João Gilberto viveu 88 anos com música nas veias. Morto em 2019, o cantor proporcionou ao mundo 12 álbuns ainda em vida, lançados entre 1962 e 2016, com os quais reinventou a Bossa Nova, a relançando a nível global — até hoje, é o único brasileiro a ter vencido a categoria de Álbum do Ano na premiação americana do Grammy, por Getz/Gilberto. Quem achava, no entanto, que seu catálogo de gravações havia chegado ao fim, se enganou: o Selo Sesc disponibiliza nesta quarta-feira, 5, o disco João Gilberto (ao vivo no Sesc 1998), recuperado e remasterizado dos arquivos da instituição. Nele, o público encontra a inédita faixa Rei Sem Coroa, já apresentada nos palcos, mas nunca gravada em estúdio pelo mestre.
O lançamento é resultado do projeto Relicário, que escolheu o show de Gilberto como seu pontapé. Este é o primeiro disco de uma série de resgates do acervo da instituição, que recebeu alguns dos artistas mais importantes à formação musical do país ao longo das décadas de 1970, 1980 e 1990. Os álbuns inéditos ficam disponíveis com exclusividade na plataforma do Sesc Digital, onde serão disponibilizados também textos, vídeos, fotografias e material publicitário da época (como folhetos, cartazes e notícias), a fim de detalhar o contexto histórico das apresentações.
A canção Rei Sem Coroa, no entanto, pode ser acessada também nas plataformas de streaming. Escrita por Herivelto Martins e Waldemar Ressurreição, a faixa é inspirada no rei Carlos II, da Romênia, que transformou o Copacabana Palace em seu lar após ser expulso do trono durante a Segunda Guerra Mundial, em 1940. Na gravação inédita, Gilberto encarna as palavras com a languidez característica de seus vocais e o som do violão que o acompanhava no palco.
O álbum conta com 36 faixas que, juntas, chegam à duração de quase 2 horas. Cantando e alterando ao vivo composições de Tom Jobim, Dorival Caymmi, Ary Barroso e outros — além de uma própria, Um Abraço no Bonfá —, João Gilberto foi um dos primeiros artistas a se apresentar no Sesc Vila Mariana, em turnê comemorativa aos 40 anos da Bossa Nova. Segundo Danilo Santos de Miranda, diretor do Sesc, em comunicado oficial, “o lançamento do álbum reforça o compromisso institucional com a valorização do patrimônio imaterial do país e com a democratização do acesso aos bens culturais”.