25.12.2007
Acordaram-me, hoje, mais cedo do que eu gostaria com a notícia de que foi detectada uma bactéria de origem desconhecida na maternidade onde Sofia dará à luz à Luana a qualquer momento.
Para ser mais preciso: a existência da bactéria ainda não passa de uma suspeita. E se a bactéria de fato existir, ela ameaça, por ora, parte do berçário da UTI neonatal da maternidade.
Longe de mim estragar a reputação de uma maternidade devido a uma mera suspeita que, de resto, poderá se dissipar nos próximos dias. Por isso não revelo seu nome.
Tudo bem: eu poderia argumentar que Luana só deverá nascer em meados de janeiro. Que até lá o fantasma da bactéria terá sido exorcizado – ou a própria bactéria. E que nada indica que Luana precisará dos cuidados de uma UTI neonatal.
Mas quem estaria disposto a me ouvir? Rebeca? Não, claro que não.
Sofia? Muito menos. Foi uma amiga dela, enfermeira da maternidade, que durante a brincadeira de amigo oculto na noite de Natal falou a respeito da bactéria suspeita ou da suspeita de bactéria.
Anita, mãe de Rebeca, essa é a mais tranquila da trinca de mulheres reunidas neste momento no terraço aqui de casa. Seria capaz de ouvir minhas ponderações e de me dar razão.
Mas Rebeca e Sofia não levam Anita a sério quando discutem sobre parto e criação de filhos – afinal, Anita tem 78 anos de idade. É do tempo de parteiras e de fraldas de pano.
Duas experientes amigas de Rebeca foram convocadas para participar da reunião. Tanise acaba de chegar e reforçou as preocupações de Rebeca e Sofia.
Consultada há pouco, a médica de Sofia prometeu se informar sobre a bactéria.
– Quem viu a bactéria? – caí na bobagem de perguntar assim sem mais nem menos.
– Viu? Viu como? – devolveu Rebeca indignada. “Você não leva nada a sério”.
– Como você é ignorante, pai – constatou Sofia desolada. “Bactéria é invisível. Ela fica no ar”.
Acho que estou meio sonado. A pergunta não fazia sentido.
Por instantes imaginei que a bactéria teria a forma de uma barata, um pernilongo, um pequeno inseto identificável a olho nu. E que bastaria procurá-la armado com um chinelo.
De todo modo, Rebeca tem um plano B e outro C caso a suspeita de bactéria vire uma bactéria de verdade.
Duas outras maternidades recomendadas pela médica foram rigorosamente inspecionadas por Rebeca nos últimos 15 dias. Uma fica em um ponto mais distante da cidade, o que dificultará o acesso dos amigos – e Rebeca espera um número considerável deles para cumprimentá-la tão logo corra a notícia de que Luana nasceu.
A outra maternidade tem apartamentos pequenos. Neles só cabem a cama da parturiente e um sofá desconfortável.
E onde dormirá Vitor, marido de Sofia? Porque o sofá já tem dono (a).