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O Som e a Fúria

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Roqueiro conta como banda lendária dos anos 80 superou tragédias

Em entrevista a VEJA, Joe Elliott fala dos problemas que marcaram a história do Def Leppard — e revela que a banda quer vir ao Brasil em 2023

Por Felipe Branco Cruz Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 30 Maio 2022, 10h58 - Publicado em 30 Maio 2022, 09h56

Em 1987, quando a banda britânica Def Leppard lançou Hysteria, seu álbum de maior sucesso, o sentimento entre os integrantes era de que nada mais poderia pará-los. Afinal, o grupo já tinha superado uma tragédia, após o acidente automobilístico que decepou o braço do baterista Rick Allen. Em apoio ao músico, a banda ajudou a desenvolver um novo kit de bateria que permitiria a Allen continuar tocando na banda. O esforço deu resultado e o álbum trouxe os principais hits do grupo, como Pour Some Sugar On Me, Armageddon It, Animal, Women e Loves Bits. Em 1991, no entanto, outra tragédia abalaria o grupo: a morte de Steve Clark por problemas com alcoolismo. Mas o Def Leppard resistiu e lançou outros sete álbuns até 2015. Na sexta-feira, 27, o quinteto formado Joe Eliiott (vocal), Rick Savage (baixo), Rick Allen (bateria), Phil Collen (guitarra) e Vivian Campbel (guitarra) deu mais uma prova de resiliência ao lançar seu 12º álbum de estúdio, Diamond Star Halos, em que os roqueiros retomam a sonoridade clássica de Hysteria.

Em entrevista a VEJA por videoconferência, Joe Elliott falou sobre como a amizade entre os integrantes ajudou a mantê-los unidos por tanto tempo. Ele comentou, ainda, sobre as conversas que tem com David Coverdale, vocalista do Whitesnake, e revelou detalhes da turnê conjunta que o Def Leppard fará com o Poison, Mötley Crüe e Joan Jett. A seguir, os principais trechos da conversa:

Diamond Star Halos é o primeiro disco de inéditas do grupo em sete anos. Como analisa esse lançamento dentro da trajetória da banda? Estávamos ansiosos para compor novas músicas. O álbum, por si só, manteve a chama da criatividade viva. Demoramos sete anos porque é muito difícil fazer um álbum na estrada e nossas prioridades eram as turnês ao vivo. Poderíamos ter lançado o álbum em 2020, mas não queríamos que saísse durante a pandemia. O jeito foi trabalhar no disco de maneira 100% remota, com os integrantes espalhados ao redor do mundo (Joe Eliott na Irlanda, Rick Allen na Inglaterra e o resto do grupo nos Estados Unidos). Foi ótimo porque trabalhávamos em três fusos diferentes. Phil me enviava algo em que ele havia trabalhado o dia inteiro, enquanto eu estava dormindo. Eu retornava para ele com o material pronto que eu desenvolvi enquanto ele dormia. A tecnologia nos ajudou e trabalhamos sem pressão.

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Def Leppard surgiu no final dos anos 1970 e vocês estão juntos até hoje. Qual é o segredo? É simples: somos muito abençoados por amar nosso trabalho. É mais que um hobby. É uma vocação. Tivemos sucessos e fracassos, mas acho que os sucessos superaram os fracassos. Quando você pensa nos Beatles, só existem dois integrantes ainda vivos, mas olha o legado que eles deixaram. É sobre isso. Temos que deixar nosso legado. Também temos um medo absoluto de voltar à vida normal, de voltar a viver numa cidade industrial [a banda vem de Sheffield, um dos berços da Revolução industrial inglesa]. Nunca quisemos isso. Queríamos ser extraordinários e conseguir escrever músicas que agradem milhares de pessoas.

O modo como apoiaram o Rick, nos anos 1980, após o acidente, foi inspirador e reforçou o vínculo entre vocês na banda, não? Sim, é verdade. Há certas coisas que acontecem com as bandas que são grandes o suficiente para as manterem unidas ou para separá-las. Tivemos nossas desavenças, mas nunca musicalmente. Sempre discutimos sobre futebol. Passamos por maus bocados. O Rick perdeu o braço, a morte de Steve, o câncer de Vivian. Eu perdi a minha voz há seis anos a ponto de pensar que jamais a recuperaria. Quando você passa por essas coisas, isso lhe dá força. Muitas bandas não aguentam quando enfrentam sua primeira experiência traumática.

Def Leppard fará turnê conjunta com Mötley Crüe, Joan Jett e Poison. Como é a relação entre vocês? Somos muito amigos. Também tenho uma amizade muito grande com o pessoal do Whitesnake. Eu falo muito com o David Coverdale. Praticamente todos os dias. A gente troca mensagens de celular e e-mails — na maioria das vezes, com piadas impróprias. Converso também quase todo mês com Nikki Sixx. A mesma coisa com a Joan Jett. Quando nos reunimos ao vivo, é sempre agradável.

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Sua amizade com Coverdale é famosa. Pode falar mais sobre ela? É uma amizade de longa data. Eu já era fã do Whitesnake. Lembro de ter comprado um ingresso para ver o show deles em Sheffield, em 1978. Conheci David em 1981. Eu estava fazendo High ‘n’ Dry e ele Saints & Sinners. Eu estava tendo dificuldade em compor uma música e ele era um bom ouvinte. Com o passar dos anos, nós nos víamos em shows. Fizemos várias turnês juntos. Ele é um cara ótimo. Nos dias de folga, a gente sai para jantar juntos. Como ele mora distante de mim, trocamos e-mails com piadas inapropriadas, memes, essas coisas. Ambos confiamos um no outro. Posso dizer coisas para ele que eu não diria para ninguém. É uma amizade verdadeira.

Você sente que os fãs de rock estão ficando mais conservadores? Tudo depende de quais bandas você está falando. Quando tocamos no Rock in Rio, na plateia, tinham muitos velhos, mas também muitos jovens. Se você gosta de música mais antiga, provavelmente não vai ficar lá embaixo do palco enlouquecendo. Mas os jovens estarão lá. Você pode gostar de rock e ficar sentado nos assentos laterais sem precisar ser socado a cada cinco segundos. Se você for olhar os fãs do Anthrax, eles são bem loucos. Agora, os fãs dos Eagles ou do Fleetwood Mac, não. Tudo depende do tipo de música. Quando toquei com Duff Mckagen, do Guns N’ Roses, ele me disse que nunca tinha visto em seus shows os fãs cantarem uma música do início ao fim, como quando tocamos Pour Some Sugar On Me. No Guns, é mais hardcore. O Def Leppard é mais melódico, então, nossos shows não são só com gritos e pulos.

Qual é a importância do público brasileiro para a banda hoje? O Brasil é um lugar cada vez mais importante para o Def Leppard. Houve um tempo em que não lotávamos um clube. Jamais lotaríamos um estádio no Brasil. Foi só com o advento das mídias digitais que vimos nossa popularidade aumentar no país. Esperamos levar nossa turnê para a América Latina em 2023 e encontrar com esse público que construímos no streaming. Nosso catálogo não estava no streaming até 2018. Hoje temos 6 bilhões de streams e muito vêm dos sul-americanos, especificamente do Brasil. Temos hoje um público no país que nunca tivemos antes e isso é incrível.

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