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O governo, praticamente morto, lerdo e inoperante, finge que não foi avisado que uma paralisação gigantesca estava sendo articulada

Por Mirian Guaraciaba
Atualizado em 29 Maio 2018, 14h00 - Publicado em 29 Maio 2018, 14h00

Pedro Parente deve estar com seus poucos cabelos em pé. Nem é pela paralisação dos caminhoneiros, onde não foi causa, mas estopim de bom calibre. O CEO da Petrobras foi apontado minimamente como gestor temeráro por reportagem publicada nesse final de semana, pela revista eletrônica Crusoé. Justo ele que chegou com pompa e circunstância para por ordem na casa.

Conta o repórter Filipe Coutinho que, num gesto de benevolência, Parente adiantou pagamento de R$ 2 bilhões ao banco JP Morgan por um empréstimo que só venceria daqui a 4 anos. Detalhe: no Brasil, o JP Morgan é presidido por José Berenguer, sócio de Parente numa empresa de investimentos. O Presidente da Petrobras não viu conflito de interesses na operação. Também não viu ao assumir em abril ultimo a presidência do conselho da BRF, juntamente com Petrobras, servindo a dois senhores ao mesmo tempo.

A distração de Parente com tantas demandas – a Petrobras sozinha já tira o sono – não o impediu que colocasse em prática uma politica de preços que vai muito bem, obrigada, num país de primeiro mundo. Com reajustes quase diários, Parente pôs fermento numa nefasta mistura que explodiu nas estradas brasileiras, penalizando todo o país nos últimos nove dias. Finge a companhia que não explora, vende e compra petróleo num país social e economicamente debilitado.

O governo, praticamente morto, lerdo e inoperante, finge que não foi avisado, há meses, que uma paralisação gigantesca estava sendo articulada para maio. Nada fez para minimizar estragos anunciados. E os caminhoneiros, numa greve com muitos e variados comandos, e interesses espúrios de empresários, pararam o país.

Caminhoneiros merecem todo nosso respeito. Mas, em sã consciência, dificil defender uma greve que maltrata a população, e vai ao extremo. Aos poucos, vão perder o apoio do trabalhador e da sociedade que se solidarizam com sua rotina pesada, muitas vezes insana, e sempre mal paga.

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Não se trata da primeira paralisação da categoria no País. Em 2015, foram três. Cunho político claro e declarado. Pediam nas estradas “Fora Dilma”. Hoje, mostram sua força sem medo. Bloqueiam rodovias, impedem a saída de caminhões tanque das refinarias, encaram o Exército nas ruas. Por trás das tropas, o governo mostra-se acuado, pequeno, como sempre foi. A Petrobras, esquisofrênica entre o público e o privado, está sendo obrigada a rever sua política de preços. Já há movimento, entre partidários de Temer, de “Fora Parente”.

Como em 2015, a política de novo se mistura ao movimento. Candidato de extrema direita quer ver o circo pegar fogo e defende a manutenção da greve. A esquerda, sofrida com seu líder máximo preso, não admite criticar os caminhoneiros. O centro quer faturar com a fragilidade do presidente da Petrobras. Desastre anunciado. Na certa. E a conta, mais uma vez, será paga pelos contribuintes. Com tantas outras dezenas de contas que já pagamos, se beneficiar de alguma forma os caminhoneiros, que venha mais essa. ​

 

Mirian Guaraciaba é jornalista, paulista, brasiliense de coração, apaixonada pelo Rio de Janeiro 

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