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O Som e a Fúria

Por Felipe Branco Cruz
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Cat Power conta por que parou de cantar música sobre desejo de morrer

A cantora americana é uma das atrações do festival Popload e em entrevista a VEJA falou também sobre a importância da saúde mental

Por Felipe Branco Cruz Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 12 out 2022, 09h00

A cantora americana Cat Power (nome artístico de Chan Marshall) conhece o Brasil muito bem. Alguns anos atrás, ela chegou a morar no Rio de Janeiro e se não fosse por um amigo que se mudou para Portugal, ela afirma que teria ficado aqui para sempre. “Minha vida teria sido completamente diferente”, diz em entrevista a VEJA. Ela volta ao Brasil nesta quarta-feira, 12, para se apresentar no festival Popload, em São Paulo. Também tocam por lá Jup do Bairro, Perotá Chingó, Fresno & Pitty, Chet Faker, Jack White e Pixies.

No repertório, além dos clássicos da carreira, ela deverá interpretar alguns dos covers que gravou em seu último álbum, de artistas tão variados como Frank Ocean, com Bad Religion, a Nico, com a These Days. Na conversa com VEJA, a cantora lembrou com carinho dos momentos que passou no Brasil e falou ainda sobre saúde mental. Leia a seguir os principais trechos:

Você já veio várias vezes para o Brasil. Que lembranças guarda do país? São tantas memórias. Tudo gira em torno da comida. Os botecos com seus velhos azulejos. Os pequenos clubes, quentes e suados. Os batuques selvagens. A carne de porco. As plantas e toda a vegetação, com seus inúmeros tipos de pássaros. As pessoas, com suas cores, tons de peles e seus olhos. A arquitetura. Enfim: a música, as pessoas, a comida, os sorrisos, os corações abertos e a dança. 

Quantas lembranças boas! Alguns anos atrás, você disse ter composto uma música sobre o período que morou no Rio de Janeiro. O que aconteceu com a música? Eu gravei em uma fita cassete, mas perdi. Eu não lembro mais a letra. Lembro um pouco do piano. Me mudei para o Rio de Janeiro uns 20 anos atrás. Economizei uns 25 mil dólares, o que não era muito dinheiro – mas era muito dinheiro para mim. Eu estava procurando um lugar para morar em Santa Tereza. Aquela é a minha área favorita no Rio. Lembro dos bondes. Queria morar lá no alto! Encontrei umas casas para comprar, mas elas estavam velhas, com os azulejos originais, os santos de porcelana, os banheiros, as persianas, os vidros, tudo original, mas decrépito, com vegetação invadindo a casa. Mas era lindo, tipo colonial. E custava uma fortuna, tipo 100.000 dólares. O único amigo que eu tinha naquela época mudou-se para Portugal e eu fiquei, tipo: “vou viver de quê?”. Eu teria vivido em um desses casarões fantasmas, só com os animais. Tipo como a Frida Kahlo gostaria. Minha vida inteira teria sido diferente. Então, decidi me mudar para a Cidade do México e depois segui para Miami. Estou lá esse tempo todo. 

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Suas músicas e letras são tão passionais e honestas como você. Billie Eilish, Lorde e Lana Del Rey já disseram que foram influenciadas por sua música. O que acha delas? Na história da arte em geral, seja poesia, dança, cinema, pintura, até mesmo a vida cotidiana, você tem seus favoritos. Um dos meus trabalhos favoritos foi de garçonete, me certificando de tirar cada pedacinho de sujeira do caminho. Eu poderia esfregar o chão e depois secá-lo, mas eu não sou do tipo budista. Tem uma parte de mim que nunca se conformou com as coisas tradicionais. Entendo que eu possa ter influenciado alguém aqui e ali e acredito que faz parte passar o bastão para as próximas artistas. Sinto que todos os artistas que vieram antes de mim, também passaram todos aqueles bastões uns pelos outros. Isso é parte da humanidade e faz parte de nossa criatividade. Acho muito normal você encontrar inspiração de tantas maneiras diferentes, diariamente. 

Por outro lado, em seu último álbum de covers, você canta hits de Iggy Pop, Nico e Nick Cave. Você sente que recebeu o bastão deles também? Eu geralmente gravo covers das músicas que toco ao vivo em meus shows, mas para esse disco, eu queria fazer algo diferente, com pessoas que nunca haviam gravado álbuns comigo antes.

Você fez uma nova versão da sua música Hate com uma nova letra e que agora se chama Unhate. Por que? Eu estava na África e não sabia que estava grávida. Não estava me sentindo bem e pensei que uma doença autoimune que eu tive, tinha voltado. Eu pensei estar doente e que estava morrendo. E lá na África, após as turnês, eu saía com os sul-africanos perguntando de qual região eles eram e de quais tribos. Muitos viajavam de lugares distantes para conseguir um emprego. Falamos sobre o quanto eles eram pagos. E eles ganhavam muito mal e aquilo parte seu coração. Daí, eu ia cantar Hate, que fala sobre desistir, sobre morrer. Olhei para eles e pensei que não poderia cantar aquilo. Voltei para os Estados Unidos e descobri estar grávida. Com uma alma dentro de mim, resolvi mudar a letra da música. Nunca, jamais, eu voltaria a cantar uma música sobre acabar comigo mesma, porque sou grata pela minha vida e pelo que conquistei como mulher. Então, sim, vou cantar que vai ficar tudo bem. Está tudo errado, mas você vai conseguir enfrentar qualquer coisa. 

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Em sua vida, você já disse que enfrentou uma série de problemas de saúde mental. Como lidou e ainda lida com eles? Comecei a minha carreira cantando de costas para a plateia, olhando para o chão, com o rosto escondido pelo cabelo. Eu estava realmente sofrendo com a minha saúde mental. Eu não tinha feito terapia. Nem sabia o que eu tinha ou sentia. Hoje, há tanta conscientização sobre saúde mental e essas coisas. O jeito que eu comecei a cantar, ao vivo, não era por dinheiro. Eu cantava pela minha sobrevivência e para fazer o que amo. Foi isso que senti o que tinha que fazer.

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