É inevitável temer pelo empobrecimento intelectual de um movimento que nasceu necessário e, depois de uma longeva fase de coitadismo, está se transformando em tirania. Quanto mais se observam as ações organizadas pelos coletivos feministas universitários, mais vigora a certeza de que falta às militantes um mínimo de coerência e embasamento teórico.
Em muitas universidades americanas — e algumas brasileiras — grupos de estudantes estão elaborando listas de colegas e professores que possuem comportamentos machistas em potencial. Eles “ainda” não fizeram nada, não ofenderam ninguém e não impuseram o seu poder fálico e avassalador, mas o simples fato de corresponderem a certos estereótipos passou a representar uma ameaça digna de vigilância.
Esse policiamento histérico, é óbvio, tem muito mais a ver com um desejo autoritário do que com um sonho legítimo de igualdade.
O feminismo nasceu como um conjunto de discursos contrários aos preconceitos que a sociedade cristalizou sobre a figura da mulher. Por pura falta de leitura, está regredindo a um receituário de dogmas quase religiosos. Há as sacerdotisas oportunistas, os demônios masculinos e as devotas que professam a sua fé pela repetição mesmerizada de slogans e palavras de ordem.
O resultado disso é uma perseguição que não recai apenas sobre os homens, mas também sobre as mulheres que não rezam pelo catecismo da nova religião. Segundo as militantes mais afoitas, se você é mulher e se veste com discrição, está negando o seu corpo e a sua própria sexualidade. Se, por outro lado, se veste com mais ousadia, então está se submetendo aos deleites do lascivo olhar masculino…
A única conclusão a que se pode chegar é que muitas das feministas de hoje estão agindo com um moralismo semelhante ao professado antigamente pelas religiões. Com o aval das famílias, os padres e as freiras sempre tinham regras para ditar sobre as palavras, o vestuário e o comportamento das mulheres.
A leitura é a melhor maneira de impedir que o feminismo se consolide como um novo instrumento de opressão. Um bom preparo intelectual faria com que muitas militantes deixassem de adotar atitudes fascistas que nada têm a ver com o nosso tempo.
Os livros de Camille Paglia podem ser um bom começo. Teórica americana que participou das marchas dos anos 1960 e 70, hoje, sem abandonar a defesa da mulher, ela se dedica a uma inteligente revisão dos erros e dos excessos do movimento que ajudou a popularizar.