente Emmanuel Macron sob a moldura de uma cartão-postal daqueles: o Museu do Louvre.

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Presidente Emmanuel Macron e esposa Brigitte recebem presidente do COI, Thomas Bach, e esposa, no Louvre. 25/07/2024 (Ludovic MARIN / POOL/AFP)

A temperatura na cozinha se elevou com a perspectiva da chegada de 15 milhões de turistas à cidade, parte deles embalada pela ideia de, entre uma competição e outra, entregar o paladar às delícias francesas. Maior detentor de estrelas no Guia Michelin – uma constelação de 21 delas ostentadas em endereços entre Las Vegas, Tóquio, Londres e outros -, Ducasse tornou-se dono de um negócio (ele prefere “coleção de butiques”) que, além de três dezenas de restaurantes, inclui hotéis, livros, uma escola de gastronomia e a produção de chocolates e sorvetes de sabores nunca antes degustados (imagine o de charuto, inspirado em um chá de sabor de tabaco que ele experimentou no Japão).

+ Rebeca Andrade chega aos Jogos de Paris em busca da consagração definitiva

Ducasse sabe ser exótico, mas explica haver uma tática embutida no risco de oferecer um item que causa estranheza até mesmo aos mais desbravadores. “Você deve se perguntar: quantos clientes comprariam isso? Talvez 5%. Mas esses 5% vão voltar, porque só encontrarão isso aqui”, diz.

Apreciador da cozinha provençal, por onde começou a enveredar no universo das caçarolas, nos anos de 1970, ele viaja garimpando temperos e variando os sabores, mas mantém os pés bem fincados na tradição francesa. Considera, porém, que seu papel é subvertê-la, inovando para tentar manter o menu vibrante. “Do contrário, viramos peça de museu”, dispara.

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Mesa pronta para jantar a convidados do presidente Emmanuel Macron, no Louvre. 25/07/2024 (Ludovic MARIN / POOL/AFP)

+ Olimpíada de Paris: Será que o Sena vira mar?

Com um discurso que prega mais simplicidade à mesa (apesar dos inflados cifrões cobrados em casas como o Louis XV, de Mônaco, e a do hotel Le Maurice, em Paris), ele não esconde o deleite diante das estrelas que vem amealhando. “É lógico que podemos viver sem as estrelas, mas ficamos bem melhor com elas”, afirma, sem rodeios. Na entrevista que deu a VEJA, Ducasse fala de Olimpíada, da evolução da gastronomia francesa e do vigor da cozinha brasileira.

O SALTO OLÍMPICO

“É uma oportunidade e tanto para Paris colocar sua gastronomia na vitrine global. Os últimos Jogos na cidade foram em 1924, e o cenário era outro. Não mudei nada no cardápio. A ideia é justamente manter as raízes, os sabores, e mostrar ao mundo. Tive que contratar mais gente e reorganizar o esquema, o que é bom. A ideia é impressionar as pessoas.”

LA FRANCE

“A cozinha francesa está viva, vibrante e se renova com a chegada de jovens talentos à cena. E não é só em Paris que se come bem, não, mas por todo o país. Digo que a culinária é uma das mais belas manifestações da arte de viver do francês. É claro que é preciso olhar para a tradição, mas ao mesmo tempo evitar que se torne peça de museu. Não dá para ter medo de inovar.”

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ONDE O SOL NASCE?

“Contar estrelas não é meu esporte favorito. Verdade que Tóquio hoje em dia tem mais delas que Paris. Mas precisamos considerar que a população lá é sete vezes maior. O que, afinal, é essa excelência que as pessoas tanto buscam? Se for a da alta cozinha e das brasseries, bem-vindo a Paris. Agora, para um sushi incomparável, o lugar é o Japão.”

+ O item que anda em falta no menu da Vila Olímpica

ÀS RAÍZES

“As mais importantes inovações na cozinha francesa vêm de uma gastronomia feita cada vez mais com produtos locais e da estação, afinados com uma dieta saudável. É por essa trilha que caminha a boa msa. Cozinhar, afinal, é o esforço para proporcionar ao outro um momento de felicidade. Da decoração do ambiente ao guardanapo impecável, tudo conta. O momento da refeição deve ficar registrado na memória.”

O PAÍS DO FUTURO

“O Brasil é um dos países que mais vem experimentando mudanças em sua culinária. Alex Atala encabeçou essa evolução e, agora, uma nova geração segue ampliando o movimento. Aprecio a diversidade de sabores regionais e a mescla local de inspirações – portuguesa, africana, asiática. Tenho certeza de que, nos próximos anos, o país se tornará um destino imperdível para quem quer gastronomia de alto sabor e qualidade.”

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