Em sua terceira semana em cartaz, o documentário Elis & Tom: Só Tinha de Ser com Você, foi visto por mais de 40 000 espectadores em todo Brasil. O resultado impressiona por se tratar de um documentário musical sobre um álbum gravado há 50 anos. O filme estreou em 137 salas de 53 cidades brasileiras, dando uma média de 219 pessoas por sala.
O filme mostra imagens de bastidores obtidas em um estúdio de Los Angeles, durante a gravação do histórico álbum Elis & Tom. As imagens revelam o clima tenso daqueles dezoito dias, entre fevereiro e março de 1974, em que Tom Jobim e Elis Regina ficaram enfurnados no local. Quem escuta hoje o álbum de harmonias tão pungentes e cristalinas não faz ideia do sufoco que foi para gravá-lo. Se filmar esse tipo de bastidor já era algo sem precedentes na música nacional, fazê-lo com o grau de transparência apresentado no filme, seria inviável hoje, num showbiz tão viciado no chamado “media training”. Das brigas aos momentos prosaicos de convivência, está tudo exposto em imagens que ganharam cores e definição assombrosas ao serem restauradas em alta resolução — o som foi remasterizado com auxílio de inteligência artificial.
As composições lapidares do maestro Tom Jobim, como a inescapável Águas de Março, com suas harmonias e escalas desconcertantes, mas dotadas de singela naturalidade, encontraram a interpretação perfeita na voz de Elis — que chegou ao estúdio de Los Angeles como uma virtuose conhecida por seu gogó potente, e saiu convertida às sutilezas e contenções da bossa minimalista de Jobim. “Foi um monte de raio caindo no mesmo lugar”, resume João Marcello Bôscoli, filho mais velho de Elis.