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O Som e a Fúria

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Como o Rock in Rio se tornou o túmulo do rock

Desde 2011, quando o festival passou a ser realizado bienalmente, o público reclama da falta de rock no evento

Por Felipe Branco Cruz Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 29 out 2024, 11h22 - Publicado em 22 jun 2022, 14h37

A cada dois anos, sempre que as atrações do Rock in Rio são anunciadas, uma parcela dos fãs reclama que o festival carioca não é mais de rock, como diz seu nome. E eles estão certos. Desde 2011, quando o evento passou a ser realizado bienalmente, o Rock in Rio já apresentou de tudo — e de vez em quando rola rock. O fato é que o evento que ocorre em Jacarepaguá, num lugar – veja só – chamado de Cidade do Rock, é, na verdade, um parque de diversões e um espaço para grandes marcas se exibirem do que um festival roqueiro.

Lá em 1985, quando rolou a primeira edição, o Brasil era carente de grandes shows internacionais e Roberto Medina, um publicitário, queria trazer para o país atrações de peso. O nome do evento tinha de explicar para um público jovem saindo da ditadura militar, e em poucas palavras, que ali encontraria liberdade, diversão e alguma rebeldia. Rock in Rio era um título perfeito.

Atualmente, entre os organizadores, o nome do festival e a polêmica a respeito das atrações já é algo superado. Tanto que, por lá já se apresentaram Anitta, Ivete Sangalo, Sandy e Junior, Beyoncé, Katy Perry, Rihanna etc. A lista vai longe. Neste ano, é a mesma coisa: Justin Bieber, Demi Lovato, Iza, Camila Cabello, Dua Lipa e até Djavan estão no line-up. Para os fãs de rock, os nomes anunciados soam como mais do mesmo: Iron Maiden, Sepultura, Guns N’ Roses e Capital Inicial – que já se apresentaram várias vezes no festival. Roberto Medina já explicou em entrevistas anteriores que a escolha de atrações repetidas como Iron Maiden, por exemplo, ocorre porque existem pouquíssimas bandas no mundo com a capacidade de atrair mais de 100.000 pessoas para o festival. O dólar em alta é ainda um elemento a se levar em conta na hora de fechar com bandas gringas.

Outra razão para a escolha de nomes repetidos é a de que o Rock in Rio, há anos, não é mais um festival de música e, sim, um evento onde as pessoas vão para fazer de tudo, inclusive ouvir música e tirar selfies dizendo: “Eu fui”. Daí, não há tanta razão assim para investir em nomes novos ou apostar em artistas revelações que não atraem tantas pessoas. É por causa disso, por exemplo, que o festival consegue vender ingressos antecipados mesmo antes de anunciar todas as atrações.

Comparado a outros festivais do mundo, o Rock in Rio é, como diz a gíria, o mais “coxinha”. Bem organizado, é um dos poucos com banheiros de alvenaria, espaço amplo e qualidade de som. A lama típica de festivais de música foi coberta pelo evento desde 2013. O transporte, que até 2015 era o Calcanhar de Aquiles, foi resolvido após os Jogos Olímpicos com a chegada do metrô na Barra da Tijuca e a criação de linhas de ônibus exclusivas para a Cidade do Rock. Tanta comodidade deixa o “rock” no nome ainda mais ultrapassado. O nome do festival causou outros constrangimentos também em sua internacionalização. A edição portuguesa, por exemplo, bizarramente se chama Rock in Rio Lisboa – o que acaba causando uma dupla confusão: não há rock nem Rio de Janeiro por lá.

No ano que vem, os organizadores do festival irão realizar uma edição na capital paulista — sem tanto rock, muito menos o calor do Rio. Felizmente, o novo festival – que terá a mesma estrutura do fluminense – se chamará apenas The Town. Eis um nome fácil de guardar e que poderá ser internacionalizado facilmente, tal como os principais festivais do mundo que já vieram para o Brasil, como o americano Lollapalooza e o catalão Primavera Sound. E o rock, enfim, poderá ser deixado em paz.

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